segunda-feira, 31 de julho de 2017

O certificado da boa conduta

O político mais famoso do país negou que tenha que dar explicações sobre os R$ 9 milhões que foram bloqueados pelo juiz da Lava-Jato, que estavam em conta no BrasilPrev, do Banco do Brasil.
No alto da sua autoridade, ele disse que "Eu não tenho que explicar nada. Tenho 76 palestras feitas no exterior. O dinheiro entrou pelo Banco Central. Está depositado no Banco do Brasil. Não tem conta na Suíça. A certeza da minha honestidade é que eu não depositei na Suíça".
O ex-presidente afirmou a uma rádio de Criciúma, Santa Catarina, que o juiz é quem "tem que explicar porque bloqueou um dinheiro que está na previdência privada". 
O político insistiu em afirmar que a sentença que lhe condenou a nove anos e seis meses de prisão, pelo magistrado de Curitiba, não foi baseada nos elementos constantes dos autos, mas sim na "pressão da imprensa".
Ele entende que a condenação em tela tem a intenção de tirá-lo da corrida presidencial do próximo ano e sugeriu que "Se eles querem tentar evitar que eu seja candidato em 2018, essa não é a melhor forma. A melhor forma é tentar encontrar um candidato bom de outros partidos para não deixar eu ganhar as eleições".
O ex-presidente também citou as pesquisas de intenção de voto, que indicam seu nome à frente de outros potenciais candidatos. 
Na ocasião, ele afirmou que vai começar a andar o Brasil, em caravana, no período de três semanas, pelo Nordeste, cuja viagem tem início no próximo dia 17 de agosto, partindo da Bahia e se estenderá até o Maranhão. 
Ele disse que "Nós vamos fazer campanha, sendo candidato ou não. Nós vamos andar pelo Brasil. Eu vou começar uma viagem pela Bahia e terminar no Maranhão. Serão visitados 10 estados. Depois eu quero fazer no Sul e no Sudeste. Quero fazer no Centro-Oeste, no Norte do país". 
O político disse que a viagem será para se verificar "como eles estão estragando o país", esclarecendo que o roteiro não inclui trajetos de avião. Ele afirmou que "Quero viajar de ônibus, de carro, de trem, de barco, que a gente possa ter mais acesso ao povo". 
Desta feita, o político não se lançou candidato, embora tenho lançado ultimato ao seu partido, quase como imposição, para lançá-lo candidato em 2018, ao se expressar nestes termos: "O PT tem que querer que eu seja candidato. Devem ter outras pessoas querendo ser candidatos. Afinal de conta, o PT tem cinco governadores de estado, vários senadores, vários deputados".
É curioso como ele fala como se tivesse algo montado para trabalhar contra os propósitos dele, principalmente quando ele saca expressão como essa: "Se eles querem tentar evitar que eu seja candidato em 2018, ...”, naturalmente que isso é forma de estratégia construída para continuar engabelando os incautos de sempre, que acreditam piamente naquilo que ele diz e professa.
Trata-se de santa ingenuidade tentar justificar inocência, honestidade, em se tratando de benefício representado por imóvel, alegando a inexistência de depósito de dinheiro na Suíça, uma vez que o grosso da propina da Petrobras jamais saiu do país, o que vale dizer que é absolutamente inútil, por óbvio, afirmação nesse sentido, como de todos desonestos necessariamente tivesse depósito na Suíça.
É preciso que as pessoas entendam que o político foi julgado, no caso rumoroso do tríplex, porque há denúncia de que ele teria sido beneficiado com o presente desse imóvel, em troca de favores, por meio de contratos celebrados entre a Petrobras e a empreiteira OAS, conforme as provas coligidas na forma da legislação que rege a espécie, e que isso ficou descrito com minúcia e robusteza na sentença do juiz que o condenou à prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, cujos fatos precisam ser demolidos por ele, perante o Tribunal de apelação, por meio de provas com consistência capaz de rebater os elementos constantes dos autos.
Convém que os homens públicos se conscientizem de que é pura infantilidade, porque isso não entra na cabeça de pessoa sensata, que as ações, os processos referentes às denúncias tratando sobre suspeitas da prática de possível irregularidade existem para prejudicar esse ou aquele político, porquanto a sua existência, para o bom entendedor, com o mínimo espírito de bom senso, percebe claramente que isso é excelente oportunidade para o cidadão verdadeiramente honesto provar a sua inocência, a sua honestidade, cujo resultado tem exatamente o condão de beneficiar o homem público acusado, por merecer da Justiça o certificado da sua conduta limpa, imaculada e infensa a quaisquer suspeitas de deslize, na vida pública.
Ao contrário disso, os homens públicos que defendem a sua inocência por meio da condenação dos processos e das investigações, que são formas transparentes capazes de se aquilatar a verdade sobre os fatos e ainda fazendo acusações, quase sempre infundadas e vazias, apenas na tentativa de atemorizar os agentes e as instituições públicos, deixam transparecer seu sentimento de distanciamento do verdadeiro sentido da verdade ínsita do princípio democrático, por se imaginar que somente a palavra basta para se comprovar honestidade, quando a Justiça trabalha com provas que possam contestar as acusações.   
Por seu turno, não fica bem para um homem público que foi presidente da República, porque isso depõe e conspira contra a sua dignidade, em especial diante do espírito de bom senso e da razoabilidade, ter o entendimento segundo o qual o juiz da competência profissional que comanda a Operação Lava-Jato sujeitar-se-ia a ser tão irresponsável e leviano a ponto de julgar caso de alguém sob o impacto da “pressão da impressa”, quando se sabe que esta tem procurado fazer seu trabalho de apenas bem informar os fatos à sociedade, no estrito dever previsto nos seus estatutos, sem qualquer propósito de prejudicar ou beneficiar quaisquer das partes envolvidas, porque isso não contribui para o aperfeiçoamento e o fortalecimento dos princípios democráticos, como é do seu dever legal e institucional. 
Por out6ro lado, os políticos precisam saber que as andanças em forma de campanha antecipada, como o próprio político assim qualificou, in verbis: "Nós vamos fazer campanha, ...”, contrariam a legislação de regência dos pleitos eleitorais, que estabelecem prazos e condições para que essa forma de procedimento seja considerada legal, sob pena de os responsáveis por tais eventos possam vir a ser enquadrados em dispositivos da legislação eleitoral, por violação da norma aplicável ao caso.    
Nos países sérios e civilizados, os homens públicos têm não somente a obrigação, mas também o prazer de explicar para a sociedade, como normal forma de prestação de contas, sobre seus atos tanto na vida pública como na particular, porque isso ainda é a melhor maneira de transparência que contribui para o aperfeiçoamento dos princípios democrático e republicano.
Os homens públicos precisam também entender que os atos dos juízes podem e devem ser contraditados, mas na via própria, inclusive por meio de responsabilização funcional, quando eles extrapolarem o limite da sua competência legal e prejudicarem o direito de alguém.
Certamente que os brasileiros ficariam muito mais interessados nas atividades políticas se os homens públicos tivessem o mínimo de sensibilidade para entender que explicação e justificativa espontaneamente sobre quaisquer suspeitas de possível deslize fazem parte da moderna democracia, que se valoriza justamente pela efetiva participação popular. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 31 de julho de 2017

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