domingo, 23 de julho de 2017

Equilíbrio das contas públicas?

As entidades que representam os empresários criticaram duramente a decisão do governo federal de elevar o imposto sobre os combustíveis, sob a alegação de que a melhor solução ainda é o corte de gastos e a realização das reformas da Previdência e tributária.
A avaliação dos empresários é dissonante do entendimento de economistas, que chegaram a elogiar a decisão do governo, sob o argumento de que ela é necessária, nas circunstâncias, por objetivar equilibrar as contas públicas.
Na verdade, não se pode tão somente respaldar aumento de imposto como sendo medida inteligente, pela simplista necessidade de controle fiscal, ou seja, de imposição de responsabilidade fiscal, diante da imperiosa responsabilidade maior de considerar as múltiplas circunstâncias envolvidas no momento, em especial no que diz respeito à crise econômica, que será ainda mais afetada, com trágicas consequências para turbinar o desemprego e expandir a falta de investimentos, com a existência de pesadíssima carga tributária, que já excedeu há bastante tempo a capacidade contributiva dos trabalhadores, responsáveis pela manutenção de governo incompetente, gastador, ineficiente e insensível ao repúdio dos brasileiros contra mais uma medida absurda, por ser incompatível com a realidade da economia brasileira.
A insatisfação das entidades de empresários foi retratada nas manifestações a seguir, que não deixam a menor dúvida quanto ao desastrado aumento do imposto em apreço.
A Federação da Indústria do Estado de São Paulo disse: "(...) Nesta semana, ficamos indignados com o anúncio da alta de impostos sobre os combustíveis. Ministro, aumentar imposto não vai resolver a crise; pelo contrário, irá agravá-la bem no momento em que a atividade econômica já dá sinais de retomada, com impactos positivos na arrecadação em junho. Todos sabem que o caminho correto é cortar gastos, aumentar a eficiência e reduzir o desperdício. A FIESP mantém sua coerência. Desde 2015 empreendemos forte campanha contra o aumento de impostos, que obteve amplo respaldo popular, com 1,2 milhão de assinaturas. Conseguimos evitar a recriação da CPMF e outras tentativas de aumento de impostos. Mantemos nossas bandeiras e convicções, independentemente de governos. Somos contra o aumento de impostos porque acreditamos que isso é prejudicial para o conjunto da sociedade. Não cansaremos de repetir: Chega de Pagar o Pato. Diga não ao aumento de impostos! Ontem, hoje e sempre.".
A Federação da Indústria do Rio de Janeiro afirmou que "O Sistema FIRJAN reforça sua posição de que a saída para a crise fiscal não passa por mais aumento de impostos, mas na adequação dos gastos públicos ao novo cenário econômico e na urgência da aprovação da reforma da previdência. O País precisa de reformas, e não de mais impostos. Além de um teto para os gastos, o Brasil necessita de um teto para os impostos. Essa é a proposta do Sistema FIRJAN. Não é o momento de onerar o custo do transporte e da produção para as indústrias, que tentam sobreviver à pior recessão da história. No Brasil e no Estado do Rio será registrado, em 2017, um novo recorde de fechamento de empresas. No primeiro semestre foram fechadas 8.151 empresas no Estado do Rio, quase 40% acima do registrado no mesmo período em 2016. Na prática, isso significa que novos aumentos de impostos podem resultar em queda, e não em aumento da arrecadação, simplesmente porque o próprio fisco está expulsando os contribuintes da base de arrecadação tributária.".
A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas “(...) defende que a maneira mais eficaz, justa e equitativa para se aumentar a arrecadação é estimular o crescimento econômico. Basta verificar que neste primeiro semestre de 2017 já houve um aumento da arrecadação em decorrência, exclusiva, do aquecimento da economia, ainda que inicial. Qualquer tipo de medida que traga aumento de impostos acaba concentrando, ainda mais, a arrecadação tributária nas mãos de poucos em detrimento de uma distribuição mais equitativa da carga tributária. A CNDL é a favor de uma reforma tributária ampla que corrija distorções e que permita o crescimento do setor produtivo para a geração de mais empregos e mais renda. A arrecadação tributária pode ser aumentada com o crescimento econômico, sem a necessidade de criação de impostos e aumento de alíquotas que penalizem setores específicos. Quando se criam taxas, impostos em cima do setor de combustíveis, isso afeta o custo dos combustíveis, o transporte de matérias primas, de produtos industrializados, o que acaba recaindo sobre o consumidor final. Hoje, a carga tributária é muito concentrada em setores distintos.".
A Associação Comercial de São Paulo declarou que "O governo deveria ter repensado, em razão do aumento arrecadatório sobre o ano passado e dos sinais de retomada da economia. Agora é um momento totalmente inoportuno para pensar em elevar tributos. O governo precisa fazer um controle mais eficiente dos gastos e pensar em primeiro lugar na superação da população frente aos problemas financeiros trazidos pela recessão. A elevação de preço dos combustíveis desencadeia o encarecimento do transporte de mercadorias e de passageiros. E dificilmente o comerciante não repassará isso para o consumidor, tornando mais lenta a recuperação econômica. Não podemos esquecer de que a intensificação da queda dos juros vai estimular o consumo, ajudando na retomada da economia e da própria arrecadação tributária.".
Diante das extremas incompetência e insensibilidade do governo, que apenas fez uso de medida do menor esforço, para algo de extrema responsabilidade, qual seja, imposição de pesado ônus à sociedade já sacrificada com imensuráveis impostos, e não ter o mínimo de sentimento quanto á maldade de tentar salvar a própria pele, da forma mais cruel, causando o sacrifício dos brasileiros.
Todos reconhecem que o governo teria outras alternativas, como a promoção de reformas capazes de reduzir drasticamente seus gastos, evitando onerar ainda mais os contribuintes, já sobrecarregados com encargos tributários.
Além disso, o aumento de imposto terá terríveis consequências, porque seus efeitos têm o poder de desencadear aumentos em múltiplos setores da economia, causando inevitáveis reflexos na inflação, ou seja, o governo foi capaz de pôr fogo na lona de seu próprio circo, cujos resultados deverão ser os piores possíveis, principalmente para a economia e os brasileiros, além de torná-lo refém dos aumentos, caso ele não se digne a buscar alternativas palatáveis e inteligentes, notadamente com a reformulação das estruturas do Estado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 23 de julho de 2017

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