domingo, 29 de abril de 2018

Cediço à imoralidade


Os membros da Executiva Nacional do PSDB permanecem ao lado do senador tucano mineiro, mesmo após o parlamentar se tornar réu no Supremo Tribunal Federal, pela suspeita das práticas dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Segundo enquete feita pelo jornal Folha de S. Paulo, 12 dos 41 membros da cúpula do partido contatados afirmaram não ver motivos para a expulsão do parlamentar.
          Os tucanos também decidiram que o próprio senador deve decidir, junto ao diretório estadual mineiro, sobre sua eventual candidatura, nas próximas eleições.
O líder do PSDB na Câmara dos Deputados disse, na maior serenidade e sem corar as faces, que, “Se os partidos forem expulsar todo mundo aqui (na Câmara) que é réu, não sobra muita gente” e que o senador mineiro deve ter chance de se defender perante a Justiça.
Na reunião da citada executiva, somente o prefeito de Manaus (AM) se dispôs a opinar contra o senador mineiro, dizendo que “Se o PSDB tivesse uma comissão de ética que funcionasse e não fosse uma reunião de compadres, eu acho que deveria, sim. Na verdade, ele deveria tomar a atitude de sair, mas não sendo o caso, a comissão de ética tinha que tomar essa atitude.”, que, à toda evidência, não condiz com os princípios do decoro parlamentar e da moralidade política.
Vejam-se a falta de dignidade exposta pelo líder do partido, que entende que seria desastrosa a expulsão de filiado corrupto do PSDB, diante da possibilidade de ficarem poucos filiados, o que se confirma a tradição histórica de que dificilmente a quadrilha tem coragem de expulsar um de seus membros, em razão do temor de que ele possa envolver na podridão o resto da organização criminosa.
Trata-se apenas da melancólica confirmação da fragilidade moral dos partidos políticos, que estão ancorando nos seus quadros, de forma injustificável, políticos sem a menor qualificação de dignidade para representar coisa alguma, muito menos o povo honrado, que não suporta mais nem ouvir se falar nos nomes deles, diante da completa perda de confiança como pessoas respeitáveis e dignas.
A decisão em comento guarda absoluta coerência com a estrutura moral e representativa do PSDB, ao declinar da expulsão de seus quadros do senador que já foi, recentemente, o expoente da sua legenda, considerando que se o expurgo dele acontecesse, havia necessidade da expulsão de muitos políticos importantes da agremiação, inclusive do pré-candidato à Presidência da República, que vem sendo investigado sob suspeita de seu envolvimento com atos irregulares.
É de se lamentar que o PSDB tenha chegado a essa injustificável decisão, de manter em seus quadros político que conseguiu destruir a imagem e a reputação não somente dele, mas especialmente da sigla, por permitir a permanência como filiado de pessoa que é símbolo de desmoralização, que não conseguiu resistir às tentações do ganho fácil e da propina, e, por pior, por fazer uso do relevante cargo de senador da República, que lhe fora delegado por confiança emanada do povo mineiro honrado, que se tornou representado por cidadão sem a menor qualificação ética e moral, diante do recebimento de dinheiro sujo, fruto de negociata envolvendo o tráfico de influência, conforme ficou bastante demonstrado no vídeo gravado pelo empresário da JBS, que foi reiteradamente divulgado na imprensa do país, não deixando a menor dúvida quanto à falta de caráter de homem público que tem o dever constitucional e cívico de ser modelo de decoro, moralidade e dignidade no exercício de cargo público eletivo.
A decisão do PSDB demonstra, de forma cabal e irrefutável, que seus candidatos não merecem o voto dos brasileiros, diante da indiscutível certeza de que o partido é cediço e cúmplice com atos de corrupção praticados por filiados, embora o seu estatuto contemple disposição normatiza no sentido de que o filiado que se desviar das condutas ética e moral será expulso da agremiação, mas essa regra de justa moralização se tornou, há muito tempo, letra morta, tendo ajudado a matar a credibilidade que o partido político precisa inspirar aos eleitores.
Na verdade, os brasileiros não podem apoiar, nas urnas, candidatos registrados por agremiação que se mostra completamente irresponsável na exigência de seus filiados dos requisitos de honestidade, ética, moralidade, dignidade, entre outros, permitindo que pessoas sem caráter possam transitar livremente como seu filiado, inclusive ficando ao seu livre-arbítrio decidir se pretende seguir como representante do povo, que não pode aceitar que candidato sem compromisso moral continue na vida pública, antes de comprovar a sua inculpabilidade quanto aos casos sob suspeitas de irregularidade, cuja autoria lhe é atribuída.
Nessa medida adotada pelo PSDB, de consentir a filiação nos seus quadros de pessoa que não preenche os requisitos de idoneidade e conduta moral, no exercício de cargo público eletivo, não se pode deixar de atribuir expressiva parcela de culpa à frágil e precária legislação eleitoral, que, diante de sua caducidade, não prevê punição dura e rigorosa aos partidos políticos, no sentido de que ficam passíveis de suspensão ou até mesmo de extinção, conforme a gravidade do caso, quando eles deixarem de punir, com suspensão ou exclusão de seus quadros, pessoas sem a necessária qualificação ética e moral, a exemplo do caso em que a maioria da cúpula do PSDB entendeu que um corrupto pode continuar normalmente sendo seu filiado, como se seu ato espúrio não fosse repudiável pela sociedade.
É evidente que as pessoas honradas esperam que os partidos políticos tenham a dignidade, a decência e o respeito aos eleitores, no sentido de que, nos casos de envolvimento de filiados em casos suspeitos de irregularidade, eles sejam, por cautela, como assente em salutares princípios de civilidade e razoabilidade, automaticamente suspensos de atividades que exijam a obrigatoriedade de filiação partidária, voltando à normalidade como filiado imediatamente após a comprovação da sua inculpabilidade nesse caso. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de abril de 2018

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