domingo, 7 de abril de 2024

Por que mobilização?

        O último ex-presidente do país houve por bem convocar seus seguidores para participarem de “grande manifestação”, no próximo dia 21 de abril, no Rio de Janeiro.

        O político justifica a sua iniciativa, sob o argumento de que “Estaremos dando continuidade ao que aconteceu em São Paulo, no dia 25 de fevereiro. Estamos discutindo, levando informações para vocês (…) sobre o nosso Estado Democrático de Direito”.

        Impende lembrar que a mobilização de pessoas em São Paulo, em fevereiro último, ocorreu logo após  grande operação policial no âmbito da investigação sobre suposta “tentativa de golpe”, que teria tido a iniciativa do então presidente do país, que contou com a participação de colaboradores mais próximos dele, cujo objetivo era a indisposição contra a derrota eleitoral dele.

        Nas investigações pertinentes, foi apreendido documento que tratava de projeto de decreto dispondo sobre vários assuntos, entre os quais a realização de novas eleições.

        O ex-presidente do país garante que o aludido documento é “a maior fake News da história do Brasil”, que precisa ser denunciada e isso será feito por ocasião da próxima manifestação de 21 de abril, no Rio de Janeiro.

        Acerca dessa matéria, o ex-presidente do país não se cansa de proclamar a sua inocência e declarar que é vítima de “perseguição”, por não haver nada, em termos de provas materiais, que o incrimine.

        A propósito disso, o ex-presidente do país vem sendo alvo de investigações que visam incriminá-lo sobre algum delito que justifique a prisão dele, que, para tanto, tem sido buscada prova a qualquer preço, para satisfazer o ego dos políticos da situação, como forma de mostrar que ele é infrator da lei, que precisa ser afastado das atividades políticas, por meio da prisão.

        Tem-se aí maneira clássica de mobilização de pessoas, certamente fanáticos seguidores, sem qualquer objetividade razoável merecedora do sacrifício, pasmem, somente para a prestação de informação “sobre o nosso Estado Democrático de Direito”, como se o estágio de deplorabilidade não fosse do pleno conhecimento dos brasileiros e que precisasse, em face da sua importância, ser dito somente em forma de mobilização das pessoas, em forma de protestos.

        Na verdade, essa forma de mobilização caracteriza cristalino abuso de autoridade que imagina ser de importância para as pessoas o conhecimento dos fatos que estão acontecendo entre o ex-presidente e as investigações determinadas pela Justiça, que é do exclusivo interessa dele, embora seja tratado como situação configurada como de Estado Democrático de Direito, quando se trata de questões pessoais, exclusivamente de interesse particular.

        A aceitação dessa absurda e injustificável mobilização, em forma de apoio de fanáticos seguidores, tem o condão de confirmar o ínfimo nível político dos eleitores, que concordam que pessoa sem a mínima significância política fique regrando sobre matérias sem nenhuma importância para a população, de vez que os assuntos pautados nessa mobilização vão cingir-se sobre o exclusive interesse político do próprio condutor da convocação das pessoas, o que muito evidencia a personalidade tacanha dele, que não faz a mínima ideia do que seja realmente importante em forma de satisfação do interesse público.

        Ou seja, há nessa estapafúrdia história confusão entre o público e o privado, em claro conflito de interesses e isso fica muito acentuado quando se convoca mobilização de pessoas para informar sobre possíveis atos de perseguição pessoal. 

        À toda evidência, uma mobilização com tamanha magnitude, igual a que aconteceu em São Paulo, até poderia se justificar se realmente houvesse algo substancial, em forma de projeto que fosse capaz de contrapor, de maneira efetiva, os reclamados atos antidemocráticos e inconstitucionais, conquanto tudo se concentra apenas nas investigações que estão sendo realizadas contra atos cuja autoria vem sendo atribuída ao ex-presidente do país.

        Isso não justifica, em absoluto, a realização de frequentes movimentos de protestos, para satisfazer apenas o ego do principal político da oposição, que se empolga com a concentração de multidões, para se sentir apoiado, apenas. 

        Atentem para o fato de que a mobilização em apreço tem por única finalidade se levar “informações para vocês (…) sobre o nosso Estado Democrático de Direito”, ou seja, não existe nada de concreto, mas, se houvesse, isso poderia ser informado normalmente pelos meios de comunicação, como a internet e outros disponíveis.

        Não há a menor dúvida de que é importante a luta em defesa dos princípios democráticos, mas é muito mais importante ainda quando esse esforço tenha por base elementos capazes de justificá-lo, principalmente tendo em conta a conduta ética dos políticos, que precisam sopesar a conveniência e o interesse públicos nos seus atos, algo que não vem sendo observado no caso em comento, por não haver motivo plausível para justificar a mobilização pretendida.  

        Os verdadeiros brasileiros têm o dever cívico e patriótico de exigir das lideranças políticas da oposição medidas concretas em contraposição aos atos reclamados de abusivos, antidemocráticos e inconstitucionais, como forma de reconquista dos direitos civis e de cidadania, ao invés da perda do tempo com a cumplicidade participando ou apoiando movimentos de protestos, que são importantes apenas para a demonstração de apoio a político, mas os fatos mostram que eles são inócuos e só demonstram incompetência.              

        Brasília, em 7 de abril de 2024


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