terça-feira, 17 de agosto de 2021

Pensando só no Brasil!

 

Depois da gigantesca repercussão que tiveram as insanas e trogloditas declarações golpistas, no sentido de que o Congresso Nacional seria ordenado a fechar o Supremo Tribunal Federal, o cantor sertanejo e ex-deputado federal, estranhamente, logo percebeu a sua loucura e recuou das fortes ameaças e disse ter pedido apenas para que fossem “estudados” os impeachments de ministros daquela Corte.

O homenzarrão, agora, disse, em tom visivelmente emocionado, com cara de medroso e sem jeito, que “Eu não pedi para que acabasse com nada. Eu pedi que fizessem, que esses impeachments, fossem estudados. Vamos fazer. Se o povo não for para as ruas no dia 7 de Setembro, Brasília não vai fechar. Então não vai adiantar nada. O Exército não pode fazer nada, o presidente não pode fazer nada e nós não podemos fazer nada. Estamos fazendo a nossa parte”.

Nada disso é verdade, porque o cantor defendia, em áudio que viralizou no último domingo, “ordenar” e dar “ultimato” ao  presidente do Senado Federal, com determinação para a derrubada, quase que imediata, dos 11 magistrados da Corte e, o mais grave, em prazo exíguo de tão somente três dias para a decisão draconiana.

Naquele momento, ele informou, nas redes sociais, que está sendo organizada monstruosa manifestação no dia 7 de setembro, em favor do presidente da República, contando com o apoio de caminhoneiros e agricultores, para a concentração em Brasília.

O cantor falava, em tom de convite nacional, o seguinte: “Vocês que estão a fim de salvar o Brasil, vamos com a gente para Brasília”, porque o movimento tem o objetivo de mudança, em forma de conscientização da sociedade, que é “para fazer uma coisa séria, para que o governo tome uma posição, o Exército tome uma posição, mas se o povo não tomar essa posição, nada vai.”.

O artista ainda disse que o movimento terá a presença de diversos artistas e empresários, tendo adiantado que  Estamos fazendo um movimento clássico, sem agressões, sem nada. Vocês vão se assustar com o movimento, mas a gente é da paz. Não aceito mais a situação que está o nosso País”.

Ele disse ainda, em tom de ameaça, em reunião com representantes do agronegócio, conforme vídeo que circula nas redes sociais, verbis: “Nós vamos parar 72 horas. Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País, não vai ter nem caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro. Nada vai ser igual, nunca foi igual ao que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de setembro, e se eles não obedecerem a nosso pedido, eles vão ver como a cobra vai fumar, e ai do caminhoneiro que furar esse bloqueio.”.

A ameaça foi tão forte e com muita clareza que o cantor afirmou o que seria feito, ipsis litteris:Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”

O cantor disse na conversa com um amigo que foi convidado a almoçar com o próprio presidente da República, em reunião com militares “do Exército, da Marinha e da Aeronáutica”, ou seja, com autoridades pensantes do governo, que certamente acharam que o movimento liderado por ele seria realmente maravilhoso para apoiar o mandatário do país.

O ímpeto tresloucado do cantor sertanejo era tanto que ele divulgou, em outro áudio, que iria entregar, pasmem, “intimação ao presidente do Senado, para que “aprove o voto impresso e derrube os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, em até 72 horas.

Ele garantiu que o ultimato será entregue no dia 8 de setembro, por ele, 2 líderes dos caminhoneiros e 2 líderes dos produtores de soja e que, segundo ele, caso as reivindicações não sejam atendidas no prazo, “o país vai pararNorte a Sul, Leste a Oeste. Os plantadores de soja vão pôr as colheitadeiras nas estradas, ninguém pode andar, nem carro particular, nem ônibus. Todos estão sendo avisados.  Ônibus que vier com passageiro vai ter que voltar para trás. Só vai ter ambulância, polícia, bombeiro, uma emergência. Não é um pedido, é uma ordem. É assim que eu vou falar com o presidente do Senado. O documento que entregará será uma intimaçãoÉ como um oficial de Justiça”.

Sobre a participação dos caminhoneiros, líderes da categoria já afirmaram que a classe rejeita a convocação de manifestações feitas pelo cantor.

Por certo, diante da volta à realidade mental, o cantor agora reconhece que não teria dito o que disse, mas apenas sugerido estudos, o que não é verdade, à vista de vastas, fortes, truculentas, incisivas e cristalinas declarações ameaçadoras à estabilidade democrática dadas à opinião pública, embora isso só demonstre que a sua iniciativa fazia parte de impulso impensado, talvez apenas com o intuito de ser agradável à causa que até pode ser desejável, mas que precisa ser atingível pelos meios normais da inteligência democrática, que se impõe acima de tudo o diálogo, a tolerância, o respeito aos princípios jurídicos, constitucionais e, em especial, civilizatórios, posto que costumam assim procederem as nações sérias e evoluídas, em termos políticos e democráticos.

O cantor disse, depois do despertar da assombrosa catalepsia que pode ter sido acometido, que “Isso me entristece muito. Minha vida foi sempre regida pelo povo. Eu sou o que eu tenho, o povo é que me deu, com carinho e respeito. Eu procurei devolver isso”, como dando a entender que ele, agora, passe de vilão à vítima das próprias iniciativas e ideias estapafúrdias.

Vejam-se, a santa ingenuidade contida na declaração da mulher do artista, que disse, em tom de tentativa para justificativa dele nesse lamentável affaire, que “Ele está muito triste e depressivo porque foi mal interpretado. Ele quer apenas ajudar a população. Está magoado demais. O Sérgio foi induzido por pessoas que dizem estar em um movimento tranquilo. No fim, todo mundo vaza (desaparece), e sobra para ele, que é uma celebridade. Ele é querido e amado pelo Brasil inteiro, de direita, de esquerda”.

Ela declarou que a péssima repercussão dos áudios estaria fazendo com que ele “caísse na real” sobre o resultado de participar diretamente de movimentos, como o do 7 de Setembro, tendo ela afirmado que “Ele falou no impulso, mas estava conversando com um amigo”.

Depois das iniciativas que agora se mostram que foram impensadas e completamente indevidas, diante do momento de real gravidade institucional, as declarações do artista estariam inseridas em contexto que certamente poderiam contribuir para maior desastre ainda, tendo em vista o anúncio de medidas capazes de propiciar estrondos revolucionários, a ponto de comprometerem as estruturas dos alicerces da República, sob ameaças de que Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”, dando a impressão de que seria decretado o estado de verdadeira selvageria no reino do monstruoso leão que falava séria, mas que, de repente, se tornou o gatinho, entristecido por ter sido apenas “mal interpretado”, dando a entender que muitos brasileiros são ingênuos e palhaços.

Depois das desastrosas declarações e afirmações protagonizadas pelo artista, visivelmente fundadas em ímpetos extremamente irracionais, mirabolantes e fora da realidade, ele vem a público na tentativa de justificar o injustificável, no sentido de que teria sido, pasmem, apenas mal interpretado.

As declarações do cantor, à toda evidência, dispensam qualquer esforço de interpretação para se enxergar a intenção absurda das insanidades nelas contidas, por estarem em total dissonância com os princípios civilizatórios e democráticos, mas mesmo assim elas foram ouvidas, aplainadas e acolhidas, de bom grado, evidentemente por satisfazerem os seus propósitos políticos, pelo presidente do país e por toda a sua corte, achando que se tratava de plano especial de estratégia nacional, para a salvação da República.

Na realidade, nunca se viu nada mais despropositado, trágico e preocupante, em forma de ação estratégica para se tentar recolocar a nave do Estado nos trilhos, depois que a sua condução não poderia ter sido a mais desastrosa possível, sob o comando de verdadeiros cabeças de vento, à vista da aceitação de ideias as mais estrambóticas imagináveis.

É evidente que o ensaio de ideias malucas, contrárias à razão e aos interesses democráticos, precisam sim ser levadas na devida conta, mas como verdadeiro alerta, no sentido de as autoridades da República precisam pensar, com urgência, em iniciativas capazes de contribuir para o equacionamento dos problemas nacionais, a serem analisados, avaliados, estudados e solucionados, com pensamento com exclusividade no Brasil, tendo em conta a padronização dos elevados princípios do diálogo, da tolerância, da sensatez, da conciliação, da humildade e sobretudo do interesse nacional, com embargo de propostas oportunistas e dissonantes da realidade brasileira, que não tem mais espaços para absurdas e malucas aventuras.

Brasília, em 17 de agosto de 2021

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