Há
pouco dias, escrevi a crônica intitulada “A República esvaída em lágrimas”,
versando sobre situação das mais tristes e degradantes para a história
político-administrativa do Brasil, em que o presidente brasileiro negociou com
o Centrão, grupo informal do Congresso Nacional, sobre a integridade moral da
sua gestão, em contrariedade aos princípios da ética e da moralidade defendidos
por ele, em público, em forma de importante e concreta promessa de campanha
eleitoral.
No
texto, ficaram bastante claras a decepção com o mandatário tupiniquim e a
tristeza pela perda da luta por mudanças e moralização da administração pública,
inclusive classificando tal medida como autêntica demonstração de cilada e
estelionato eleitoral, por tratar-se de fato da maior gravidade para o destino
dos brasileiros, que ansiavam por reais mudanças da mentalidade dos homens
públicos, no sentido da conscientização de que realmente a “velha política” é a
depravação das práticas e o emporcalhamento definitivo da administração pública.
Com
tal medida é decretado o distanciamento, de forma melancólica, da esperança de
enxergar o Brasil livre dos eternos aproveitadores da coisa pública, eis que
esse câncer da desmoralização da administração pública, com a implantação do
vergonhoso sistema do “toma lá, dá cá”, passa a ser efetivamente oficializado
pelo próprio governo, com o início já efetivada das nomeações e posses de
indicados pelo Centrão em órgãos e entidades importantes da administração pública,
a exemplo do DNOCS e outros.
Em
razão desse texto, ilustre defensor do governo houve por bem contestar os termos
da aludida crônica, tendo afirmado, ipsis litteris: “Possivelmente "estaríamos
em lágrimas" - aí, sim, de desespero, e não figuradas - se o Haddad
houvesse ganhado as eleições!!! OU NÃO? Talvez nunca seja demais lembrar que
com o petista estaríamos nos venezuelando rapidamente! Ou não? Sendo
repetitivo: esse cara ganhou as eleições contra um sistema cleptocrata de
séculos! Seculos! Contrariando a "nossa triste realidade", o governo
desse cara não promoveu nem UM escândalo de corrupção. Esse cara foi traído por
fora e por dentro. O que querem os "entristecidos"? Milagres? O
"milagre" já aconteceu. E foram os nossos anseios, nosso quase
desespero, a nossa santa ira, a nossa esperança que o produziu: a eleição
democrática de um cidadão que, pelo menos, fala em honestidade, decência,
pátria, liberdade etc. A política é a arte do possivel. Churchil disse que,
para derrotar Hitler, se aliaria ao diabo!”.
Em
resposta ao referido comentário, eu afirmei que as pessoas sensatas, que não
têm nada de entristecidas, mas que estão focadas da realidade dos acontecíamos,
na palavra do homem público, que foi literalmente jogada na vala da podridão,
em total desprezo à promessa de campanha, que precisa ser respeitada, custe o
que custar, sob pena da perda definitiva da credibilidade.
Causa
espécie que ainda têm pessoas que parece ter dificuldade para entenderem
situação extremamente deplorável, como a que foi analisada no texto em
referência, que mostra a indiferença ao princípio da moralidade, que é essencial
na gestão pública.
Infelizmente,
como eu gosto de escrever sobre os fatos da atualidade, não me preocupo em
fazer comparação que não me ajuda a concluir sobre a realidade atual, que é
simplesmente palpável, verdadeira e imutável, não cabendo ilações ingênuas na
presunção de tentar justificar atrocidade ao princípio da moralidade, como que
querendo concordar com o mal feito, porque haveria choro de verdade se o
candidato da oposição tivesse ganho, quando, por certo, as irregularidades, é
assim, fariam sentido de ser marcantes e dolorosas,.
Decorrentemente,
é lamentável que as negociatas com o Centrão, objetivando tão somente blindar
possível processo de impeachment do presidente, com o envolvimento de recursos
públicos, possam ser toleráveis, aceitas normalmente, já que o grande capitão
derrotou o candidato do PT e agora ele sempre terá carta branca para tudo,
inclusive para quebrar a palavra de campanha e ainda merecer os aplausos,
por ser o novo herói da pátria amada.
É de causar
estarrecimento a visão e o posicionamento como vistos acima, com a magnanimidade
de interpretação de fato gravíssimo tendo a sua dimensão suavizada e relevada diante
da bravura do presidente do país, que teria sido beneficiado por estrondoso
milagre, ao impedir que o Brasil se encaminhasse para a “venezuelanização”, evidentemente
na presunção de que isso se efetivaria se o opositor dele tivesse sido o
vitorioso.
Trata-se
de patética situação que jamais pudesse se imaginar que seria possível de acontecer,
no sentido de que o presidente da República possa ser isento de censura, recriminação
pública, por ter tido o mérito de “trucidar”, nas urnas, seu opositor, considerado
ofensivo aos interesses nacionais, na opinião de seguidores do mandatário.
Pode-se reafirmar
a tristeza, aqui no sentido literal, de se perceber que muitos brasileiros ainda
se permitem encontrar desculpas absolutamente desconectadas com a realidade e sem
fundo de plausibilidade, na vã e enganosa tentativa de querer justificar
atitudes completamente insanas na gestão pública, notadamente porque é
princípio que o presidente da República, que tenha derrotado pessoas boas
qualificadas ou até mesmo o cão das maldades, só tem um caminho a seguir, que é
trabalhar sob o rigoroso cumprimento do ordenamento jurídico do Brasil, em estreita
sintonia com os princípios republicano e democrático, com o único propósito de administrar
em sintonia com a satisfação do interesse público.
Qualquer
outra forma de gestão, que divirja desse parâmetro de conduta retilínea com
base nos princípios republicanos, não pode merecer o beneplácito da sociedade,
porque, contrariamente a isso, como a ingênua e insensata ideia de se perdoar o
presidente, por seu erro, em razão de ele ter sido capaz de derrotar suposto
candidato que poderia levar o país à derrocada, quando tudo isso não passa de
conjectura, por mais que ela fosse factível, não tem o menor cabimento nem
sustentabilidade razoáveis.
Ademais,
convém se ressaltar que, nos países sérios e evoluídos, em termos político-administrativos,
só se pronuncia o verbete moralidade para evidenciar efetivamente gestão proba,
que não comporte, por hipótese alguma, nenhum jeitinho, como esse espúrio acordo
com o famigerado Centrão, como forma de governo, por isso passa a ser decadente
e deplorável, sob o prisma dos princípios republicano e democrático.
Enfim, o
que interessa mesmo, para a consolidação dos princípios democráticos, é a conscientização
de que a maioria dos eleitores escolheu seu candidato que imaginava que ele tivesse
o seu perfil de integridade e moralidade e acreditou que ele não seria capaz de
patrocinar a grave sujeira por ele finalizada, ao se juntar ao bloco de políticos
suspeitos de praticar atos ilícitos, visando ao aproveitamento da coisa pública,
em benefício diferente do idealizado para a satisfação do interesse público.
À todo
evidência, o esdrúxulo e lastimável acordo formalizado com o Centrão macula, inapelavelmente,
a administração do governo atual, uma vez que se trata de gravíssimo desvio de
moralidade que caracteriza imperdoável irregularidade na gestão pública, com a
dureza da materialização do indecente loteamento de cargos públicos, com viés nitidamente
pessoal, para o sepultamento da confiança que fora colocada nas urnas por
eleitores honrados e dignos.
Em síntese,
o presidente da República, ao se desviar do prumo do alinhamento dos princípios
da ética, moralidade, legalidade, entre outros que regem a coisa pública, em
junção com a quebra do compromisso de campanha, nega, em definitivo, importante
propósito que visava satisfazer à ansiada mudança da administração pública, que
deveria passar sob a égide do exclusivo atendimento do interesse público.
Brasília, em 11 de maio
de 2020
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