A
Presidência da República exonerou o Secretário de Atenção Especializada à Saúde
do Ministério da Saúde, sem a anuência do titular da pasta.
Como
parte da negociação do presidente brasileiro com os partidos do Centrão, o
posto deve ser ocupado por nome indicado pelo PL, sigla comandada por
ex-deputado condenado no mensalão, por ter se beneficiado ilegalmente de
recursos públicos.
Sem
ter base no Congresso Nacional, sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas
e fragorosas derrotas políticas, o presidente do país começou, na forma acordada
com o Centrão, a distribuir cargos aos partidos desse bloco, em troca de votos e
apoio aos seus projetos, na forma extremamente vexaminosa, por trazer à tona,
em escandaloso ressuscitamento da sebosa velha prática do “toma lá, dá cá”, bastante disseminada
em governos anteriores, que não tinham o menor escrúpulo em manter na administração
pública bloco de políticos considerados aproveitadores do dinheiro dos contribuintes.
O
PL pretendia a Secretaria de Vigilância em Saúde, pasta estratégica para
formular ações sobre o avanço da covid-19, no Brasil, como orientações de
distanciamento social, mas desistiu dela porque a Secretaria de Atenção
Especializada é mais atrativa e se transformou em novo alvo do partido, haja
vista que esse órgão tem a incumbência de autorizar o custeio (habilitação) de
leitos de UTI no país, que também certifica entidades que fazem serviços
complementares ao SUS, entre outros serviços importantes, atendendo em melhores
condições aos interesses desse partido, que demonstra, com isso, a necessidade
de serventia à agremiação e não propriamente, como devia, ao interesse público.
Vejam
como a gestão pública brasileira se transformou em verdadeira esculhambação,
com o ingresso no Central no governo, quando o ministro da Saúde, nesse caso, já
havia convidado um especialista da área para ocupar a aludida secretaria, com o
que se pretendia nomear pessoa qualificada para a função.
Não
obstante, a referida negociação se encerrou, em definitivo, quando o PL pediu o
cargo, que certamente será preenchido por político sem necessidade de nenhuma especialização
para o exercício de tão importante função, o que demonstra o estrago que a
mentalidade presidencial passou a causar aos interesses da nação, ao prestigiar
a precariedade e a deficiência da prestação dos serviços de incumbência do
Estado, exatamente como mostrou a experiência de governos irresponsáveis e sem
nenhum compromisso com a decência e efetividade na aplicação de recursos
públicos.
O
que se verifica é que a composição da equipe do novo ministro da Saúde está
sendo montada com pessoas nomeadas ao talante da Presidência da República, na
melhor forma de atendimento dos interesses firmados em acordos do governo para a
sustentação de apoio tanto da ala militar como de partidos do Centrão no
Congresso, segundo avaliação de integrantes do governo e gestores do Sistema
Único de Saúde, demonstrando total irresponsabilidade da gestão pública, com relação
à eficiência na prestação da saúde pública, que não terá a qualidade desejável,
quando são nomeados dirigentes estranhos às funções que precisam ser administradas
exclusivamente por profissionais competentes e possuidores de conhecimentos compatíveis
com os serviços a serem executados, como normalmente fazem os países sérios e
evoluídos, em termos de compromisso com o elevado interesse em prestar serviços
públicos da melhor qualidade possível.
É
extremamente penoso para o ministro da Saúde, que recém ingressou no cargo, por
ter a obrigação de trabalhar com equipe completamente estranha, sem qualificação
e ainda sob a tutela do Palácio do Planalto, com a composição dos cargos
principais orientada pelo núcleo militar do governo, fato que, por certo,
demandará enormes dificuldades para a execução das políticas de saúde pública,
notadamente em momento crucial, em que ele precisaria de equipe própria e de
excelência para que pudesse combater, da melhor maneira possível, a pandemia do
coronavírus.
Os
fatos mostram a mentalidade de governo completamente dissonante com a realidade
e o contexto nacional, quando o presidente da República, em demonstração de
extrema insensatez político-administrativa, resolve povoar o mais importante
órgão de combate ao coronavírus com pessoas desqualificadas e estranhas à área
de saúde pública, a exemplo das nomeações de diretores com outras especializações
e orientações oriundas do Centrão e militares, ficando evidenciada, com muita
clareza, a maneira incompetente e irresponsável para a condução de problemas da
maior gravidade inerente à saúde pública, que precisaria ser cuidada com o
máximo de zelo e atenção, em forma, inclusive, de mutirão, como mobilização indispensável
ao efetivo combate à pior epidemia que grassa impiedosa e cruelmente no país, graças
à estridente demência e insensibilidade da gestão pública brasileira.
Brasília, em 14 de maio de 2020
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