sexta-feira, 26 de abril de 2024

O discurso histórico de JK

 

Ao inaugurar a nova capital do Brasil, o mais importante presidente da República brasileiro, Juscelino Kubitschek de Oliveira, proferiu lapidar discurso, que, diante da sua relevância histórica e patriótica, merece ser transcrito para o conhecimento das novas gerações de brasileiros, que somente ouviram falar sobre esse magnífico e eternizado homem público, que se tornou grandioso também por ter construído Brasília, que é considerada marco de modernidade e evolução da arquitetura mundial, sendo elevada, em tão pouco tempo, ao patamar valioso de patrimônio cultural da humanidade.

Esse título significa o legado que simboliza que Brasília passa a pertencer, em termos culturais, a todos os povos, ante a sua importância mundial como verdadeiro ícone de propriedade histórica, como forma de identidade da memória da vida de determinada civilização.

A construção de Brasília, a capital de todos os brasileiros, teve a duração, pasmem, de apenas 3 anos de intensas atividades de arquitetura e engenharia especializadas, em monumental esforço de verdadeiro estadista, que teve a felicidade de priorizar investimentos públicos no progresso do país, conforme mostra a materialização do que é agora a capital federal para o Brasil.

Transcrevo abaixo trechos do discurso histórico do presidente Juscelino Kubitschek, que fora pronunciado à nação há exatos 64 anos, na festiva noite inaugural do dia 21 de abril de 1960, por ocasião da inauguração oficial de Brasília, que também passou a ser denominada capital federal.

Não me é possível traduzir em palavras o que sinto e o que penso nesta hora, a mais importante de minha vida de homem público. A magnitude desta solenidade há de contrastar por certo com o tom simples de que se reveste a minha oração. Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas as condições sociais, de todos os graus de cultura, que, dos mais longínquos rincões da Pátria, voltais os olhos para a mais nova das cidades que o Governo vos entrega, quero deixar que apenas fale o coração do Vosso Presidente”.

(JK quis consignar o seu perfil humano e sensível, ao externar a sua forte emoção, diante da conclusão da mais suntuosa obra pública em toda a história brasileira).

Não vos preciso recordar, nem quero fazê-lo agora, o mundo de obstáculos que se afiguravam insuportáveis para que o meu Governo concretizasse a vontade do povo, expressa através de sucessivas constituições, de transferir a Capital para este planalto interior, centro geográfico do País, deserto ainda há poucas dezenas de meses. Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre a nossa Pátria”.

(JK resume os inumeráveis obstáculos políticos e de toda natureza enfrentados para a construção de Brasília, os quais se faziam intransponíveis e quase lhe custaram o mandato, mas eles se tornavam ínfimos à vista de tão monumental obra).

Quando aqui chegamos, havia na grande extensão deserta apenas o silêncio e o mistério da natureza inviolada. No sertão bruto iam-se multiplicando os momentos felizes em que percebíamos tomar formas e erguer-se pôr fim a jovem Cidade. Vós todos, aqui presentes, a estais vendo, agora, estais pisando as suas ruas, contemplando os seus belos edifícios, respirando o seu ar, sentindo o sangue da vida em suas artérias.”.

(Inúmeras vezes, JK deixava o Rio de Janeiro, que era a capital federal, voando à noite para Brasília, representada por imenso cerrado, até então intocado pelo homem, para acompanhar de perto construções solitárias em pleno descampado).

Somente me abalancei a construí-la quando de mim se apoderou a convicção de sua exequibilidade por um povo amadurecido para ocupar e valorizar plenamente no território que a Providência Divina lhe reservara. Nosso parque industrial e nossos quadros técnicos apresentavam condições e para traduzir no betume, no cimento e no aço as concepções arrojadas da arquitetura e do planejamento urbanístico modernos.”.

(JK mostra a convicção para construir a capital, tendo se certificado da existência de condições estratégicas e de infraestrutura nacional para seguir em frente).

“Surgira uma geração excepcional, capaz de conceber e executar aquela ‘arquitetura em escala maior, a que cria cidades e, não, edifícios’, como observou um visitante ilustre. Por maior que fosse, no entanto, a tentação de oferecer oportunidade única a esse grupo magnífico, em que se destacam Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, não teria ela bastado para decidir-me a levar adiante, com determinação inflexível, obra de tamanha envergadura”.

(JK reconhece que foi fundamental contar com a colaboração de homens excepcionais, dotados também de inteligência e força de vontade).

Pesou, sobretudo, em meu ânimo, a certeza de que era chegado o momento de estabelecer o equilíbrio do País, promover o seu progresso harmônico, prevenir o perigo de uma excessiva desigualdade no desenvolvimento das diversas regiões brasileiras, forçando o ritmo de nossa interiorização. No programa de metas do meu Governo, a construção da nova Capital representou o estabelecimento de um núcleo, em torno do qual se vão processar inúmeras realizações outras, que ninguém negará fecundas em consequências benéficas para a unidade e a prosperidade do País.”.

(É notória a caracterização do dinâmico homem público e estadista de escol, com visão estratégica de futuro, que tinha a faculdade de pensar no amanhã do país).

Viramos no dia de hoje uma página da História do Brasil. Prestigiado, desde o primeiro instante, pelas duas Câmaras do Congresso Nacional e amparado pela opinião pública, através de incontável número de manifestações de apoio, sinceras e autenticamente patrióticas, dos brasileiros de todas as camadas sociais que me acolhiam nos pontos mais diversos do território nacional, damos por cumprido o nosso dever mais ousado; o mais dramático dever. Só nos que não conheciam diretamente os problemas do nosso Hinterland percebemos, a princípio, dúvida, indecisão.”.

(JK reconhece que Brasília marcaria nova e definitiva etapa na história do Brasil).

Mas no País inteiro sentimos raiar a grande esperança, a companheira constante em toda esta viagem que hoje concluímos; ela amparou-nos a todos, a mim e a essa esplêndida legião que vai desde Israel Pinheiro, cujo nome estará perenemente ligado a este cometimento, até ao mais obscuro, ao mais ignorado desses trabalhadores infatigáveis que tornaram possível o milagre de Brasília.”.

(JK reconhece a força do mutirão humano, que é capaz de gerar esperança, sem a qual nada teria sido possível).

Em todos os instantes nas decepções e nos entusiasmos, levantando o nosso ânimo e multiplicando as nossas forças, mais de que qualquer outro amparo ou guia, foi a Esperança valimento nosso. Um homem, cujos olhos morreram e ressuscitaram muitas vezes na contemplação da grandeza – aludo, novamente, a André Malraux – viu em Brasília a Capital da Esperança. Seu dom de perceber o sentido das coisas e de encontrar a expressão justa fê-lo sintetizar o que nos trouxe até aqui, o que nos deu coragem para a dura travessia, que foi a substância, a matéria-prima espiritual desta jornada. Olhai agora para a Capital da Esperança do Brasil.”.

(JK elege o poder mágico e invisível da esperança como sentimento nobre que foi impregnado na alma de Brasília, tanto que ela passou a ser chamada como a capital da esperança, expressão que passou a ser evocado em alusão à esperança em fluía permanentemente no ar).

Ela foi fundada, esta cidade, porque sabíamos estar forjada em nós a resolução de não mais conter o Brasil civilizado numa fímbria ao longo do oceano, de não mais vivermos esquecidos da existência de todo um mundo deserto, a reclamar posse e conquista.”.

(JK pretendia acabar com a crítica histórica de que os brasileiros não davam a devida importância ao interior do país).

Esta cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros; já elevou o prestígio nacional em todos os continentes; já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de progresso, como índice do alto grau de nossa civilização; já a envolve a certeza de uma época de maior dinamismo, de maior dedicação ao trabalho e à Pátria, despertada, enfim, para o seu irresistível destino de criação e de força construtiva.”.

(JK tinha convicção de que a nova capital no interior do país chamaria a atenção do resto do mundo para as potencialidades e a capacidades dos brasileiros, ao despertar o país para novo destino de progresso).

Deste Planalto Central, Brasília estende aos quatro ventos as estradas da definitiva integração nacional: Belém, Fortaleza, Porto Alegre, dentro em breve o Acre. E por onde passam as rodovias vão nascendo os povoados, vão ressuscitando as cidades mortas, vai circulando, vigorosa, a seiva do crescimento nacional.”.

(JK frisa que a construção de Brasília contribuirá para a revitalização do interior do país, tão esquecido por séculos e que agora passavam a ser interligada por estradas que foram abertas).

Brasileiros! Daqui, do centro da Pátria, levo o meu pensamento a vossos lares e vos dirijo a minha saudação. Explicai a vossos filhos o que está sendo feito agora. É sobretudo para eles que se ergue esta cidade síntese, prenúncio de uma revolução fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar amanhã.  Neste dia – 21 de abril – consagrado ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ao centésimo trigésimo oitavo ano da Independência e septuagésimo primeiro da República, declaro, sob a proteção de Deus, inaugurada a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do Brasil.”.

(JK dá por concluída a cidade de Brasília e finaliza o seu discurso declarando-a inaugurada, sobrelevando a sua importância para as novas gerações brasileiras, que devem ser beneficiadas em decorrência do gigantesco sacrifício do governo dele, que passou para a história política brasileira como símbolo de dinamismo e progresso).

Como se pode perceber, o discurso proferido pelo ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, em sessão solene do dia 21 de abril de 1961, na instalação do governo no Palácio do Planalto, constitui documento político mais importante sobre a história de Brasília, em que ele registra não só o nascimento de bela e especial cidade como marca, sem a menor dúvida, importante etapa na história política, econômica e social do Brasil.

Brasília, em 21 de abril de 2024

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