A corrente majoritária liderada pelo ex-presidente
da República petista defende mudanças urgentes, por meio de “programa
emergencial”, nas políticas do governo, com o objetivo de se sair das graves
crises político-administrativas.
Parece claro que o PT começa a reconhecer, embora
com bastante atraso, que a administração brasileira saiu realmente dos trilhos
e fugiu do controle da presidente do país, por motivar a cogitação de medidas
de emergência. É o que se pode inferir, à vista da assunção do explícito mea-culpa, pelas inumeráveis turbulências
do atual cenário político-administrativo.
O petista-mor, a par de defender o ajuste fiscal do
governo, foi bastante enfático ao afirmar que o PT precisa ser reinventado,
dando a entender que seu partido se encontra desgastado e fora da realidade
brasileira, tanto que já não funciona com o vigor por ele imaginado.
Consta da defesa de mudanças que "Não se pode fazer da necessidade de sanear a
situação fiscal a ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora,
cujas consequências bem conhecemos".
Em outra parte do texto, consta que “O governo está pressionado pela necessidade
de uma solução de curto prazo para seus problemas fiscais. Os meios econômicos
e financeiros internacionais querem que o ‘ajuste’ seja o ponto de inflexão de
nossa política econômica em direção ao conservadorismo. (...) Esse movimento não se pode fazer
confrontando os trabalhadores".
O movimento petista de mudanças pretende convocar o
que ele chama de as "esquerdas"
e os "democratas", para a
construção de programa de emergência. O grupo que detém a hegemonia do PT prega
a formação de frente para impedir "o
avanço da direita" e defende a tese de que o partido precisa "voltar às ruas".
Embora o texto não mencione como deve ser feito o
programa emergencial, ele enfatiza que "um fator de enorme convergência de todos esses setores é, sem dúvida, a
figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a maior liderança popular das
últimas décadas da história brasileira".
O partido reconhece a gravidade da corrupção que
acompanha o seu histórico nos governos e conclui que "O PT necessita sair das páginas policiais do noticiário e ficar apenas
naquelas dedicadas à política, onde tem muito a dizer. (...) Combateremos sem trégua a corrupção, a
conciliação com a corrupção e a convivência com a corrupção. Além disso,
filiados com função dirigente na condição de réu ou sob inquérito criminal em
processos de apuração de corrupção devem ser afastados preventivamente,
garantindo direito de defesa, enquanto perdurar esses processos".
Após os escândalos de corrupção que abalaram as
estruturas do PT e sujaram seriamente a sua imagem, os petistas reconhecem que
o partido ficou muito vulnerável, em todos os sentidos, e "prisioneiro do presidencialismo de coalizão",
cuja “crise de identidade", como
tal admitida pelas lideranças petistas, precisa passar por mudança.
Agora, com o advento do movimento petista por
mudanças, pondo às claras a realidade suas mazelas, é lícito se concluir pela
promiscuidade existente entre planos de governo e projetos ideológicos do partido,
que se confundem como sendo exclusivo da agremiação, para a satisfação de seus
objetivos de absoluta dominação, em completo desprezo aos interesses nacional e
republicano, conforme as exaltações às pessoas e os feitos do governo, como
realizações exclusivamente partidárias, sem o menor sentimento de brasilidade.
Não há dúvida de que o governo é petista, por ter
sido eleito sob a sua sigla, mas a administração do país jamais pode ser
confundida com os interesses partidários, à vista da imperiosa necessidade da
observância da dicotomia constitucional e legal quanto aos objetivos
específicos de cada ente, como, no caso, governo e partido político, haja vista
que ambos têm vida própria e distinta.
É de se lamentar que, em pleno século XXI, os
brasileiros sejam submetidos à aceitação de costumes e práticas retrógrados,
ultrapassados e bastante prejudiciais aos avanços da humanidade, que já
permitiram a luminosidade de não se permitir senão procedimentos
político-partidários em harmonia com os princípios de exclusiva valorização do
interesse público.
A superação parcial da crise do governo – não do PT
- poderia ser viabilizada, com razoável sucesso, caso ele se dignasse a reduzir
a quantidade dos ministérios e das empresas estatais, com consequente diminuição
drástica dos cargos ocupados por petistas, sindicalistas, apaniguados e
assemelhados desqualificados e despreparados, com expressa determinação de que
os ministérios e as empresas públicas restantes são obrigados ao exclusivo atendimento
dos requisitos fundamentais de competência, eficiência, economicidade e cumprimento
das suas finalidades institucionais de satisfação do interesse público, além de
serem dirigidos por pessoas à altura da relevância dos cargos de primeiro
escalão.
Quanto às mudanças do PT, há necessidade de radical
transformação, em especial, da abdicação da ideologia de radicalismo, do
arraigado apego à dominação política e ao poder, das terríveis práticas de
corrupção, do atingimento dos objetivos mediante meios ilícitos, das coalizões
inescrupulosas, entre outras atividades perniciosas e contrárias aos princípios
da dignidade, licitude e moralidade.
Na verdade, nenhum partido, na modernidade atual, em
consonância com os avanços da humanidade, consegue subsistir eternamente sob o
pensamento ideológico da absoluta e gananciosa dominação, em completa contrariedade
aos comezinhos e seculares princípios fundamentais da democracia de que o
Estado tem por função primordial e inseparável a satisfação das necessidades de
ordem pública, com embargo dos interesses pessoais ou partidários.
Enfim, o PT precisa realmente ser reinventado, como
admitido por suas lideranças, tendo em vista que o primeiro passo pode ter sido
auspiciosamente dado pelo partido, que já vislumbra o limiar do reconhecimento
de que a sua ideologia equivocada e ultrapassada de absoluta dominação e de
poder não condiz com os princípios segundo os quais os fins devam se ajustar
aos meios de licitude de dignidade, em consonância com os salutares e modernos
conceitos democráticos que devem imperar nas atividades político-partidárias de
construção benéfica do bem comum da sociedade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de junho de 2015
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