Diante da crônica intitulada “O estudo científico
brasileiro”, versando sobre a desaprovação do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina,
por três importantes entidades científicas representativas de classes médicas,
tendo por base estudos realizados em hospitais brasileiros, um dos maiores defensores
brasileiros desse remédio contra o Covid-19 se manifestou nestes termos: “Fácil
de explicar a ausência de estudos acadêmicos randomizados sobre a
Hidroxicloroquina: 1) Seus efeitos benéficos ou colaterais são conhecidos há
décadas; 2) Custa pouco e não possui patente. Pode ser produzida livremente. 3)
o mais importante: quem financiaria esses estudos sem retorno financeiro? No
Brasil, a mais severa contra indicação para seu uso, é ter que concordar com
Bolsonaro. As mortes de muitos são apenas notícias e estatísticas.”.
Em resposta ao aludido comentário, eu digo que o raciocínio ali exposto
pode ter alguma pertinência acerca dos fatos referentes ao combate do
coronavírus, que são consistentes com os tratamentos, remédios etc., mas as ações
do governo carecem, urgentemente, passar pelo crivo da transparência, que é
algo absolutamente inexistente, quando ela deveria vir na frente de tudo, à
vista da reação avassaladora de profissionais da área da medicina, em especial por parte de infectologistas, que
convivem diretamente com pacientes infectados com vírus, conforme se aborda
mais adiante.
Para
se ter ideia, hoje mesmo o governo liberou geral o uso da cloroquina, mas com importante
porém que me deixou bastante estarrecido, qual foi a sinalização de regra
escrita, por meio dela condiciona a autorização do uso do remédio somente se o
paciente assinar termo concordando e isentando o médico de responsabilidades,
dando a entender, mais claro impossível, que há algo de risco, de complicador
no tratamento, o que é muto grave, em termos de tratamento médico, embora não haja
alternativa.
Certamente
que, nas piores republiquetas, os tratamentos são administrados absolutamente
sob a orientação das normas cientificamente aprovadas pelo conjunto da classe
médica, em que as orientações são estabelecidas com base em estudos e
experiências de conduta médica.
Há
outros países que fogem a essa saudável e fundamental regra, dando a entender
que tem algo estranho ou errado que não pode ser revelado, talvez a existência
de algum entrave que divirja da normalidade e isso foge dos princípios da
pureza perseguida pela civilidade da medicina moderna.
Em
termos de competência gerencial, todo procedimento que envolva o tratamento da
saúde do ser humano precisa haver licitude, transparência e respeito aos princípios
éticos.
No
caso específico do combate ao coronavírus, não se tem conhecimento de norma
alguma produzida pelo governo brasileiro, no caso o Ministério da Saúde,
mostrando, de maneira clara como estão sendo conduzidas as questões pertinentes
à pandemia, justamente como forma primária de se mostrar à sociedade,
repita-se, de forma transparente, como a equipe do governo vem trabalhando, de
modo a transmitir transparência e segurança para a população.
A
propósito da liberação do uso dos remédios em apreço, algumas entidades e
profissionais se manifestaram em contrariedade à medida adotada pelo governo,
conforme os textos transcritos a seguir, que foram publicados na imprensa
escrita.
A Organização Mundial da
Saúde disse que "Nem a cloroquina nem a hidroxicloroquina têm sido
efetivas no tratamento da Covid-19 ou nas profilaxias contra a infecção pela
doença. (...) Nós temos agora ensaios (clínicos - pesquisas) do
Solidarity (iniciativa internacional em busca de tratamentos para a Covid-19)
em vários países, nos quais a cloroquina e a hidroxicloroquina estão incluídas.
Como OMS, nós recomendamos que, pra a Covid-19, essas drogas sejam reservadas
para uso dentro desses ensaios.”, ou seja, com descarte do uso deles em tratamento
médico-hospitalar.
Uma bióloga formada pela Universidade
de São Paulo, PhD com pós-graduação em Microbiologia, afirmou que "Esta
é uma situação absurda. A gente tem inúmeros trabalhos mostrando que a
hidroxicloroquina não é eficiente no tratamento em nenhuma etapa da Covid-19. Essa
mudança de protocolo vai trazer um uso precoce do medicamento sem nenhuma
fundamentação científica. Nós temos trabalhos em modelo animal, e é assim que
se testa um medicamento. Devido ao hype e à pressão da população pela droga, as
pessoas começaram a testar em humanos, e foi passada uma impressão errada de
que o medicamento pudesse funcionar. Primeiro testaram em células, células genéricas,
uma linhagem fácil de manipular em laboratório, e funcionou a cloroquina, mas
isso não quer dizer que funcionaria em outras células e em animais. E foi
exatamente isso que os outros testes mostraram: que não funciona. Você passa a
testar em animais e a hidroxicloroquina não funciona. Inclusive, quando passa a
ser usada em animais ela aumentou a replicação (do coronavírus). Também
testaram em células-alvo, células do trato respiratório, e também não
funcionou. Foi testado em macacos, camundongos, em todos os estágios da doença.
Não foi capaz de reduzir a carga viral".
Um especialista da sociedade Brasileira de Infectologia, em São Paulo,
disse que "Logo no começo do documento tem um 'considerando que não tem
evidência científica para o tratamento específico da cloroquina'. Esse
'considerando que não tem evidência científica' já mostra que não tem sentido
nenhum usar nenhum tipo de medicação. Ele é um documento político. Só para
dizer que tem um protocolo. E coloca bem claro que fica a critério do médico e
do paciente decidir. É basicamente um documento político que não acrescenta em
nada".
Uma infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, esclareceu
que, "Do ponto de vista da ciência, esse documento não muda nada, na
minha opinião. A prescrição médica continua sendo a opinião do médico e, de
preferência, baseado em dados científicos em que se leve em conta todos os
aspectos, como eficácia, segurança e momento da doença. Esse documento, do
ponto de vista prático, não muda nada na minha conduta pessoal.".
Outro infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo,
ressaltou que "Todo médico segue ou deveria seguir os estudos
científicos na hora de dar um medicamento. Esses estudos mostram que usar ou
não a cloroquina, neste momento, não tem respaldo científico. Foram feitos
vários trabalhos de pesquisa em várias partes do mundo e nenhum trouxe
resultado promissor. Como medicações podem causar efeitos colaterais, há um
risco no uso deste medicamento.".
Um infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia declarou
que "A adoção da cloroquina é uma decisão política tomada por pessoas
que não são médicas. Sou médico desde a época em que surgiram as primeiras
infecções por HIV e naquele momento muitas pessoas falavam o que vinha à
cabeça. Usavam um medicamento que deu certo em um paciente e já achavam que daria
certo para todos. Mas quem está lidando com os pacientes de Covid-19 sabe que
tem pessoas que vão muito bem contra a doença e outras que vão muito mal,
independente do medicamento. Atribuir (a cura da Covid-19) a uma droga
tão antiga, cujo mecanismo de ação e efeito biológico são tão diferentes, não
tem o menor sentido.".
Mais um infectologista do Hospital das Clínicas “A gente tem
um país muito heterogêneo. Então, abre a possibilidade de os profissionais
médicos usarem, apesar de a gente falar inúmeras vezes da falta de evidências,
mas abre a possibilidade de uma expansão do uso da medicação, mesmo com todos
os poréns já colocados. Quando saíram os primeiros estudos houve muito furor,
mas à medida que ampliamos os estudos, no contexto da ausência de evidências, a
gente passa a olhar com muita cautela para essas medidas (do governo
federal)".
Outra autoridade na infectologia da Fiocruz informou que "O que vai acontecer é
que muitos médicos vão prescrever indiscriminadamente, não vão se atentar à
nota publicada no protocolo do Ministério da Saúde ou à recomendação do CFM
para usar em casos confirmados, e depois que o paciente tiver um problema
associado ao medicamento, o médico poderá ser responsabilizado legalmente
porque não está de acordo com o CFM, nem com o protocolo do Ministério da
Saúde. Não é uma droga para ser usada na suspeita de um caso, nem pela
população. Minha preocupação maior é que esta droga não tem evidências
científicas e há literatura que inclusive condena o uso.".
Alguns representantes do Conselho Federal de Medicina, em reunião
com presidente brasileiro, deixaram patente que “o CFM não recomenda o uso
da hidroxicloroquina para pacientes em
tratamento de Covid-19.”.
O CRM afirmou ainda que “decidiu liberar os médicos a
receitarem o remédio em três casos específicos (...), com o devido
acompanhamento em hospitais.
Um grupo de médicos e cientistas do Rio de Janeiro divulgou
nota sobre o novo protocolo da cloroquina/hidroxicloroquina, para o
tratamento da Covid-19, tendo afirmado que, “com base em 71 estudos ou
artigos publicados renomados institutos e cientistas do mundo, não há
evidências científicas favoráveis que sustentem o uso do medicamento.” e
que “que há estudos que demonstram que o uso
de cloroquina para o tratamento de Covid-19 pode estar associado à
maior frequência de eventos adversos graves e com maior letalidade. Para os
pesquisadores, o uso do medicamento deve ser restrito a protocolos de
pesquisa aprovados por comitês de ética em pesquisa. Outra conclusão é a
de que a prescrição de um tratamento sem comprovação científica de eficácia, mas
com demonstração de risco de efeitos colaterais graves, poderá fazer com que o
prescritor incorra em dano a preceitos legais ou éticos.”.
Ao
que tudo indica, o governo não pretende assumir qualquer responsabilidade em
caso do insucesso das medidas de que trata o protocolo em apreço e muito mens
de se comprometer em buscar alternativa, dando a entender que esse documento,
por si só, já satisfaz e garante o sossego da população, mas, à vista dos pronunciamentos
transcritos acima, o caso não é tão pacífico assim, da complexidade que envolve
a aplicação das drogas de que se tratam.
A
verdade é que só se viram manifestações especializadas em sentido contrário aos
planos do governo e, pasmem, nenhuma, isso mesmo, absolutamente nenhuma voz de
médico nem instituição de representação de classe médica se levantou em pronunciando
em socorro à implantação do protocolo em apreço, diferentemente do que muitos
se apresentam nas redes sociais, que mostram os benefícios dos questionados remédios.
Isso
bem demonstra que, nesse caso, o presidente do país se encontra realmente
abandonado, com ou sem razão, o que confirma, com clareza, a completa falta de
transparência e competência para tratar de assunto extremamente importante para
a sociedade, no caso específico da saúde pública, que não pode ser resolvido de
maneira unilateral e em dissonância do apoio de quem o domina, por força dos conhecimentos
e das experiencias profissionais, que são de vital importância neste momento
bastante difícil.
Convém
que a sociedade tenha acesso às informações esclarecedoras por parte dos
profissionais e entidades ligadas às áreas médicas e de saúde e também se esforce
em acreditar neles, como forma de se inteirar sobre os fatos que não são do
interesse do governo em torná-los transparentes, notadamente de que não há
ninguém, nada em defesa de seu protocolo, que não passa de verdadeiro documento
com viés político, absolutamente desapadrinhado da importante classe médica
brasileira, no sentido de defendê-lo em público.
Quero
deixar muito claro, em definitivo, que meu objetivo é apenas esclarecer os
fatos e, principalmente, que não estou contra nem a favor senão da maneira
correta de se agir, tanto da parte do governo como de quem quer que seja,
porque é preciso que os procedimentos sejam feitos às claras e de forma
objetiva, não deixando dúvidas quanto à maneira correta e precisa para se
atingirem os objetivos colimados.
No
presente caso, não tem a menor dúvida de que governo competente, eficiente e
responsável, comprometido com a transparência, a correção e a integridade da
gestão administrativa, jamais adotaria protocolo nessas condições em que os
questionamentos sobre as suas normas são praticamente insolúveis e
preocupantes, sob o prisma da Ciência da Medicina, que o põe em cheque, em que
pese a saúde pública esteja mergulhada na pior crise da sua história, razão
maior de se gerenciá-la com o sublime espírito de sensatez e perfeição quanto
às medidas necessárias à superação das dificuldades, com vistas ao melhor atendimento
do interesse público.
Nesse
contexto, refiro-me aos estudos, por parte do governo, referidos em textos
anteriores, nos quais foi aventada a necessidade da composição de comissão
específica para se estudar as medidas de combate à pandemia do coronavírus,
inclusive o protocolo médico implantado oficialmente hoje, sem o indispensável consenso
por parte de profissionais da área médica, fato que contribui para amenizar a
sua importância como instrumento de tratamento dos doentes de Covid-19.
Enfim,
os brasileiros esperam, por acreditarem na generosidade de Deus, que os
segmentos de opinião contrária ao protocolo implantado pelo governo federal
sejam vencidos pelas força e competência das pessoas que trabalham nos hospitais,
porque elas estão operando verdadeiros milagres na batalha imorredoura, salvando
vidas e lutando para a superação das dificuldades próprias do seu importantíssimo
ofício.
Brasília,
em 20 de maio de 2020
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