Agora, pouco importa lamentar o estrondoso fracasso
do resultado da seleção Canarinha na Copa do Mundo, que decepcionou e frustrou,
de forma extraordinariamente arrasadora, as melhores perspectivas de vitória,
diante da indiscutível supremacia que somente existia para quem ainda vive no
mundo dos sonhos e não quer abrir os olhos para a triste realidade brasileira,
que vem surfando nas impiedosas ondas da incompetência da administração do
país, sob o cerco das deficiências e das precariedades, consistentes na completa
falta de prioridades das políticas públicas.
A famigerada Copa de 2014, realizada por capricho e
vaidade do presidente da República de então, mostrou o tamanho do ferimento dos
princípios mais comezinhos da má gestão de recursos públicos, principalmente aqueles
alocados nesse trágico empreendimento, que não deixou a menor saudade e muito
menos contribuição para a satisfação das necessidades básicas da sociedade nem
do interesse público, embora se falasse, por parte do governo, de possíveis
benefícios para a população, à vista do seu legado.
Veja-se que o país patrocinou o evento da copa, que
foi cercado por milionárias propagandas publicitárias oficiais, além do
dispendioso custo, que teria ascendido à cifra de R$ 30 bilhões, sendo que
desse valor, pasmem, somente R$ 8,5 bilhões se destinaram à construção de
estádios particulares e às reformas de outras arenas igualmente privadas, sem
qualquer serventia para a população, em especial aquela mais carente, que poderia
ter sido atendida com tais verbas.
Todo esse esforço, que custou o sacrifício dos
brasileiros, somente rendeu o reconhecimento da opinião dos visitantes de que o
povo tupiniquim é realmente civilizado, por ter sido gentil e acolhedor, à
custa da elevada soma de recursos jogados pelos ralos da imprevisão e da
incompetência da gestão pública.
Os
gastos astronômicos não proporcionaram condições para que os espectadores
pobres pudessem comparecer aos estádios, ante os elevados preços dos ingressos,
que foram elitizados e somente vendidos a quem tivesse posse e acesso à
internet.
Por sua vez, a marca da precariedade estatal ficou
patenteada e exposta por ocasião do evento, quando pouquíssimo da metade das
obras de natureza infraestrutural, previstas no caderno de planejamento da
copa, foi concluída antes do evento. Ou seja, das 167 obras previstas, somente
87 foram concluídas, outras 45 ficaram incompletas e o restante sequer teve
início. As obras inacabadas são visíveis pelo rastro de crateras abertas,
perturbando a vida da população, que é obrigada a conviver com os entulhos nas
vias públicas das cidades, que vão continuar aguardando uma eternidade para a
conclusão dos projetos não acabados e não iniciados.
Ainda tem o lamentável histórico das obras feitas
às pressas e sem a devida segurança, que caíram e causaram enormes prejuízos e
transtornos para a população, que terão o dissabor de receber mais esse presente
de grego.
Sem se imaginar pelo porvir decepcionante da
seleção verde-amarela, o governo promoveu intensa propaganda oficial, com
dinheiro público, precedida do evento, na tentativa de convencer o povo sobre a
importância da copa para a economia nacional, principalmente sobre o possível
aquecimento dela, com a entrada dos preciosos dólares, e o substancial aumento
do emprego.
No entanto, o que se viu foi o desempenho muito
fraco e frustrante da economia, que acompanhou o horrível caminho trilhado pela
seleção, à vista da constatação de longo período de paralisação das atividades
econômicas, que contribuiu para o decepcionante desempenho do Produto Interno
Bruto - PIB, no período da copa, com projeção de crescimento bem próximo de
zero ao ano.
Também houve, no período da copa, a pior relação de
emprego, cuja taxa de emprego foi de 56,9% inferior ao mesmo período do ano
passado, que não teve Copa do Mundo.
É evidente que, caso não tivesse patrocinado a
construção e as reformas de estádios dispensáveis e inúteis, o país certamente
teria economizado, pelo menos, R$ 8,5 bilhões, que teriam sido destinados para
obras efetivamente em benefício da sociedade e do interesse público, na
aplicação de investimentos em áreas onde mais são despontadas as carências da
presença do Estado, para resgatar a tão propalada desigualdade humana, com o
atendimento prioritário e de qualidade dos serviços públicos, que são o
verdadeiro calcanhar de Aquiles do governo, que os ignora ao promover evento
que poderia ser realizado apenas e tão logo ele conseguisse superar todo esse
quadro aflitivo de precariedades, mazelas e deficiências pelo qual a população
é obrigada a aturar, em prol da satisfação do ego de homens públicos sem a
menor responsabilidade cívica, gerencial e humana.
Não há dúvida de que a falta de priorização das
políticas públicas, à vista da realização da copa, tem contribuído para
fomentar as agruras e o sofrimento que afetam as camadas menos favorecidas da
sociedade, que continuam padecendo ante o despreparo gerencial dos
administradores públicos, que ainda conseguem idealizar, planejar e realizar
megaempreendimentos estapafúrdios e dispensáveis como a Copa do Mundo, com o
emprego de bilhões de reais a perder de vista, apenas visando ao aproveitamento
do possível sucesso em benefício pessoal e partidário, em detrimento dos
princípios republicanos da dignidade e da nobreza, que pressupõem a gestão de
recursos exclusivamente em benefício do povo.
A sociedade precisa se conscientizar sobre a
urgente necessidade de serem recriminadas, censuradas e responsabilizadas as
atitudes ilegítimas dos maus gestores, em razão dos suntuosos gastos
supérfluos, como os recursos aplicados na construção e nas reformas dos
estádios para a Copa do Mundo, de modo que seja possível mudar a mentalidade dos
homens públicos para enxergar a real destinação que deve ser dada às verbas
públicas, qual seja, ao estrito atendimento das carências básicas da população,
com embargo dos caprichos, das vaidades e dos sentimentos absurdos dos
administradores irresponsáveis, que deveriam responder, nas esferas criminais
passíveis, sobre seus atos inconsequentes e prejudiciais às causas nacionais.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de fevereiro de 2015
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