No
momento em que o Brasil vem se derretendo na fervura causada pela altíssima
temperatura atingida nos últimos dias, o presidente da República consegue
colocar mais lenha nessa perigosa fogueira, tendo a infeliz iniciativa de pedir
o impeachment de ministro do Supremo Tribunal Federal.
No pedido
encaminhada ao Senado, o presidente do país afirma que o integrante da Suprema
Corte teria cometido crime de responsabilidade ao adotar "medidas e
decisões excepcionais", cometer "abusos" contra o
presidente da República e coibir a “liberdade de expressão”, porque "Não
se pode tolerar medidas e decisões excepcionais de um ministro do Supremo
Tribunal Federal que, a pretexto de proteger o direito, vem ruindo com os
pilares do Estado Democrático de Direito".
O presidente
do país diz que "Observa-se na espécie cometimento de crime de
responsabilidade pelo excelentíssimo senhor ministro Alexandre de Moraes, ao
atuar como verdadeiro censor da liberdade de expressão ao interditar o debate
de ideia e o respeito à diversidade".
O
presidente do Senado Federal, a quem cabe dar ou não andamento ao processo, já
adiantou que não identifica critérios que justifiquem a destituição do cargo do
ministro do STF, tendo declarado que, "Sinceramente não antevejo
fundamentos técnicos, jurídicos e políticos para impeachment do ministro do
Supremo, como também não antevejo em relação a impeachment de presidente da
República".
Ele ponderou
no sentido de que o impeachment é instrumento "grave" e "excepcional",
tendo lembrado que o país tem outros desafios a enfrentar, como a pandemia, a
inflação, a pobreza e a fome, manifestando ainda seu desejo de retomar o
diálogo entre os poderes, na esteira de forte crise institucional alimentada,
em boa parte, pelo próprio presidente da República.
O
presidente do Senado disse que mantém diálogo com o presidente do país, apesar
da investida do chefe do Palácio do Planalto, aproveitando o ensejo para declarar
que o Congresso dará “pronta e qualquer resposta a quem queira sacrificar a
democracia brasileira”.
Ele
afirmou que vai analisar os critérios técnicos e políticos para decidir sobre o
pedido em causa “com firmeza e absoluto respeito à democracia. Não vamos nos
render a nenhum tipo de investida que seja para desunir o Brasil. Nós vamos
buscar convergir o País, contem comigo para essa união, e não para essa divisão.”.
Como não
poderia ter sido diferente, o pedido de impeachment em apreço repercutiu de
forma bastante negativa nos meios políticos e no seio da sociedade, em especial
por se tratar de caso inusitado, que parte logo do mandatário do país, que
precisa ser modelo de pacificação dos brasileiros e jamais tomar a iniciativa
de sancionar autoridades da República, quando ele próprio tem mais de 130
pedidos de impeachment, fato que pode constituir tremenda aberração, em termos
de isonomia constitucional, com a diferença de que ele é eleito pelo povo e o
ministro do Supremo não.
O Supremo
reagiu ao pedido de impeachment de seu ministro, tendo se manifestado em repúdio
e salientado que o magistrado não pode ser acusado por suas decisões, deixando
patente que existem as formas clássicas e regulares de contestações, que devem
ocorrer nas vias próprias de recurso, observados os princípios constitucionais
da ampla defesa e do contraditório.
O Supremo
também manifestou total confiança na independência e na imparcialidade do seu ministro.
Eis o teor
da manifestação da corte: "O Supremo Tribunal Federal, neste momento em
que as instituições brasileiras buscam meios para manter a higidez da
democracia, repudia o ato do excelentíssimo senhor presidente da República, de
oferecer denúncia contra um de seus integrantes por conta de decisões em
inquérito chancelado pelo plenário da corte. O Estado Democrático de Direito
não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, uma vez que devem
ser questionadas nas vias recursais próprias, obedecido o devido processo
legal.".
À toda
evidência, à primeira vista, não se vislumbra senão bastante fragilidade
técnica na fundamentação do impeachment, partindo-se da alegação de que o
ministro teria cometido crime de responsabilidade, por ter adotado “medidas
e decisões excepcionais" e praticado "abusos" de a
autoridade contra o presidente da República e coibir a “liberdade de
expressão”, quando esses atos, conforme declaração do Supremo, foram convalidadas
pelo plenário da corte, ou seja, nesse caso, a sanção pretendido precisaria ser
para todos os ministros.
O
presidente do país deixa evidente que seu pedido não passa de mais uma pela
bufa, com a finalidade de se criar nova bandeira para a mobilização da sua militância,
após ele ter sido fragorosamente derrotado, com relação ao seu projeto do voto
impresso.
Os especialistas
políticos entendem que essa guerra contra os ministros do Supremos não passa de
tentativa de represália à atuação decisiva e rigorosa no combate às fake news deferidas
por militantes do presidente, que afetam fortemente a democracia e o estado de
direito.
O
ato em discussão tem o condão de expor o verdadeiro sentimento de beligerância
do presidente da República, que, ao contrário disso, deveria ser a primeira pessoa
sensata, equilibrada e compreensiva para agir com a relevância da sua
autoridade para a pacificação e a implantação definitiva da paz no seio das instituições
da República e da sociedade.
Juridicamente
falando, o pedido em tela não tem a menor consistência como peça a fundamentar ato
criminoso por parte do ministro, em forma da caracterização do clássico crime
de responsabilidade, que viesse a prejudicar a ordem jurídica ou interesses de
quem quer que seja, cujos fatos ali apontados se encaixam perfeitamente em mero
recurso dirigido ao Supremo, como documento costumeiro em tribunal, que tem a
obrigação de examiná-lo, por força dos princípios constitucionais consagrados da
ampla defesa e do contraditório, assegurados normalmente aos brasileiros.
Dessa
maneira, o presidente da República precisa aprender, para o bem do Brasil, em
termos de hábitos próprios dos princípios democrático e de civilidade, que decisão
judicial se observa e se cumpre ou se impugna, por meio de recurso, devidamente
fundamentado a mostrar a inconsistência dela, como é feito normalmente nas nações
sérias e evoluídas, em termos político-democráticos.
É preciso
que fique o registro de que o desvario sem igualdade do presidente da República
só demonstra o seu extremo desamor ao Brasil e aos brasileiros, porque o pedido
de impeachment em apreço é ato desesperado de quem somente só pensa no pior dos
mundos, com a reafirmação do confronto e do combate, em guerra declarada ente
autoridades da República, cujos reflexos são os piores possíveis para o destino
do país.
Enfim,
não existe amor maior ao Brasil do que se sacrificar por ele, inclusive em
momento de crises, em que é preciso intensa reflexão sobre as consequências dos
atos praticados pelas autoridades públicas, porque elas têm a responsabilidade e
o dever de sopesar cada passo dado em função das suas atribuições funcionais,
em especial tendo em conta a grandeza do Brasil, com desprezo das vaidades
pessoais, a exemplo de metas políticas, diante da relevância do interesse
público, que sempre tem prevalência aos demais.
Essa
forma de procedimento é bastante prejudicial à convergência dos princípios
democráticos, porquanto ele advém logo do presidente da República que contribui,
de maneira efetiva e decisiva, para tensionar ainda mais as relações da diplomacia
republicana.
Esse fato pode ajudar na total dilaceração dos
laços da unidade nacional, com possiblidade de se abrir largas vias para o
atingimento da ingovernabilidade, tendo enorme reflexo na administração do país,
na economia, na política e na sociedade, diante da instabilidade decretada pela
insensibilidade político-administrativa do próprio presidente da República, que
tem o dever institucional ser agir com o máximo de prudência, equilíbrio, serenidade,
competência e responsabilidade, no âmbito da importância do cargo que exerce em
nome do povo e da grandeza do Brasil.
Brasília,
em 22 de agosto de 2021
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