Além da estrondosa surpresa, os especialistas em
política também entendem que a vitória do bilionário americano suscita as
maiores preocupações para o mundo, diante da desconcertante e inesperada representação
delegada pelo povo norte-americano, em absoluta sintonia com o avanço de grupos
políticos nacional-populistas, anti-imigrantes, xenófobos e outras tantas
características próprias de movimentos reacionários contra a globalização.
Segundo a mídia, trata-se de uma "tragédia", uma "catástrofe", enquanto há quem diga
que é a "vitória da raiva"
e "a revanche das pessoas comuns",
mas a imprensa mundial, quase à unanimidade, concorda em afirmar que a vitória
do republicano significa o triunfo do populismo e a escolha de presidente
imprevisível, que não condiz exatamente com o princípio democrático, que não se
assenta na absoluta convicção da transparência e da verdade democráticas.
O jornal francês Le
Monde estampou a manchete de que se operou "A vitória da raiva", por compreender que a chegada ao poder do
republicano traduz a vitória que "reforçará
os movimentos e líderes populistas de todo o mundo". E a sua promessa
de "tornar a América grande
novamente" sinaliza para "contenção
e isolamento".
O jornal francês Libération
(esquerda) classificou a vitória de "Trumpocalípse", tendo acrescentado que "Não se enganem: A primeira potência mundial
está agora nas mãos da extrema direita. A metade dos americanos votou, com toda
a consciência, em um candidato racista, mentiroso, sexista, vulgar, odioso (...) Esta eleição é mais um alerta para aqueles
que pensam que Marine Le Pen não pode chegar ao poder na França em 2017".
O jornal Le Figaro
(de direita) diz que, "na raiva
americana", foi levado ao poder "o maior primo das frondes europeias. Esta nova realidade não vai se
dissipar como um céu obscurecido por uma noite de combate. Nem numa margem do
Atlântico, nem na outra".
O jornal Süddeutsche
Zeitung, da Alemanha, lamenta "a
pior catástrofe possível (...) O
inimaginável que se tornou realidade".
O jornal Guardian
(esquerda), de Londres, afirma que "O
povo americano mergulhou no abismo. O próximo presidente é um homem sectário e
instável, um predador sexual e um mentiroso inveterado. É capaz de tudo".
O Daily Mail, tabloide
de direita, cumprimentou "A revanche
das pessoas comuns. Uma humilhação para Hillary, para as pesquisas e elites dos
negócios e do show business".
O jornal La Stampa,
da Itália, foi menos pessimista, tendo apresentado o título "Trump, um furacão de raiva e
descontentamento", acreditando que "a vitória de Trump confirma a vitalidade da democracia americana, capaz
de se transformar continuamente", mesmo que isso cause "um dilúvio de incertezas ligado à
imprevisibilidade do vencedor.”.
Na Austrália, o colunista econômico dos jornais do grupo Fairfax Media enxerga a vitória como catástrofe,
tendo previsto "extraordinária
instabilidade financeira" e o risco de que isso "desestabilize a maior economia do mundo,
empurrando sua dívida a mais de 100% do PIB".
Nos Estados Unidos, o centro do furacão político, os
principais jornais destacam a derrota das elites políticas e midiáticas, como o
jornal New York Times, que disse:
"O presidente Donald Trump. Três
palavras que eram impensáveis para dezenas de milhões de americanos",
tendo reconhecido "um golpe
humilhante para a mídia, pesquisadores e elite democrata".
Já o jornal Washington
Post disse que se trata da vitória "dos eleitores rurais e de áreas industriais devastadas, que sentem que
a elite política os abandonou" e espera que "Trump seja um presidente melhor do que temos medo", e que a
força das instituições democráticas o impeçam de "deportar milhões de pessoas, rasgar acordos comerciais limitar a
imprensa (...) e minar os esforços
globais de luta contra as mudanças climáticas, como anunciado em sua campanha.”.
A revista New Yorker,
a par de estampar o título "Uma
tragédia americana", ressaltou que a vitória do republicano, "quando seu racismo e misoginia eram bem
conhecidos, sugere que estes sentimentos são amplamente compartilhados".
O candidato republicano conseguiu convencer, com
seu jeito demolidor da elegância diplomática, o americano branco e negro
também, de qualificação média ou baixa, que mostra preocupação com a defesa do
emprego, o inimigo que vem de fora do país e o sentimento do resgate patriótico,
como forma da reconquista da grandeza e do brio americanos.
A chegada do republicano à Casa Branca causa muita
apreensão, em especial porque as suas ideias de truculência em defesa de seu
pensamento ultranacionalista têm o condão de sinalizar para o mar de incertezas
quanto às relações com as nações amigas, deixando a maior interrogação no ar sobre
o futuro da principal potência mundial, em termos de governança com
competência, segurança, tranquilidade e responsabilidade.
A surpresa da vitória do republicano se tornou
evidente diante da unanimidade manifestada pelas lideranças políticas mundiais,
que captam nela o reforço emergido em favor das forças do atraso, consideradas
contrárias à integração entre as sociedades e as economias.
O mundo imaginava que os norte-americanos
já tinham atingido nível de avanço e maturidade, no que se refere à percepção
das estratégias maquiavélica próprias do populismo que objetiva transmitir
ideias que não significam exatamente a intenção pretendida senão o atingimento
de objetivos personalísticos, haja vista que a maioria delas é absolutamente
inexequível.
O que mais surpreendeu o mundo foi que
a tragédia, como muitos assim classificam a vitória republicana, acontece
justamente na América, que sempre foi considerado o país que é farol para o
mundo, em termos de democracia, por já ter dado inumeráveis exemplos de
aprimoramento das atividades político-democráticas.
Não à toa que os norte-americanos que
elegeram o republicano para o seu presidente devem ter absoluta consciência
sobre a famosa máxima segunda a “o povo tem o governo que merece” e certamente que
os votos dados a ele têm a voluntariedade e a convicção de que seus programas
de governo já sinalizavam para seara de incertezas e dúvidas, mescladas de
muitas intenções contrárias ao princípio da civilidade.
Em pesem os piores agouros para o governo republicano dos
Estados Unidos da América, evidentemente à luz de tudo que o futuro titular da
Casa Branca disse, fez ou deixou de transparecer durante a sua campanha
eleitoral, o mundo torce por que ele tenha governo centrado nos princípios de
civilidade e racionalidade, em sintonia com os verdadeiros conceitos de
democracia e os avanços dos sentimentos de liberdade, progresso e respeito às
individualidades e aos acordos firmados entre as nações. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de novembro de 2016
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