“(...)
Com céu azul e sem
nuvens
Mato seco e poeira,
A caminhada demorava
Mesmo que fosse na carreira,
A resistência de criança
O sol quente também cansa
Mato seco e poeira,
A caminhada demorava
Mesmo que fosse na carreira,
A resistência de criança
O sol quente também cansa
E foi assim a infância inteira
Naquela estrada longa
Sombra quase não tinha,
Casas distante uma da outra
Muito mais distante da minha,
Cansado e sedento
Sombra quase não tinha,
Casas distante uma da outra
Muito mais distante da minha,
Cansado e sedento
Sentia o peso do vento
Quando ia e quando vinha
Às vezes cansado e com
sede
Vinha na minha mente,
Uma árvore verde e frondosa
Para aliviar o tempo quente,
Vinha na minha mente,
Uma árvore verde e frondosa
Para aliviar o tempo quente,
Isso era impossível
Naquele calor terrível
Imaginar já era suficiente.
Naquele calor terrível
Imaginar já era suficiente.
Isso me dava forças
Para suportar a jornada,
Até que uma casa aparecia
Para suportar a jornada,
Até que uma casa aparecia
Pra eu fazer uma
parada,
Na parede eu me escorava
Um copo com água tomava
E as forças eram retomadas
Na parede eu me escorava
Um copo com água tomava
E as forças eram retomadas
Quase sempre com o copo
d'água
Vinha também o acolhimento,
Vinha também o acolhimento,
De um olhar carinhoso
E um sorriso sem sofrimento,
Refrigerava minha alma
E eu voltava a calma
Naquele calor do vento.
E um sorriso sem sofrimento,
Refrigerava minha alma
E eu voltava a calma
Naquele calor do vento.
E até que a meu destino
Cansado eu chegava,
Na alegria de chegar
Da estrada nem me lembrava,
E a vida continua
No sítio ou na rua
A estrada só alongava.
(...).”.
A riqueza da poesia em tela chama
a atenção para a realidade da vida do menino nordestino, que normalmente é
obrigado a encarar essa situação nua e crua, que não podia ser diferente,
diante das circunstâncias.
O grande poeta Vandenildo merece
os parabéns, por ter escrito a poesia que corresponde à realidade da vida, com
a disposição de contar, com singulares maestria, alegria e encanto, a sua
história sofrida de menino, em Uiraúna (PB), com o importante detalhe que ela
se confunde com a mesma história de muitas pessoas, porque até parece que ele
contou parte da minha infância.
Eu trabalhava na roça, pela
manhã, no amado sítio Canadá, e estudava à tarde no saudoso Grupo Escolar
Jovelina Gomes, sendo obrigado a enfrentar as agruras do sol a pino, que só
Deus sabia como eu tive tanta disposição para enfrentar tamanha dificuldade,
exatamente nas mesmas condições descritas nesse belo poema de vida, que fala
por si só como é saudável o sacrifício da infância, porque ele tem o condão de
valorizar os atos do resto da vida, como forma de recompensa, da bonança concedida
por Deus àqueles que conseguiram ultrapassar os obstáculos que se lhes foram
colocados à sua frente.
A presente poesia é
realmente emocionante, em especial porque ela toca a alma de quem foi obrigado
a conviver com história muito parecida, como eu, que infelizmente não dispunha
do recurso da bicicleta, porque não podia comprá-la.
Fico muito feliz que o
poeta Vandenildo tenha conseguido fazer mais uma obra-prima na sua bela
carreira de poeta uiraunense, já consagrado por nos brindar com texto sempre
brilhante.
Brasília, em 12 de setembro de 2019
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