Segundo um ex-cardeal italiano, que chegou a ser
cotado ao papado e morreu na última sexta-feira, aos 85 anos de idade, a Igreja
Católica está “200 anos atrás” dos
tempos atuais. A opinião do religioso foi dada durante a sua última entrevista
ao diário Corriere della Sera, de Milão, gravada e publicada em agosto. Disse
ele que “A nossa cultura envelheceu, as
nossas igrejas são grandes e vazias e a burocracia eclesiástica está crescendo,
os nossos ritos religiosos e vestimentas são pomposos”, tendo proposto a mudança
de direção radical. O cardeal declarou de forma enfática que muitos católicos
perderam a confiança na Igreja e defendeu adaptações importantes. Na sua conclusão,
ele pediu que houvesse “transformação
radical, começando pelo papa e seus arcebispos”. Diga-se a bem da verdade
que jamais alguém teve a lucidez e a coragem de dizer verdades perceptivas de
forma cristalina não somente por ele, porque as questões religiosas são
tratadas sob o prisma do dogmatismo, máxime quando diz respeito até mesmo ao
simples pensamento para alterar o mínimo a doutrina religiosa, de vez que tudo da
Igreja é imutável, intocável e tratado como tabu. A crítica é forma verdadeira
de apontar rumos e mostrar distorções naquilo que não mais funciona com
eficiência, diante dos notáveis avanços da humanidade, em especial hauridos com
a benfazeja contribuição das descobertas e dos aprimoramentos tecnológicos e
científicos, que alteraram completamente e de forma significativa o
comportamento do Homo sapiens, ao ser expressivamente influenciado pelos novos
conhecimentos, por circunstância natural da modernidade e da conceituação sobre
a maneira adequada de conviver com essa evolução e de obter as melhores
condições de bem-estar social. Não deixa de ser inconcebível que a Igreja, dirigida
por clérigos da maior inteligência e sapiência, conhecedores profundos que são da
ciência, da religião, da filosofia, do conhecimento humano e demais áreas
inerentes ao homem, não perceba que a pompa dos ritos religiosos, a
grandiosidade e o luxo das suas catedrais e de alguns templos, muitos dos quais
ornados à base de ouro e obras de arte valiosas, as vestimentas ostentosas, a
burocracia cada vez mais complicada e inteligível, a extrema dificuldade para
discussão de temas sociais, como sexualidade, procriação e outras matérias
próprias do cotidiano social, não condizem com os princípios sobretudo da
simplicidade, humildade, pobreza, fraternidade e tudo o mais que se enquadre na
dimensão humana pregada por Jesus Cristo, que deu origem à Igreja despojada do
cerimonial, da pomba, do prestígio, do poder, da suntuosidade, da incompreensão
dos sentimentos humanos e do mais que restrinja injustificadamente a
aproximação da importância do amor divino sobre todas as coisas. Para difundir
os princípios e as ideias essenciais do cristianismo, personificados na paz, na
harmonia, no respeito a um único Deus e no amor entre as pessoas, não precisa
senão práticas de simplicidade, generosidade, complacência, aceitação,
igualdade e nada mais que torne complexo o acesso aos ensinamentos das
doutrinas e dos princípios cristãos, máxime porque o seu disseminador original não
precisou de nada suntuoso, hermético, dogmático para arrebanhar discípulos e
seguidores. Com certeza, a evangelização de Nosso Senhor Jesus Cristo tinha por
metas claras a aglutinação de ideais simples e modestas, que permitissem a
convergência de pensamentos verdadeiramente voltados para a consolidação da
fraternidade e do amor, sem se cogitar jamais na hierarquização clerical, que
cada vez mostra a prática de castas dentro da Igreja, servindo de elitização dos
rituais religiosos, com o respaldo do apego ao conservadorismo retrógrado e
prejudicial à evolução da doutrina cristã. À toda evidência, essas críticas são
pertinentes à cúpula encastelada, que se julga guardiã da verdade absoluta e
que não se submete à realidade dos novos tempos. A modernidade mostra que a
evolução de ideias deve convergir para o bem da humanidade e essa conquista de
mais sabedoria até que poderia transpor os muros do Vaticano, para que a luz
dos novos tempos ilumine também os sábios e doutos cardeais, de modo que suas
mentes sejam arejadas para a concepção de nova cultura religiosa compatível com
os tempos modernos, em consonância com os princípios fundamentais do
cristianismo, mas com o aproveitamento dos avanços para beneficiar a ansiedade
e necessidade sociais. Acorda, Vaticano!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de setembro de 2012
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