domingo, 22 de abril de 2018

Dura realidade


De acordo com notícia publicada na mídia, somente os pré-candidatos ao Palácio do Planalto, nas próximas eleições, somam 160 investigações em tribunais, compreendendo motivos os mais diversos e vão desde infrações de trânsito a condenações políticas, como é o caso do principal político brasileiro, que até já se encontra preso e está liderando as pesquisas eleitorais.
O jornal Folha de S. Paulo promoveu apuração e publicou reportagem pertinente ao tema, mostrando que a Operação Lava-Jato, derivações e outras investigações de desvio da ética e da moralidade atingem, ao menos, oito presidenciáveis, cujos fatos a eles atribuídos são dissonantes do relevante exercício do cargo presidencial, porque, ao titular, compete, na forma constitucional, dar exemplo de imaculabilidade.  
O caso mais emblemático é o do pré-candidato do PT, que se encontra trancafiado, tendo sido condenado por órgão colegiado da Justiça e isso, na forma da Lei da Ficha Limpa, já é suficiente para inviabilizar a participação dele na corrida presidencial, mas o seu partido afirma que fará o registro dele na disputa eleitoral, talvez por ser o líder das intenções de voto, no percentual de 31%, segundo a última consulta realizada nesse sentido.
Impressiona o fato de que os dois principais políticos cogitáveis para substituir o pré-candidato petista preso, no caso da sua inviabilização, também se encontram implicados com a Justiça, por estarem sendo investigados sob as suspeitas do recebimento de dinheiro pelo caixa dois e de propina na reforma da Arena Fonte Nova, em cada caso.
Segundo os dados levantados pelo jornal, os demais possíveis candidatos investigados são filiados a diversos partidos, como PSDB, PSC, PSL, PDT, PSB, PSOL, entre outros, envolvendo questões administrativas e pessoais, porém todos os casos, a bem da verdade, não condizem com a dignidade que se exige dos homens públicos, que precisam se apresentar ao eleitorado de cara e mãos limpas e muito bem lavadas e enxaguadas com as águas cristalinas da moralidade.
O jornal ressalta que esse número de investigações e processo pode ser ainda bem maior, tendo em vista que o levantamento até agora apurado deixou de incluir ações classificadas como em segredo de Justiça, que são casos trabalhistas e ações movidas na Justiça de primeira instância de estados que não são os de origem ou de atuação política, além das dificuldades encontradas na obtenção de informações em determinados tribunais, que impendem o acesso público e a transparência sobre as questões em tramitação.
Essa lamentável realidade somente evidencia a falta de caráter e de vergonha na cara, não especificamente apenas de homens públicos, mas sim e principalmente do povo, que, por força da lei, os escolhe como o seu lídimo representante nos poderes Legislativo e Executivo.
Se o Brasil precisa de urgente moralização e isso se impõe com urgência, a sociedade tem que ser a primeira a ser moralizada, dignificada, com o esforço de escolher seus representantes por meio de parâmetros que possam satisfazer aos salutares requisitos, em princípio, no mínimo, da idoneidade e da conduta moral compatíveis com a decência na administração pública, quando, a partir de então, terá condições de exigir dignidade na representatividade política.
O que impressiona e causa maior espanto e tristeza, em especial para as pessoas honradas e dignas, é que os fatos noticiados pela reportagem dizem pertinência a investigações sobre pelo menos 160 casos de possíveis irregularidades envolvendo especificamente candidatos à Presidência da República, o maior nível dos cargos da República, que está sendo buscado por políticos que, em princípio, além de ser exemplos de moralidade, jamais deveriam ter seus nomes colocados sob sequer suspeição de irregularidade, quanto mais sendo vasculhados por possível prática de atos ilícitos e contrários aos princípios republicano e democrático, em se tratando da preservação da dignidade na vida pública, que, em hipótese alguma poderia passar por vil processo de investigação, mesmo que isso possa levar à confirmação da imaculabilidade.
Os brasileiros precisam exigir, com o máximo de urgência, a criação de instrumento jurídico que possa estabelecer que o homem público deva ficar imediatamente impedido de vinculação político-partidária enquanto estiver implicado com suspeitas, denúncias ou quaisquer atos inquinados de irregulares, sob investigação, que digam respeito às atividades na vida pública, somente podendo voltar a esse mister quando comprovar o seu desvencilhamento dos referidos fatos, quando então poderá readquirir as legítimas e indispensáveis condições de representante da sociedade.
Somente nessas condições será possível se pensar no saneamento ético e moral das atividades político-partidárias, eis que, na atualidade, a banalização do desleixo ético e moral, que permeia as atividades públicas, é forma placitada normalmente pela sociedade, que não tem o mínimo interesse em acompanhar e fiscalizar as atividades de seus representantes na vida pública, que pensam que são os donos da razão e da verdade, obviamente dando a entender que isso implica ignorar a sua responsabilidade cívica e patriótica quanto à fidelidade aos princípios do decoro, da ética, da moralidade, enfim da dignidade que precisam ser defendidos e preservados em nome do povo sempre imaculado, nos seus princípios cívicos.
Em última análise, os valores ético e moral do povo se medem exatamente pelo caráter ou pela falta dele ínsita nos seus representantes políticos, que são eleitos com base na avaliação ou mais precisamente na falta dela, eis que nunca são sopesados os históricos ou as vidas pregressas dos candidatos, porque elas são muito importantes em termos da decência e do valor moral que são princípios que precisam ser devidamente observados no exercício dos cargos públicos eletivos.
A lamentável situação mostrada pela reportagem em comento representa dura e cruel realidade e evidencia que o sistema político-partidário, na forma como é na atualidade, não se sustenta e não se presta como nada confiável, uma vez que expressiva parcela dos eleitores é formada por analfabetos políticos, que se prestam a respaldar a ganância e a maledicência de oportunistas e inescrupulosos homens públicos, que abusam da consentida ausência da ética e da moralidade em boa parte da administração pública, fato revelador de extrema promiscuidade que prepondera normalmente no submundo de muitos políticos tupiniquins.
Enfim, diante dos fatos deploráveis, é perfeitamente factível que os brasileiros estão e vão continuar sendo representados, em termos políticos, por pessoas indignas e sem condições morais à altura da sua honradez, embora isso somente possa ser saneado pela própria sociedade, que tem o poder constitucional, por meio do sufrágio universal, de eleger seus delegados para o exercício dos cargos dos poderes próprios da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de abril de 2018

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