No
dia em que o Brasil registrou, pela primeira vez, mais de 4 mil mortes por causa
da Covid-19, em 24 horas, o presidente da República aproveitou o ensejo não
para lamentar o deplorável marco da saúde pública do país, mas para fazer críticas
às medidas restritivas adotadas por alguns estados para conter a transmissão da
doença, tendo se mostrado bastante irônico com o termo "genocida", que
tem sido utilizado por pessoas para a caracterização sobre a lastimável atuação
dele, no combate à pandemia.
Em
conversas com apoiadores que ficam na saída do Palácio do Planalto, o
presidente lembrou que seus críticos já o classificaram, no passado, como
homofóbico, racista, fascista e torturador, mas agora colocaram-no a alcunha de
“genocida”, cujo verbete tem como significado "o indivíduo que causa a
morte de grupo numeroso de pessoas, em pouco tempo.".
Em
ar de riso, o presidente disse: “Agora... agora é o quê? Agora eu sou aquele
que mata muita gente, como é que fala? Genocida! Agora eu sou genocida.”.
Ontem,
infelizmente, foram registrados no Brasil, pela primeira vez desde o início da
pandemia, 4.211 óbitos, em escala praticamente incontrolável de mortes.
A
verdade é que, desde o início de março último, o sistema de saúde do país se
aproxima do completo colapso, com pessoas morrendo sem conseguirem
transferência para leitos de terapia intensiva, cuja consequência natural é o
aumento de mortes precoces, ou seja, não tendo UTI, é inevitável o óbito, por falta
do preciso socorro, cuja situação se caracteriza como muito dolorosa e cruel.
Há
duas semanas, o Brasil atingiu outra marca trágica na pandemia, ao se
contabilizarem mais de 3 mil mortes em um único dia, algo que estarrece a
sensibilidade humana, enquanto nada de especial, de diferente do necessário,
ninguém tem a iniciativa de fazer, para, ao menos, demonstrar alguma forma de
sentimento humanitário, diante de inominável e horrorosa tragédia.
No
encontro com apoiadores, o presidente ouviu relatos de quem está em sintonia
com a postura do presidente durante a pandemia, quando ele somente vem se
especializando em críticas contra quem age diferentemente dele, desde o início
do surto do novo coronavírus, principalmente contra as medidas restritivas,
como o fechamento do comércio, por força do isolamento social, que é mecanismo
para se evitar aglomerações e contágio com o vírus.
Um
apoiador dele disse ser empresário do estado de São Paulo, tendo relatado as
dificuldades ocorridas após o decreto do governador, que suspendeu o
funcionamento de serviços não-essenciais, tendo por finalidade a tentativa de
segurar o aumento de casos de doença.
Aproveitando
o ensejo, o presidente criticou as medidas e ainda citou suposta pesquisa que
já compartilhou nas redes sociais dele, que indicam que aqueles que praticam
atividades físicas são oito vezes menos propensos a ter problemas causados pela
Covid-19.
Segundo
o presidente, “o isolamento poderia causar outros problemas piores que a
doença como, por exemplo, hipertensão.”.
De
acordo com o presidente, “Tem uma pesquisa recente, parece ser verdadeira,
que quem tem uma vida saudável, é oito vezes menos propenso a ter problemas com
a Covid. Quando você prende o cara em casa, duvido que não tenha aumentado um
pouco de peso. Até eu aumentei um pouco a barriga.”.
O
presidente do país afirmou ainda que “São Paulo é o estado que mais fecha o
comércio, mas que é o que tem o maior número de mortes proporcionalmente.”.
Não obstante, segundo a reportagem, a referida informação
é falsa, porque, em números absolutos, São Paulo tem o maior número de mortes
por coronavírus, mas não proporcionalmente, uma vez que o estado registrou 166
óbitos, por causa da Covid-19, em cada 100 mil habitantes.
Ocorre
que nove estados têm taxa maior de mortes do que São Paulo, segundo o sistema
MonitoraCovid, da Fiocruz, dando como exemplo os estados do Rio de Janeiro e do
Amazonas e do Distrito Federal.
Diante
da tragédia que somente se acentua, no dia a dia, a principal autoridade da República
ainda tem motivação para ficar fazendo comício com a desgraça que se abate
contra a população, que tem sido a marca do governo com relação à saúde pública,
que vem trabalhando muito acima do limite da sua capacidade operacional.
Não
tem o menor cabimento que alguém fique perdendo tempo para se justificar que
não seja genocida ou algo que o valha, porque isso é absolutamente dispensável,
exatamente porque a gravidade da situação falimentar exige que o presidente do
país e as principais autoridade do seu governo, que têm a primordial incumbência
de cuidar, intensa e severamente da saúde dos brasileiros, deveriam estar enfurnados
nos seus gabinetes trabalhando no maior afinco e esforço possíveis e impossíveis
na busca de urgentes alternativas, soluções e o que seja necessário para se
encontrar alguma medida capaz de, ao menos, frear imediatamente essa tragédia
humanitária, de alarmantes proporções.
Mesmo
que não se conseguisse absolutamente nada, diante das intransponíveis dificuldades
apresentados pela configuração da doença, com características extremamente
incontroláveis, mas o presidente e o seu governo teriam o respeito e o acatamento
dos brasileiros que pensam diferente dele, no sentido de que, ao menos, há
seriedade e dignidade perante situação que se exige não perder tempo com
gracejos e críticas que não levam a absolutamente nada, como tem sido a principal
ocupação do mandatário, à vista dos fatos vindos diariamente a público.
O
governo, com o mínimo de competência e seriedade, já teria se conscientizado,
há muito tempo, de que qualquer crítica somente teria alguma validade para
combater a pandemia se ela tivesse no seu bojo a preocupado em apresentar
medidas e sugestões completamente diferentes das que são feitas normalmente,
que são críticas apenas para caçoarem da situação em si, sem que elas sejam capazes
para produzir alguma eficácia contra a pandemia.
É
extremamente lamentável que o governo seja absolutamente incapaz para
contribuir com medidas efetivas contra o coronavírus, em que pese só aumentar
em gravidade a triste realidade de calamidade da saúde que precisa urgentemente
contrapor ao grande infortúnio público, mas a falta de iniciativa, exatamente por
da insensibilidade humanitária, tem sido a principal causa de tamanha desgraça,
que apenas serve de motivação para gracejos, acompanhados por gente igualmente
insensata e desumana.
Tenho
sim motivos suficientes para criticar e me indispor contra tamanha aberração
como a pandemia vem sendo combatida, posto que, ontem mesmo, eu disse
precisamente o que o governo, com o mínimo de responsabilidade cívica e pública,
deveria ter feito com bastante antecedência, para, pelo menos, mostrar preocupação
e seriedade perante a gravidade da terrível situação de calamidade humanitária.
Eu
disse exatamente que, apesar dos pesares, de passado horroroso e monstruoso,
diante das incompetências humana e operacional, ainda é possível se mudar esse
cenário de extrema desolação para a população, se houver o mínimo de
sensibilidade humana capaz de vislumbrar medidas que levem à mobilização geral,
em forma de mutirão, com o envolvimento das autoridades públicas da federação,
do mundo científico nacional, das entidades e organizações de representação de
classes e da população interessada, tendo por finalidade à busca de mecanismos em
melhores condições de lidar com essa tragédia.
Diante
do exposto, faço veemente apelo à consciência das autoridades públicas do país
e dos brasileiros que se voltem em ações e atitudes exclusivamente para o combate
à pandemia do novo coronavírus, de modo que a gravidade da situação somente
tenha por propósito a convergência de ideias, esforços e dedicação capazes de
se mudar tanta desgraça, o mais urgentemente, por meio de medidas uníssonas de
apenas agressividade contra o vírus e não contra quem ainda tenta agir em benefício
do bem dos brasileiros.
Brasília,
em 7 de abril de 2021
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