Com
a eleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o
Congresso Nacional, os titulares podem ter vestido os figurinos preparados pelo
presidente da República, porém sob estratégia de altos investimentos, com o uso
de bilhões de reais, na forma da mais despudorada
farra envolvendo distribuição de cargos
e emendas parlamentares à luz solar, em clara subserviência ao modelo
fisiológico nada republicano.
Em
reunião com parlamentares apoiadores, antes da citada eleição, na residência
oficial do Palácio da Alvorada, o presidente do país declarou à imprensa: "Viemos
fazer uma reunião com 30 parlamentares do PSL e vamos, se Deus quiser,
participar, influir na presidência da Câmara com esses parlamentares, de modo
que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil".
Ou
seja, sem o menor pudor, o presidente brasileiro disse que ia sim influenciar
na escolha do mandatário da Câmara, algo absolutamente insensato para quem
comanda outro poder da República, que, por ética, nem deveria discutir sobre o
tema, por não ser da sua competência institucional, quanto mais interferir na consciência
dos parlamentares eleitores, como fez, com a compra de votos, como mostraram os
fatos, à saciedade.
Os
cálculos dos gastos públicos indevidos são estimados em R$ 3 bilhões em emendas
“extras”, totalizando R$ 20 bilhões compromissados com as “costuras” e negociatas
bem sucedidas nas Câmaras Alta e Baixa do Congresso, com o que foi possível o
apoio que se precisava para emplacar candidatos apadrinhados pelo governo, que
foram escolhidos a dedo, tendo ainda a garantia do abafa sobre qualquer das
mais de seis dezenas de pedidos de abertura de processo de impeachment contra o
afastamento do cargo presidencial.
Nessa
inteligente manobra de submissão do Parlamento
ao vil servilismo palaciano, o presidente expôs às claras e assumindo o cristalino
estelionato eleitoral, ao revés das promessas defendidas na campanha eleitoral,
quando não se falava em outra coisa senão no ferrenho combate à corrupção, ao
toma lá dá cá, que, a propósito, o presidente tanto criticava e com bastante
veemência.
O
presidente, com a sua indiscutível interferência no citado processo eleitoral
do Congresso, precisamente em poder autônomo e independente, diferente do Executivo,
ou seja, em indiscutível atitude irregular, deixa patente que os sábios eleitores
que votaram nele, acreditando nas promessas do novo e valente paladino da
moralidade, foram enganados e isso tem o nome real de estelionato eleitoral, quando
ele revela o verdadeiro pendor para o mesmo sentimento dos velhos políticos,
afeitos às maracutaias tais quais as suas incursões nas hostes do Congresso, por
ser seara estranha ao cargo para o qual ele foi eleito sob falando em tudo sobre
ética e moralidade.
É
curioso não se ter conhecimento de que, nas negociatas envolvendo cargos e
recursos públicos, tenha havido discussão sobre planos e metas de governo,
gestão pública, princípios, projetos ou cousa que o valha, senão a simples
cooptação da consciência daqueles que aceitaram o que se denomina de prática
fisiológica, para ficar ao lado do governo, não importando o preço da fatura, para
trazê-los para a causa do poder, que passou a ser chamada sabiamente de
governabilidade, com o carimbo da imoralidade, eis que não teria havido perfeita
união sem o famoso e recriminável “jeitinho” brasileiro.
Nem
foi preciso o emprego de disfarces, porque as indecorosas conversas foram abertas
e às claras entre o governo e os parlamentares, que se uniram nos anseios e objetivos
comuns de se satisfazerem mutuamente, na confirmação de sólida e perfeita opção
pelo que há de mais venal nas relações institucionais entre Executivo e
Legislativo.
Como
não poderia ser diferente, o presidente do país era só sorriso à boca larga, por
ter alcançado quase que de forma miraculoso o objetivo da submissão, da colocação
sob seus pés, de joelhos, muitos congressistas, como se vassalos fossem do
soberano, evidentemente às custas de régio pagamento que somente envergonha a República,
que ficou bem menor ainda diante disso, em termos de dignidade, que não resiste
à sanha da ambição dos homens de atrofiada consciência cívica, patriótica e
política.
Todo
esse arcabouço construído para a eleição dos citados presidentes tem a viva e
efetiva participação, pasmem, do Centrão, tudo ao gosto e aos propósitos do famoso
grupo político, por suas práticas fisiológicas e que se junta orgulhosamente ao
governo, cujo comandante até há pouco tempo o criticava por seus métodos
próprios da velha política, sempre na garantia de que ambos jamais se sentariam
na mesma mesa, mas os tempos mudaram como se transforma a posição das nuvens, muito
instantaneamente, tendo como ingredientes a conveniência e o interesse pessoais,
voltados para a manutenção no poder e não somente isso, porque acima das causas
nacionais e dos princípios da moralidade e da dignidade na administração pública
está a sonhada reeleição, palavra mágica que corrompe e desmoraliza os homens
públicos desbotados moralmente pela perda da decência.
Não
será surpresa, como já vem acontecendo, que o grupo disforme de excelentes oportunistas
do Legislativo há de cobrar a fatura sob preço bem caro e o governo tem
consciência sobre isso, porque ele sabe que a sua alma foi entregue ao diabo,
que não dispensa descumprimento dos compromissos perante o grupo, sempre atento
ao acordo firmada com o governo, que agora se digna a entregar ministérios, de porteira
fechada para o Centrão, que era algo imaginável até há pouco tempo, mas as
circunstâncias permitem se pensar diferente, evidentemente para o bem pessoal,
em detrimento dos interesses nacionais.
A
propósito, convém trazer à lume importante mensagem do então candidato à
Presidência da República, vazada nestes termos: “Nenhum presidente é maior
do quer o seu ministério. O segredo para bem administrar o Brasil é você botar
as pessoas certas nos ministérios certos. O que vem sendo feito ao longo dos
últimos anos? O presidente indica os seus ministros de acordo com interesses
político-partidários. Tem tudo para não dar certo. Qual é a nossa proposta: é
indicar as pessoas certas para os ministérios certos. Por isso, não integramos
o Centrão. Tampouco estamos na esquerda de sempre. Vamos escalar as pessoas
certas, porque assim você poderá, de verdade, ter saúde, educação e
segurança.”.
Ou
seja, se mantido esse entendimento na atualidade, já se sabe o resultado do
conchavo perpetrado com as negociatas com parlamentares, que envolvem a entrega
de ministérios ao Centrão.
Causa
enorme perplexidade o fato de o presidente do país ter se aliado como parceiro
privilegiado, o presidente da Câmara, que responde a inquéritos sobre suspeita
de improbidade administrativa e outros crimes, mas mesmo assim nada impediu que
o poder fosse loteado, para que ambos se colocassem no mesmo barco e remassem
na mesma direção, em que pese essa estranha união não se conformar com o
sentimento de pureza moral do candidato presidencial, que chegava a babar
quando se referia aos princípios da moralidade e da dignidade na vida pública.
Nas
negociatas, entraram o compartilhamento dos ministérios entre participantes do
Centrão, que terá as suas capitanias hereditárias nas Explanada dos Ministérios,
com a criação do instituto do arrendamento da máquina pública, fazendo com que
a coordenação das políticas públicas seja dividida e esfacelada, diante da impossibilidade
de o presidente poder mandar no órgão que esteja sob o comando do Centrão, que passará
a ter competência para indicar o seu titular e impor as políticas que bem
entender na área da sua competência, sem a interferência da pessoa que foi
eleita exatamente para comandar a máquina pública, que perderá a unidade de comando,
coordenação e direção.
A
ambiciosa e ansiada promessa de diminuição dos ministérios também vai para o
espaço sideral, porque novos ministérios vão aparecer logo em breve, para
satisfazer a sanha de poder do Centrão, fato que vai também contrariar mais uma
promessa de campanha, quando o candidato reclamava, indignado, que os cargos no
poder eram criados e entregues para aparelhar o sistema.
O
pior é que tudo isso está muito prestes a acontecer, precisamente para
satisfazer aos termos das negociatas com o Centrão, em claríssima confirmação da
falta de palavra presidencial, que se mostrava ser a pessoa mais sensata do
planeta e fez ser acreditado por muitos eleitores, que continuam com a mesma
mentalidade de achar que tudo isso é normal, embora muitos atos do presidente estejam
na contramão das suas afirmações de campanha, bem assentada em princípios da
ética e da moralidade.
O
desejo do candidato era ter a Esplanada dos Ministérios com, no máximo, 15
pastas, em conformidade com a meta de campanha tendo por ideia de que “vou
criar uma estrutura enxuta”, mas já começou o governo com 22 e depois 23, e
outros virão, em torno de mais três, tudo desnecessário, com a criação de mais
despesas, nada importando, nesse particular, porque eles devem fazer parte do
ajuste embutido nas negociatas em apreço, que são muito mais importantes do que
a austeridade na gestão dos recursos públicos.
Além
dos novos ministérios, é natural que surjam, por óbvio, milhares de cargos extras
para o azeitamento do funcionamento das repartições que são necessárias para a colocação
dos apaniguados dos políticos do Centrão, os quais são absolutamente dispensáveis
para o serviço público.
À
toda evidência, é notória falta de recursos para o Auxílio Emergencial, o Bolsa
Família e muitos compromissos de incumbência prioritária do Estado, mas já
foram liberados valores equivalentes a R$ 3 bilhões das emendas “extras” para
satisfazer parlamentares eleitores, como forma de investimentos essenciais e urgentes,
para resolver situação de força maior e da maior importância pessoal do
presidente do país, que, por sua vez, não se sensibiliza com as carências da
população.
À
vista dos fatos, em especial com relação à interferência presidencial nos
destinos do Congresso Nacional, que teve o poder de decidir a escolha de seus
dirigentes, por meios visivelmente espúrios e imorais, em todos os sentidos, há
nítido sentimento de que adoradores fanáticos consideram essa patifaria não somente
normal, mas necessária ao sistema, nas circunstâncias, diante dos acalorados aplausos
e incentivos.
Nesse
caso, ninguém leva em conta que muitos atos do presidente contrariam não
somente os importantes princípios republicanos da moralidade e da dignidade,
mas em especial muitas das salutares promessas de campanha, que se tornam sagradas
e precisam ser fielmente observadas no exercício do cargo, à luz da seriedade contida
nas metas abonadas por meio do voto de cada eleitor, porquanto pensamento
diferente disso causa o que se evidencia verdadeiro estelionato eleitoral,
quando se desvia delas, por qualquer motivo, sem a devida justificativa
plausível, quanto mais no caso de prejuízo ao interesse público.
Por
certo que o Brasil, pela grandeza do seu povo e da sua economia, bem que merece
ser governado sob os princípios do bom senso, da racionalidade, da moralidade,
da dignidade, entre outros em que seus dirigentes devam manter acesas as
promessas perante o povo, não importando às suas consequências, diante do péssimo
sentimento prevalente quando elas são ignoradas por meras conveniências pessoais,
como vem acontecendo nos últimos governos, em que o interesse público tem sido
injustificadamente menosprezado e, o pior, com o beneplácito do povo, que
aceita conformado a continuada e abusiva deformação da estrutura do Estado.
Brasília,
em 12 de fevereiro de 2021
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