sexta-feira, 1 de maio de 2015

Devastação pela incompetência

A presidente da nação completa 120 dias do seu segundo mandato, ainda sob o peso da sua grave falha, que pode ser denominada de “governocídio”, por não ter combinado com o eleitor, por ocasião da campanha eleitoral, que havia urgente necessidade de ajustes na economia.
Não é novidade que os governos precisem promover, quando necessários, ajustes nas políticas econômica e fiscal, mas também é verdade que os políticos não são lá muito de cumprir promessas de campanha, embora isso seja negação aos princípios da verdade e da honestidade, que deveriam ser observados nos países minimamente civilizados.
No caso da petista, a maionese desandou de vez, em especial porque os fatos graves da crise agora revelada nas entranhas do governo deixaram a presidente desmoralizada, ante a dureza como ela garantia, na campanha eleitoral, que o país se encontrava às mil maravilhas, com a rigidez no controle das contas públicas, do dragão da inflação, das taxas de juros, dos preços administrados pelo governo, como combustíveis, energia elétrica, tributos etc.
Na campanha à reeleição, havia as promessas de governo de mudanças em benefício da sociedade e do combate à corrupção, mas até agora o quadro é bastante desanimador, porque a mudança foi para o agravamento das crises político-administrativas, com o recrudescimento dos fatos relacionados à corrupção, que tornaram ainda mais prejudiciais à gestão petista, pelas explicitações dos fatos generalizados nos meios de comunicação, com a exposição inclusive do reconhecimento oficializado pela Petrobras, com o registro no seu balanço do prejuízo decorrente da corrupção, demonstrando o expressivo desvio de mais de R$ 6 bilhões de roubalheiras por meio do escândalo do petrolão.
Ou seja, houve a constatação da existência de indiscutível esquema de corrupção na administração do país, irregularidades essas que passaram a ser banalizadas, ante a sua intensificação, nas redes sociais, as quais contribuíram para a degeneração das atividades políticas e administrativas do país, evidenciando o momento brasileiro de fragmentação moral e de desconfiança sobre o porvir do governo, que contribuiu em muito para tanto, ante a omissão sobre a real situação econômica do país e as medidas que foram adotadas com vistas ao conserto das desastradas políticas governamentais da primeira gestão do atual governo.
Para a surpresa dos brasileiros, a presidente, já reeleita e antes de tomar posse para o segundo mandato, disse o que havia negado na campanha, que tempos difíceis estavam por vir, com o anúncio, em seguida, da restrição de acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, com a alteração de direitos conquistados pelos trabalhadores, associados com aumento da tarifa de luz, dos preços da gasolina, da passagem de ônibus, de tributos etc.
Tudo isso foi omitido na campanha para não lhe custar a reeleição, conquanto seja sabido que o desgaste do processo político se engrandece quando o debate é feito às claras, sem mentiras ou omissões, para se evitar que a sociedade venha mais tarde expressar sua insatisfação e seu desencanto, como acontece justamente agora, com a brusca e vertiginosa queda da popularidade da presidente, fato esse que poderia não estar ocorrendo se ela tivesse sido reeleita observado o pacto da sinceridade e da verdade sobre a real situação econômica do país, que obrigariam os inevitáveis ajustes promovidos pelo governo.
Como se sabe, o princípio da dignidade política é construção de berço histórico e o resultado das práticas dela decorrentes somente será satisfatório se ele realmente for observado, a exemplo do memorável e famoso momento do discurso proferido pelo então primeiro ministro da Inglaterra, Winston Churchill, logo após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1940, quando ele disse aos ingleses que nada tinha a oferecer-lhes “senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”, expressão essa que foi capaz de contribuir para o encorajamento da nação, que se tornou, em pouco tempo, grande potência econômica, apesar dos estragos causados pela devastadora guerra.
É evidente que o Brasil não foi devastado senão pela incompetência e ineficiência da gestão administrativa, mas à falta de sinceridade, de verdade, em contraposição aos consagrados princípios da dignidade e honestidade políticos, ignorados na campanha eleitoral, por não ter sido anunciado exatamente o que os brasileiros seriam obrigados a encarar, contribuiu certamente para o desânimo da população para o enfrentamento das dificuldades nos anos de 2015 e 2016, com relação aos cortes de gastos, aperto financeiro, economia retraída, desemprego, redução de renda, diminuição de arrecadação, falta de investimentos em obras, desindustrialização etc., ou seja, sangue, suor e lágrimas exigidos dos brasileiros, que não foram devidamente preparados para esse inevitável sacrifício.
Na campanha eleitoral, a verdade foi omitida exatamente com relação ao que a presidente seria obrigada a fazer quando reeleita, mas ela foi muito bem preparada para dizer as possíveis maldades que seriam protagonizadas por seus adversários, caso eles fossem eleitos, em demonstração de clara inobservância dos princípios da dignidade e da quebra da ética política.
É evidente que uma situação ou outra não corresponde, em absoluto, à verdade dos fatos factíveis, porque isso patenteia forma de errática manipulação dos fatos, obviamente com a finalidade de se ganhar a eleição, o que não é correto diante da necessidade de os homens públicos terem a obrigação de observar com rigor os princípios da dignidade, civilidade, ética e moralidade, mesmo que esteja em risco o pleito eleitoral que participem.
No caso em comento, ficou bastante evidenciado que, além de não haver sido informado os eleitores que seriam adotadas medidas duras com implicação no sacrifício da população, notadamente quanto ao altíssimo aumento das contas de luz, o caso se torna ainda mais grave pela tentativa de destruição da reputação de opositores perante o eleitorado, quando se afirmavam, com frequência e veemência, que eles seriam capazes de promover descontrolado aumento nas contas sob a administração do governo, inclusive criando tributos, enquanto a candidata oficial apenas iria melhorar a vida dos brasileiros, com mais mudanças em benefício social, fato este realmente não materializado.
Não obstante, a caneta presidencial pesou nos aumentos das contas da energia elétrica e dos preços dos combustíveis, além do aumento de tributos e da retirada de direitos conquistados por trabalhadores, sob o argumento da necessidade de ajustes econômicos, que foram omitidos por ela na campanha presidencial.
Ou seja, sem o menor pudor, o governo contrariou não somente o compromisso de campanha, mas também o seu partido e a sua base de sustentação política, que não conseguem engolir a seco a quebra da palavra da candidata oficial.
Muitos especialistas em política entendem que a atitude da presidente petista representa verdadeiro estelionato político, por não haver consonância com as promessas de campanha com as atitudes concretas dela no exercício do cargo, notadamente quando as medidas exigem mais sacrifícios da população, que já não suportava tanto arrocho e as precariedades pertinentes à prestação dos serviços públicos e, principalmente, à execução das políticas econômicas, ante os desastres demonstrados pelos seus indicadores, que levaram o país à triste realidade da recessão, inclusive sem perspectivas, em curto prazo, de retorno aos trilhos do desenvolvimento.
Não há dúvida de que as medidas adotadas de ajustes fiscal e econômico causaram, principalmente à população, enormes insatisfações, a qual vem se manifestando em explícita demonstração de desagravo quanto à falta de sinceridade de quem tem o dever constitucional de ser a primeira pessoa - que à época era também mandatária da nação - a dar o bom exemplo de dignidade no cumprimento de suas palavras, inclusive aquelas pronunciadas ou não ditas na campanha eleitoral, como parte ínsita do indispensável aperfeiçoamento do consagrado princípio democrático. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de maio de 2015

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