segunda-feira, 30 de abril de 2018

O chaga política

O jornal o Estado de S. Paulo noticia que, depois de 28 anos com domicílio eleitoral no Amapá, o ex-presidente da República maranhense transferiu o título de eleitor para seu estado natal e seu berço político.
O político alega motivos pessoais para o retorno à sua base eleitoral, porém, há informação de amigos e colaboradores de que o ex-presidente só fala em dois objetivos pessoais, quais sejam, evitar o esfacelamento de seu clã e tirar, a qualquer custo, do Palácio dos Leões o governador atual, que, depois de 40 anos, conseguiu derrotar o quase ininterrupto domínio do grupo sarneyzista, no Estado.
Um dos amigos mais próximos do ex-presidente disse que “O que Sarney pensa é em voltar ao poder no Maranhão. Nem é tanto pelo poder em si, mas por uma maneira de dar a volta por cima, de no final não ser um homem derrotado, marginalizado. Dino tem agido com uma agressividade terrível contra os Sarney”.
Tendo acabado de completar 88 anos, o político preserva o hábito de manter contato diário com os políticos e amigos de seu estado, cuja agenda está sempre cheia para falar de política, segundo disse um admirador dele.
Mantido diálogo sob anonimato, três líderes de partidos da base do governador do estado disseram que receberam propostas do ex-presidente para apoiar a pré-candidatura da sua filha ao governo do estado, dando a entender que ele está em plena atividade política, já negociando apoio, naturalmente em troca de vantagem espúria, como cargos no futuro governo.
Especula-se que, apesar da intensa atividade política, o ex-presidente não tem conseguido êxito nas suas investidas na seara de seu principal adversário, que teria por finalidade tentar minar a ampla aliança que dá sustentação ao governador do estado, a exemplo das infrutíferas articulações para formalizar alianças com o DEM, PP, PRB, que até agora falharam.
Ante às especulações, a família do ex-presidente nega que o patriarca esteja envolvido diretamente nas articulações políticas, talvez para não evidenciar que os insucessos das investidas sejam atribuídos às iniciativas pessoais.
Foi o que disse um de seus netos, que é deputado estadual, quando afirmou que “Não tenho visto muito esforço dele neste sentido”, e que, para o neto, o significado do retorno do endereço eleitoral do avô para o Maranhão é mais simbólico do que prático, tendo dito que “... meu avô sempre diz que a política só tem a porta de entrada”.

Esse entendimento de que política só tem a porta da entrada é péssimo sinal para quem imagina que as atividades políticas são dinâmicas e precisam se adequar à modernidade e aos avanços da humanidade, conquanto convém que haja porta tanto para a entrada como para a saída, em consonância com o princípio democrático, que tem por essência a satisfação do interesse público e não de grupos políticos, como tem se verificado em determinados estados brasileiros.
À toda evidência e também por ser notório, o principal clã político do Maranhão se tornou símbolo naquele estado de tudo que tem sido  considerado retrógrado, obsoleto, atrasado e principalmente degenerativo, por haver a marca do seu legado de ser a unidade da federação que ostentava os piores indicadores de desenvolvimento humano, mostrando o avanço da pobreza e dos componentes próprios de subdesenvolvimento agressivo e crônico, sendo que as mazelas foram atribuídas às ineficientes políticas públicas implantadas pela classe política dominante aliada ao ex-presidente, que conseguiu conduzir o estado pelos caminhos da miséria e da ruína, como têm sido mostradas as condições de penúria da sua população.
A tentativa do restabelecimento da influência e do domínio do clã sarneysista, no Maranhão, representa tão somente coerência com as práticas políticas tupiniquins, em que é absolutamente impossível tentar a renovação na mentalidade político-partidária.
O certo é que o eleitorado não consegue se conscientizar de que há especial interesse em que a modernidade na política é a essência para a melhoria dos mecanismos capazes de contribuir para a superação das mazelas ainda existentes em estados como o Maranhão, onde por décadas, um clã político foi capaz de imperar soberanamente e implantar nos seus torrões as piores políticas públicas, tendo como reflexo a completa degeneração das condições de vida do seu povo.
Urge que os maranhenses, diante do negro e perverso legado deixado pelo sarneysismo no estado, conforme mostram os fatos de indiscutível reprovação, repudiem, com veemência, o retorno às atividades políticas do seu líder-mor, não permitindo que o terrível câncer político-administrativo de seu grupo político volte a imperar como componente na política e na administração, tendo em conta a sua nefasta e perniciosa contribuição ao desenvolvimento socioeconômico, como forma de se defender o bem do povo, do estado e do Brasil. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
         Brasília, em 30 de abril de 2018

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