Conforme
reportagem publicada no site da Veja,
quatro cardeais da ala conservadora da Igreja Católica fizeram inusitado desafio
público ao papa, ao acusá-lo de semear confusão acerca de temas morais
importantes.
Os
referidos cardeais escreveram carta ao papa, em setembro último, onde havia questionamentos
fatos importantes da igreja, mas eles não foram respondidos até o momento, o
que motivou a iniciativa do desafio em público.
Eles
alegaram que ainda estão em discussão alguns dos ensinamentos da encíclica “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor),
documento onde é exposta a fundamentação sobre a tentativa do papa de tornar a
Igreja Católica, de 1,2 bilhão de seguidores, mais inclusiva e menos
condenatória.
No
aludido documento, assinado em abril deste ano, o papa concita a igreja a ser
menos rígida e mais compassiva com quaisquer membros que o pontífice os
denomina de “imperfeitos”, como
aqueles que se divorciaram e voltaram a se casar, tendo afirmado que “ninguém pode ser condenado para sempre”.
As
críticas ao papa se concentraram na parte onde a carta papal se refere à reintegração
plena à igreja de pessoas que se divorciam e voltam a se casar em cerimônias
civis. Os cardeais disseram ao papa que “Nós, abaixo assinados, e também muitos bispos e sacerdotes, temos
recebido inúmeros pedidos de fiéis sobre a interpretação correta a dar o
Capítulo VIII da Exortação”.
De
acordo com a norma da igreja, aquelas pessoas não podem receber a comunhão,
salvo se abstenham de sexo com os novos parceiros, pelo fato de que o seu
primeiro casamento ainda permanecer válido perante os olhos da igreja e, agindo
dessa forma, considera-se que eles estão vivendo em estado pecaminoso de
adultério.
Na
encíclica, o papa demonstrou seu alinhamento à corrente progressista que
propuseram o “fórum interno”, no qual
ficou definido que o padre ou o bispo pode decidir em cada caso, conjuntamente
com o indivíduo, se ele ou ela pode ser reintegrado plenamente à igreja e
receber a comunhão.
Esta
não é a primeira vez que conservadores se desentendem com o pontífice, os
quais, volta e meia, demonstram temor de que o papa esteja contribuindo para enfraquecer
os ditames católicos referentes a temas morais, a exemplo da
homossexualidade e do divórcio, enquanto ele se concentra em problemas sociais
como a mudança climática e a desigualdade econômica.
Nem
se pode entender que os cardeais estejam tentando criar embaraço ao trabalho do
papa, mas essa questão da reconciliação do cristão com a igreja não poderia
sequer existir condição senão de que ele deseja reintegrar ao rebanho de Jesus
Cristo, sem precisar de ser obrigado a passar pelo crivo de qualquer forma de
exigência, porque a única condição deveria ser a de que ele acredita nos
mandamentos essenciais de amor aos ensinamentos do Filho de Deus.
Parece
até brincadeira que cardeais fiquem controlando se os cristãos estão aptos a se
conciliarem com Deus, até mesmo no caso de divorciados, homossexuais e demais
pessoas, não importando a sua ideologia ou o seu pensamento social ou
comportamental, porque, para tanto, basta apenas que os filhos de Deus procurassem
a igreja para confirmar a profissão de fé e de amor aos ensinamentos de Jesus
Cristo.
A
verdade é que os novos tempos convidam a Igreja Católica a se modernizar, em
harmonia com os sentimentos da sociedade que se evoluiu e não pode ficar a
reboque dos ditames católicos estratificados em pensamentos retrógrados de
cardeais que precisam igualmente se reciclar e entender que a realidade social
passou por transformação para melhor, em que o homem precisa viver no seu
tempo, independentemente dos gargalos impostos por religiosos que resistem
bravamente em acompanhar a evolução da humanidade.
A
notória perda do rebanho da Igreja Católica tem muito a ver com a falta de
sintonia de suas normas ultrapassadas com a modernidade, que faz parte
indispensável das conquistas da ciência e da tecnologia e que precisam ser
respeitadas e acompanhadas pelo homem e isso exige que os ditames católicos
sejam concomitantemente adaptados à realidade, evidentemente por contar a plena
vontade de Deus.
Não
há a menor dúvida de que Deus quer que o homem continue em completa evolução,
arrastando com ele a modernização da sua igreja, que não pode ficar à mercê de
meia dúzia de cardeais conservadores que permanecem no seu tempo de estagnação,
fato que não condiz com a modernidade que precisa ser compreendida em toda sua
extensão, sob pena de a divisão entre os membros da Igreja Católica somente
contribuir para dificultar ainda mais a unidade das ideais em torno dos
pensamentos de paz, união, amor e fraternidade disseminados por Jesus Cristo. Acorda,
Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de novembro de 2016
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