Dias atrás, exatamente no dia 14 de abril, diante de
muitos brasileiros, sendo que muitos dos quais ficam lamuriando às portas do Palácio
da Alvorada, o presidente da República vociferou, em bom e alto som: “O
Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar providência, eu estou
aguardando o povo dar uma sinalização”.
Precisamente fazendo apelo veemente, o presidente
do país, vestindo a camisa da seleção canarinha, muito rancoroso, decidiu sair às
ruas, mais uma vez, para pedir que o povo concorde com o tão sonhado golpe democrático,
permitindo que ele assine qualquer ato em consonância com a fúria antirrepublicana
que transborda incontrolavelmente de seus pensamentos, como forma de demonstrar
alguma medida golpista.
A verdade é que, conforme a resposta dada nas ruas,
boa parte da população, que comunga com o mesmo pensamento antidemocrático do
presidente, concorda com ditadura sob o comando do mandatário que não teve o
mínimo de dignidade de informar ao país o que ele realmente pretende fazer depois
do apoio por ele implorado e certamente recebido, na forma mais clara como foi
dado pelo povo, no último domingo, que escancarou a sua vontade que o
presidente use a sua caneta Bic, mesmo que seja medida de exceção, em ferimento
aos princípios democrático e republicano, não importa.
Causou perplexidade que, mesmo sem explicitar
precisamente seus planos político-administrativos, o presidente contou com extraordinário
apoio de brasileiros, tendo concedido carta-branca para ele, se quiser, promover
inclusive a ruptura democrática, ao seu talante, diante do insensato e
precipitado apoio para o que bem entender, inclusive para violar ditames
constitucionais, em nome dessa perigosa confiança, sabendo-se que o tiro pode
sair pela culatra, caso o presidente decida exatamente como ele vem pensando,
que não deve ser nada sério e constitucional, diante da sua omissão, quando não
teve a ombridade para mostrar que os seus propósitos são os mais perfeitos
possíveis, em termos de legitimidade e satisfatoriedade às finalidades públicas.
Enfim, a pretendida autorização foi dada ao presidente
do país, que agora fica com a incumbência de agir segundo os seus planos de
corrigir o que ele acha que está errado, como sendo algo que prejudica os
interesses dos brasileiros, na certeza de que, se nada for feito, o seu
prestígio fica extremamente abalado, por afirmar que adotará medida saneadora, sem
mencioná-la, se o povo assim autorizar.
Fica a expectativa sem saber o que o presidente do
país vai fazer, para mostrar, finalmente, a sua valentia, que compreende certamente
medida excepcional, como, por exemplo, a colocação de tanques nas ruas, para
combater os fantasmas que vêm agindo contrariamente aos interesses dos brasileiros,
ou simplesmente engolir a seco a resposta
dada pelo povo, que foi bastante convincente, nas circunstâncias da vigência da
pandemia do coronavírus, quando não se esperava o aflouxo de tanta gente nas
ruas, na esperança de que apareça qualquer medida golpista ou não, em resposta aos
anseios do povo, que imagina ser necessária alguma forma de dura lição
corretiva, em especial, contra o Congresso Nacional ou o Supremo Tribunal Federal.
O
certo mesmo é que, se a situação do país estava tão grave assim, como demonstrado
com palavras no momento da imploração pelo apoio do povo, a ponto de se
imaginar que o Brasil já tinha se precipitado em abismo abaixo, em plena queda
livre, tinha-se a absoluta certeza de que o cuidadoso e zeloso presidente do
país já tinha tudo pronto para a imediata detonação das medidas corretivas
pertinentes, somente estudadas e planejadas pelo grande arquiteto do
maquiavelismo político-administrativo, como forma de ainda conseguir salvar a nação
dos inimigos.
Ao
que tudo indica, toda essa pantomima não passa de exército de fantasmas que
massacram permanentemente a mente de quem foi eleito para pensar grande e
inteligentemente, com o propósito de realmente salvar os brasileiros dos
verdadeiros perigos que os atormentam no dia a dia, porém com medidas realistas
e efetivas, tão carentes como no combate à pandemia do coronavírus, que vem
sendo enxergado como o mais pífio de todos os programas colocados em prática do
mundo, a exemplo do absurdo das mortes já contabilizadas, que são fruto da incompetência,
da insensibilidade e da irresponsabilidade perante a calamidade do século, conforme
mostram os fatos.
Brasília,
em 4 de maio de 2021
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