quarta-feira, 5 de julho de 2017

Traição à confiança dos eleitores

Tendo ficado afastado do mandato senatorial por decisão do Supremo Tribunal Federal, o senador tucano mineiro retomou às atividades parlamentares, depois de revogado o motivo do seu afastamento.
Primeiramente ele se reuniu com a bancada de seu partido no Senado Federal e depois, na tribuna do plenário, em discurso morno, sem o menor interesse de seus pares, diante das circunstâncias, ele negou que tivesse cometido crimes e se disse indignado com a injustiça cometida contra ele, por aquele que repassou o dinheiro da propina, a quem atribui o título de criminoso de mais de duzentos delitos.
No citado pronunciamento, ele procurou se defender das acusações que pesam sobre seus ombros, tendo por base gravação de conversa que teve com um empresário do grupo JBS, na qual o tucano aparece pedindo R$ 2 milhões, fato que resultou na investigação, pela Procuradoria Geral da República, em razão da prática dos crimes de corrupção passiva e obstrução de Justiça.
Basicamente, o senador esclareceu a seus pares que “Nesses dias tormentosos, em nenhum instante, absolutamente em nenhum instante, perdi a serenidade e o equilíbrio próprio daqueles que sabem exatamente a condução de seus atos (…). Não cometi crime algum, não aceitei recursos de origem ilícita, não ofereci ou prometi vantagem indevida a quem quer que fosse, tampouco atuei para a obstrução de justiça como afirmaram”.
Fato bastante surrealista foi traduzido pelos senadores, que estranharam, assim como os brasileiros honrados, quando o senador mineiro disse que o dinheiro da propina não passava de “empréstimo”, porque a via normal e regular do pagamento dessa forma de operação é feita por meio de conta corrente, de forma transparente, mas o dinheiro repassado ao parlamentar, no caso, foi feito às escondidas, sob o transporte por meio de malas e a ameaça de matar o mensageiro antes que ele abrisse o “bico”, assim dito e acertado entre o senador e o empresário.
Como se vê, no país tupiniquim, chega a ser mais que normal um parlamentar pegar propina de dois milhões de reais e ainda se dizer que não está nada arrependido, mais apenas indignado com tamanha e inominável injustiça cometida contra ele, que foi acusado, pasmem, de ter praticado o crime de corrupção passiva.
Caso isso tivesse ocorrido em um país com o mínimo de seriedade, civilidade e desenvolvimento político, certamente que caso de corrupção seria considerado crime da maior gravidade contra os princípios do decoro, da dignidade, da honestidade, entre outros exigidos para quem exerce cargo público relevante e ainda seria condenado, entre outras, com as penas de prisão, obrigatoriedade do ressarcimento dos valores envolvidos e perda do mandato, como forma de medidas exemplares para as futuras gerações de homens públicos, que precisam saber que a vida pública não combina com a abusiva prática de corrupção.
O senador mineiro precisa recobrar urgentemente a consciência, para se lembrar que o seu avô morreria mil vezes se ouvisse tamanhas idiotice e falta de caráter, diante de não se ter ainda a dignidade de assumir a indiscutível fraqueza moral.
Se esse senador tivesse um pingo de dignidade, ele jamais voltaria à Casa que sangra pela presença ali de homens públicos que deveriam sumir da vida pública, por não corresponderem à importância dos cargos que exercem, tendo em vista que eles são alvo de investigação pelo Supremo, em razão da suspeita da prática de corrupção em série, como no caso do aludido senador, que, por enquanto, já responde, pasmem, a nove inquéritos.
O senador mineiro demonstra não ter sido capaz de compreender a verdadeira dimensão do estrago que ele conseguiu causar aos princípios do decoro e da dignidade que se exigem para o exercício de relevante cargo de senador da República.
A situação dele se mostra muito delicada e de difícil assimilação, por se tratar de importante político que jamais deveria se envolver em casos de corrupção, a vista do relevante conceito que havia construído na vida pública, inclusive tendo aspirado à Presidência da República e, na ocasião, conquistado a simpatia de milhões de brasileiros, com o seu voto.
Diante da interpretação da aludida conversa pelo Procuradoria Geral da República e se ela for confirmada verdadeira, o senador tucano mineiro, em termos políticos, não passa de pessoa desprezível e indigna como representante o Estado de Minas Gerais, notadamente pela indiscutível traição à confiança de seus eleitores, como ele disse, de mais de sete e meio milhões, que certamente, depois do episódio em apreço, foram reduzidos a pó. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 5 de julho de 2017

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