O ex-presidente da República petista afirmou que o aparecimento da
pandemia do coronavírus foi algo positivo para alertar o presidente brasileiro
sobre a importância de um Estado forte para conter o avanço da crise econômica.
O petista fez essa declaração em entrevista a uma revista, tendo
afirmado, ipsis litteris: "O que eu vejo? Quando eu vejo essas
pessoas acharem que tem que vender tudo que é público e que tudo que é público
não presta nada... Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade,
criou esse monstro chamado coronavírus, porque esse monstro está permitindo que
os cegos enxerguem, que os cegos comecem a enxergar, que apenas o estado é
capaz de dar solução a determinadas crises.".
Trata-se de afirmação completamente desconectada da realidade
fática, porque um vírus com reflexo diretamente na saúde dos seres humanos está
ano-luz do alvo que se pretendia fosse enfocado, em uma construção de imagem
extremamente absurda e ao mesmo tempo ingênua pelo gigantesco esforço de se
querer ligar coisas absolutamente diferentes, mas a comparação empreendida tem
muito a ver com a pobre e ultrapassada mentalidade política, em querer se
tentar mostrar o total desligamento do homem público com a realidade dos fatos.
A verdade é que a declaração em si serve para mostrar o real
sentimento de homem público que parece viver em outro planeta completamente
distanciado do mundo real, que precisa avançar urgentemente e com a velocidade
da luz, para se tentar o atingimento de outros níveis de modernidade aceitável,
razoável e racionalizada na gestão dos negócios do Estado, que precisa assumir,
o mais rapidamente possível, o seu verdadeiro papel de ser fiel agente capaz de
satisfazer às necessidades primarias da sociedade, na essência da concepção
idealizada para o fiel e exclusivo atendimento do interesse público.
Para mostrar a realidade do seu tempo política, alguém chega à
insensatez e à insensibilidade de se vangloriar do surgimento do poderoso
coronavírus, que foi chamado de monstro e é exatamente isso, por já ter causado
a eliminação, de forma cruel e impiedosa, de mais de trezentas e vinte mil vidas
humanas.
Mas, indiferentemente de tudo, o líder político encontra motivo
nesse monstro para afagar a sua vingativa índole, ao se contentar com a
presença dele para mostrar ao governo federal que o Estado precisa ser
respeitado, dando a entender a suma importância do desgraçado coronavírus, que
teria vindo para satisfazer seus propósitos políticos de autêntico opositor
incomodado, que precisa, ao contrário, se conscientizar sobre a imperiosa
necessidade do respeito recíproco entre os homens públicos.
Ou seja, o sentimento externado pelo político é o de que o
coronavírus, mesmo tendo causado destruição da humanidade, com o rastro de
milhares de mortes de seres humanos, nada disso tem significância na avaliação
de homem público decadente, que acha nesse vírus magistral benefício, em forma
de lição ao governo, que ele precisa mudar de rumo, certamente para manter
intacta a estrutura decrépita do Estado brasileiro, superlotado de empresas
públicas desnecessárias, deficitárias, improdutivas, onerosas e apinhadas do
aparelhamento do interesse de calejados e inescrupulosos aproveitadores do
dinheiro público.
Diante da estrondosa repercussão da leviana afirmação, o referido
líder político procurou se desculpar, tendo declarado que “Usei uma frase
totalmente infeliz. E a palavra desculpa foi feita pra gente usar com muita
humildade. Se algum dos 200 milhões de brasileiros ficou ofendido, peço
desculpas. Sei o sofrimento que causa a pandemia, a dor de ter os parentes
enterrados sem poder acompanhar".
Como se depreender, trata-se de pedido de desculpa muito mais por
piedade do próprio ego, quando diz: “Se algum dos 200 milhões dos
brasileiros ficou ofendido, ...”, dando a entender que não passa de bobagem
que alguém possa se incomodar com esse tantinho do desprezo endereçado ao
presidente brasileiro, não chegando nem perto do sentimento que se tem dentro
do peito, que deve ser apenas explosivo de tanto ódio.
É evidente que o mero pedido de desculpa não corrige em nada a
insensata e abusiva afirmação que teve por finalidade não somente agredir o
governo, mas em especial milhares de pessoas que perderam a vida e os
familiares delas, diante da inadmissível maldade de se elogiar a existência de
algo perverso, desumano e atroz, com a finalidade de justificar seus objetivos
de natureza política.
Se o político tivesse o mínimo sentimento humanitário, ele poderia
não somente pedir desculpas, mas, principalmente, ter retirado do contexto da
entrevista a sua infeliz e maldosa declaração, porque a simplista desculpa
apenas pode alcançar às pessoas de boa índole, que foram realmente atingidas
pela cáustica declaração que permanece em plena validade e com as mesmas
intenções de extrema vingança por parte de alguém que demonstrou, aproveitando
a monstruosidade do coronavírus, um pouco do seu verdadeiro sentimento sobre
seu maior adversário político, fazendo uso de recurso carregado de extrema
brutalidade, não somente para contestação, mas para atingi-los mortalmente.
Não poderia haver melhor ensinamento de anticidadania do que a
declaração em comento, para se mostrar à sociedade, de maneira cabal e
expressiva, o quanto o homem público brasileiro precisa evoluir, em termos de
princípios e conduta humanitária, para se atingir o mínimo do nível ideal de
decência e dignidade na vida pública, de maneira tal que as suas declarações
sejam apenas repositórios construtivos em benefícios do aperfeiçoamento dos
alicerces republicano e democrático.
À toda evidência, há absurdas declarações de homens públicos que
se materializam na história, cujos autores não se envergonham de demonstrar o
seu real e monstruoso sentimento político, em defesa de seus interesses e
objetivos referentes à conquista do poder, quando entende que pode tudo,
inclusive desrespeitar os comezinhos princípios humanitários.
Brasília, em 21/05/2020
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