segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Grito de independência?

 

Ao meio de muitas idiotices para a relevância do cargo supremo do Brasil, o presidente da República agora discursa publicamente alertando para a necessidade do contragolpe ao que chama de “ameaça comunista dos opositores”.

Como artífice da invencionice, o presidente do país tenta construir o seu Brasil da anarquia, pelo caminho avesso à Lei Maior do país e, o mais grave e preocupante, promovendo a completa desarmonia institucional entre poderes da República, por meio da insuflação, nas redes sociais, de megamobilizações para a tomada das ruas.

Essa inusitada mobilização acontece precisamente na festa que seria do tradicional Sete de Setembro, a comemoração da Independência do Brasil, que vem sendo intitulada como o reviver do “Dia da Independência”, a propósito da customização, ao próprio estilo espetaculoso da bagunça em nome da ordem nacional, na forma da pregação feita, bem a propósito, por cantor sertanejo, que prometeu invasão, incitação de violência e expulsão, na “marra”, dos ministros do Supremo Tribunal Federal, conforme vídeo viralizado.

          O presidente do país deixa muito evidente que a sua real intenção, fazendo uso do seu poder presidencial, é esgarçar ao máximo o tecido social, já tão desgastado pelas instabilidades mantidas desde governos igualmente insensatos e despreparados, em termos político-administrativos, quanto à realidade ansiada pelos brasileiros de ordem e progresso, o lindo lema que ostenta a mãe bandeira nacional.

É horrível que essa preocupante tortura aos princípios da estabilidade nacional venha ocorrer precisamente ao meio da horrenda crise da pandemia, que infernizou a vida dos brasileiros, que já começavam a acreditar no fio de esperança com o recomeço da vida, após o enfrentamento da dolorosa doença que foi capaz de ceifar a vida de centenas de patrícios.

O presidente do país, ao aderir à estratégia de cunho visivelmente revolucionário, com a mobilização da sociedade para o apoiamento ao seu projeto de reeleição, ainda sem ter construído quase nada em benefício da população, só demonstra não ter nada mais de importante para se fazer, apenas dando continuidade ao seu decepcionante projeto de nunca decidir em governar de fato o Brasil, no sentido de se preocupar efetivamente com os ingentes problemas que afligem a vida dos brasileiros, no que tange aos serviços públicos da incumbência do Estado.

O presidente do país deixa muito claro para a sociedade que ele promove o inaceitável, o impossível, o surreal, em termos de política pública, com a tentativa de implantar e consolidar a absurda e retrógrada ideia de ruptura institucional, a qualquer preço, como alternativa à via democrática, tendo precisamente o apoio da sua militância.

Os apoiadores desse levante também se mostram absolutamente incapazes para perceber o abismo para o qual eles e a nação estão sendo levados, por meio do convencionado combate aos inimigos criados exatamente pela persistência do presidente do país, na melhor forma de animosidade institucionalizada e alimentada diuturnamente por ele, por meio da prática de atos de brutalidade e agressividade verbais, com o fito de levar o Brasil à tragédia anunciada.

Não há a menor dúvida de que o presidente do país vem conseguindo, de maneira bem clara e direta possível, inverter os princípios costumeiros da sociedade, ao transformar traços de brasileiros ordeiros, respeitosos e pacíficos em pessoas igualmente agressivas, como no caso do cantor sertanejo, que fez ameaça direta ao presidente do Senado Federal, quando disse que a abordagem com ele se tratava de intimidação, de ordem impositiva e sem volta, no sentido do “vai ou racha”, em ambiente de anarquia e golpismo, próprio de regime antidemocrático.

É lamentável e preocupante que o plano traçado pelo presidente brasileiro conte com viés militarista, que até pode ter alguma serventia nos quartéis, mas jamais pode ser ótimo parâmetro para os costumes genuinamente democráticos, onde devam prevalecer as mentes arejadas e inteligentes, permeadas do sentimento de modernidade onde devam prevalecer os princípios da multiplicidade e da interação de ideias criativas voltadas para a exclusiva satisfação do interesse público.

Citem-se o triste episódio protagonizado pelo cantor sertanejo, que decidiu servir de agente do presidente do país para prometer que fará dura exigência, em forma de ordem, pasmem, ao presidente do Senado, para ele cumprir, em apenas três dias, a retirada dos ministros do Supremo do cargo, sem alternativa, ou seja, é fazer ou fazer, sob pena de retaliação, ameaças e ataques aos poderes Judiciário e Legislativo, em ambiente surpreendente por tamanha ousadia, ante a maneira estúpida e desrespeitosa a autoridades da República, conforme vídeos que circulam nas redes sociais.

Em momento de muita expectativa sobre o porvir, o cantor propôs a mobilização de militantes, caminhoneiros, agricultores, trabalhadores rurais e a sociedade, para sacudir o país, em apoio ao presidente do país e não ao Brasil, como deveria, em se tratando de se realizar esforço para a defesa dos interesses nacionais e não do mandatário, porque isso apenas se traduz em apoio à reeleição dele, com fortes características de campanha eleitoral antecipada, o que é proibido por lei.

Como não poderia ser diferente, a Justiça decidiu investigar o cantor, pela notória incitação à violência, e muitos supostos apoiadores, como agricultores, que disseram que não se acham representados pelo sertanejo, o que bem monstra a inconsistência dos argumentos antidemocráticos e contrários ao interesse público.

Embora o cantor sertanejo tenha declarado que foi mal interpretado, na sua estapafúrdia aparição no vídeo gravado, a mensagem nele contida é clara em afirmações absolutamente contrárias aos princípios democráticos, por agredirem autoridades e instituições da República, além da convocação de movimento em apoio à barbárie, quando uma das principais causas é precisamente a expulsão, a toque de caixa, dos ministros do Supremo, fato que mostra a inconstitucionalidade do que se pretende com o chamado novo “Grito de Independência”.

É bem visível que o país tenha a clara predominância do retrógrado presidencialismo de cooptação, que tem a força para a conquista de simpatizantes por meio de benefícios eleitoreiros, pelo uso de programas com viés cruelmente assistencialista, estruturas inchadas e precárias de servidores públicos e outras deficiências que propiciam o verdadeiro caos na administração pública, a exemplo do que vem acontecendo nos últimos governos incompetentes e insensatos.

Enfim, percebe-se, sob a notória visão, que há células que estão se nutrindo e se agigantando em função do sistema bolsonarismo, com sustentação, em especial, por meios digitais, que precisam  entender o sentido maior da verdadeira democracia, que é da extrema importância para a consolidação das instituições da República e da ordem e do progresso do Brasil.

Urge que os brasileiros precisam se conscientizar que o Brasil, como grande nação que é muito mais que uma tribo ideológica submetida ao cacique, imbuído de caprichos e desígnios nem sempre republicanos, ante a verdadeira visão da lógica nacionalista que precisa permear o interesse da sociedade, com embargo de causa centralizada em ideia retrógrada de poder, que se funda em sentimento egoísta.

Brasília, em 23 de agosto de 2021

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