sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Ganhar a guerra?

 

Momentos após o presidente do Senado Federal ter rejeitado  o pedido de impeachment contra um ministro Supremo Tribunal Federal, o presidente da República compartilhou vídeo com seguidores, no qual ele afirma que sabe onde está “o câncer do Brasil”.

No aludido vídeo,  publicado nas redes sociais, o presidente do país também garantiu que pode vencer a guerra, sem mencionar qual ela seja.

Segundo levantamento, o referido vídeo é bem antigo, onde consta trecho de transmissão ao vivo feita pelo presidente do país, em abril deste ano.

Em tom ameaçador, bem ao seu estilo, o presidente do país afirma: "Sei onde está o câncer do Brasil, nós temos como ganhar essa guerra se esse câncer for curado. Estamos entendidos? Se alguém acha que eu preciso ser mais explícito, lamento".

Naquela ocasião, o mandatário brasileiro respondia às críticas em relação ao combate à pandemia da Covid-19, que se alastrava pelo Brasil e cuidou de imprimir enorme queda em sua popularidade, somada às decisões do Supremo, que o atingiam e o desagradavam em cheio.

À toda evidência a rejeição do pedido de impeachment em tela patenteia flagrante derrota para o presidente do país, principalmente tendo por base argumento curto e grosso: “falta de causa jurídica”, mostrando, de forma cristalina que, se o presidente do país tivesse sido minimamente previdente e sensato, jamais teria elaborado e dado seguimento a documento com esse teor permeado de precariedade e insuficiência jurídica, deixando evidenciada total incapacidade para a percepção, no mínimo, do momento de inconveniência político-administrativa para a adoção de medidas estritamente incompatíveis com o interesse público.

Diante da rejeição ao pedido, principalmente tendo por base a falta de causa justa, fica a nítida impressão de que o presidente do país apenas tentou, em vão, suscitar assunto de somenos importância, com gravíssimos prejuízos para os interesses do governo, onde certamente há pletoras questões que reclamam saneamento urgente, à vista da afirmação de que ele sabe “onde está o câncer do Brasil.” e nada diligenciou nesse sentido, tendo em conta o longo decorrido desde o mês de abril, por voltar a citar da sabença do câncer e nada ter feito para debelá-lo, como é do seu dever, como comandante da nação.

Ora se o presidente do país já sabia, desde abril, que tinha conhecimento onde se localizava o câncer do Brasil e, então, por que, de lá para cá, nenhuma medida foi adotada por ele, de modo que esse mal terrível e devorador só se agigantasse e tomasse conta do país e do governo, quando este cada vez mais se atola em incompetência e precariedade, à vista do acúmulo de crises sobre crises, em especial, em termos políticos, administrativos, econômicos, sem a adoção de nenhuma medida para combatê-las, pelo menos no que diz à efetividade por parte de quem tem conhecimento sobre a existência de algo errado?

Neste caso específico, ao ter anunciado que já tinha identificado o mal terrível, seria normal que as suas causas deveriam, de pronto, ter sido atacadas com as garras devoradoras da competência e da eficiência, mas há provas evidentes do contrário, quando o governo apenas se definha nas teias da inação e da incompetência e ainda se prontifica em anunciá-las, conforme evidenciam os fatos do cotidiano, que são realmente notórios.

O governo, com o mínimo do preparo administrativo, em termos de competência e diligência, não só teria mostrado, em detalhes, à luz do sagrado princípio da transparência, a natureza do mal que afeta gravemente o seu funcionamento, mas já teria deflagradas todas as ações necessárias à sua extirpação.

Não obstante, o próprio presidente deixa antever a falta de cuidados, com a republicação de vídeo que ele diz que sabe do que está acontecendo de ruim no país e ele ainda tem coragem de perguntar: “Se alguém acha que eu preciso ser mais explícito, lamento?

Na verdade, precisamente nesse caso, o presidente do país se houve sem explicitação alguma e, o mais grave, se tornou extremamente omisso, por denunciar a existência de câncer, sem mencioná-lo, e não se dignar, como é do seu dever institucional, a adotar as medidas capazes de eliminá-lo, tanto é verdade que o assunto volta à baila, para piorar ainda mais a sua inabilidade para fazer o seu dever constitucional.  

Na verdade, nesse caso, a falta de transparência e mais especificamente de medidas efetivas para combater o câncer anunciado, que somente o presidente da República tem conhecimento dele, mostram e até podem justificar, com muita exatidão, o porquê das derrotas dele junto aos poderes Legislativo e Judiciário, que consistem na inabilidade para a resolução dos graves problemas nacionais, em clara demonstração de falta de ação administrativa, à vista da repetição da mesma constatação, que jamais poderia perpetuar sem a devida providência, de forma enérgica e compatível ao caso.       

Brasília, em 27 de agosto de 2021

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