segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Em defesa do jumento!

           Segundo notícia que circula na mídia, os jumentos podem ser extintos em pouco tempo, em que pese ele ser o maior símbolo animal do Nordeste brasileiro.

É preciso que algo seja feito com urgência por parte das autoridades e da população em defesa do nosso “irmão”, o jumento, que, nos tempos áureos ele prestou inestimáveis serviços do homem, no carregamento de materiais pesados, como água, lenha, tijolo, telha, rapadura, legumes, verduras e tudo que se colocasse no seu lombo.  

O alerta foi feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) e também pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia, sendo que a tristeza maior da previsão é que os jumentos podem desaparecer já no próximo ano, ou seja, logo ali em 2022.

Vejam-se que coisa mais triste, absurda e violenta, conforme levantamento do Ministério da Agricultura, somente no mês de abril último, foram abatidos para o consumo quase 5,4 mil jumentos, tão somente no estado baiano.

Dados do governo mostram que, no período de 1995 a 2017, o número de jumentos no estado da Bahia — que sozinho reúne 90% da população do animal — teve expressiva queda de 300 mil para 93 mil, o equivalente à redução de quase 70%.

A explicação para esta deplorável perseguição ao animal está no abate para a venda da pele do animal, que tem em países como Portugal, Espanha, China e Itália seus principais destinos.

A pele do jumento tem o composto principal na produção do ejiao, que é uma espécie de gelatina da medicina tradicional chinesa, usada para o tratamento de problemas de saúde como insônia, tosse seca e problemas de coagulação sanguínea. 

Uma médica veterinária, que é diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, fez importante alerta, no sentido de que “O jumento está no Brasil desde o tempo do descobrimento e foi se reproduzindo, desenvolvendo espécies que só existem aqui e que vão acabar. Pelos números apresentados nos levantamentos do próprio Ministério da Agricultura, a partir do ano que vem, não teremos mais jumentos na Bahia e nem no Nordeste inteiro”.

A mencionada diretora disse que “Sabemos que existem interesses econômicos que beneficiam alguns segmentos e fazem essa prática continuar permitida, apesar dos alertas que já foram feitos. Essa prática está acabando com os jumentos. A gente não pode admitir uma situação como essa. Estamos vendo uma verdadeira chacina de uma espécie fundamental”. 

Um dos motivos pelos quais o jumento é muito procurado está no baixo preço cobrado pela venda, cuja possibilidade da sua extinção conta com a baixíssima taxa de reprodução desses animais, o que impede que haja maior  equilíbrio entre os abates e os nascimentos, havendo alta progressividade favorável ao seu desaparecimento. 

Registra-se que o abate de jumentos havia sido proibido em 2018, após intensa movimentação de organizações de proteção aos animais, mas, em 2019, a prática do abate voltou a ser autorizada, por meio de regulamentação que não vem sendo fiscalizada de forma eficaz, em natural prejuízo para a preservação dessa raça tão importante para os sertanejos.

Confesso que tomei sentido choque quando vi essa terrível notícia, logo envolvendo o amiguinho do coração, que foi meu companheiro desde tenra infância e por longo tempo, tendo sido meu fiel companheiro no carrego de tudo que fosse preciso e ele até se acostumava com o trabalho praticamente rotineiro do dia a dia e da maior importância, justamente porque ele era insubstituível.

Fico muito triste e desapontado em ver que a ganância econômica do homem possa contribuir para a extinção de animal que, pelos menos na minha época, fazia parte da companhia de todas as pessoas da rocha, justamente porque o jumento era pau para toda obra, tendo contribuído de forma extraordinária com o carregamento das pequenas cargas, na sua docilidade de animal que só faltava dizer da sua felicidade de servir ao homem, pelo menos era isso que eu sentia com a minha efetiva e inseparável parceria com ele.

Queira Deus que seja possível, o mais urgentemente, a conscientização das autoridades, das entidades de defesa dos animais e da população nordestina, no sentido de que se encontre verdadeiro milagre que resulte na proteção e na salvação da raça dos “irmãozinhos”, que vivem exclusivamente para fazer o bem e seria muito dolorosa a notícia do seu desaparecimento logo pela ação do bicho homem, a quem o jumento foi eterno escravo, que jamais deveria contribuir para a efetividade dessa terrível desgraça.

          Brasília, em 9 de junho de 2021

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