Em crônica que versa sobre a decadência da educação
brasileira e a imperiosa necessidade de priorização das reformas da administração
pública, em especial no que diz respeito à melhoria do ensino público, que se mostra
visivelmente em estado avançado de precariedade, alguns comentários foram
lançados sobre o tema.
Entre as mensagens oferecidas ao assunto, destaco a
que mui cordialmente foi escrita pelo nobre patriota Orlando Chaves da Costa,
que se expressou nestes termos: “Assino embaixo desse brilhante texto. A educação
pública brasileira foi largada as moscas a muito tempo atrás. Se tivéssemos
feito o dever de casa nessa área o Brasil seria uma potência. Veja o caso do
nosso vizinho Argentina, cuidou da educação no início do século XX. Já
implantaram o ensino integral na década de cinquenta. Se fossemos um país sério
já teríamos implantado essa modalidade de ensino já praticados por todos os
países desenvolvidos. Como o presidente não tem projeto nessa área estamos
caminhando a passos largos para o abismo.”.
Querido
irmão Chaves, muito obrigado por suas sábias palavras de apoio ao meu texto,
que mostram a sua precisa sensibilidade acerca de questão da maior relevância nacional:
a educação.
No
texto, eu nem mencionei países que evoluíram a partir de maciços investimentos
na prioridade da educação moderna e compatível com os avanços da ciência e da
tecnologia, como o Japão, a Coreia do Sul e muitos outros onde os dirigentes
pensam com a mente arejada e inteligente, preocupados com o melhor para seu
povo, no que se refere ao domínio do conhecimento, em níveis educacionais e
tecnológicos.
Há
tradicional dito popular que diz que cada povo tem o governo que merece e os
brasileiros merecem este que está aí, cercado de assessores que pensam como
ele, que vem sendo aplaudido por suas inconsequentes insensibilidades na condução
de país sem norte, tendo por fundamento mostrar muita autoridade e se firmar
com o apoio de seus seguidores que não querem perceber que no isso vai dar,
senão em caminho sem volta, quando toda loucura atingir o ápice e fugir do
controle da racionalidade.
Os
ensaios de descontrole emocional e racional não deixam dúvidas quanto ao
precipício para o qual o Brasil está sendo conduzido, onde a pessoa que deveria
ser exemplo de moderação, compreensão, tolerância, bons exemplos de civilidade
e cidadania, à vista da relevância do cargo que se encontra investido, faz
questão de ser explosivo, inconsequente, teimoso, indolente e o tudo o mais
para mostrar a sua força perante os demais poderes da República, seus
adversários, parte da imprensa e quem mais se indispor contra o governo, que
tem a grande vantagem de ainda não ter se envolvido diretamente com
roubalheira, mas já se enlameou feio e irremediavelmente com o seu acordo com o
famigerado Centrão, cujos integrantes fazem parte de bloco "famoso"
por sua atuação nos governos anteriores, quando muitos de seus componentes se
envolveram nas irregularidades investigadas pela Operação Lava-Jato, cujos resultados
estão mofando no Supremo Tribunal Federal,
aguardando a decretação da prescrição.
Ou
seja, esse acordo com o Centrão é maneira mais do que explícita e declarada esculhambação
da administração pública, quando o governo entrega importantes cargos públicos
de direção para serem cuidados por políticos que integram entidade
comprovadamente com índole contrária aos princípios da moralidade e da dignidade
na gestão de recursos públicos.
Isso
por si só já é mais do que suficiente para macular definitivamente o governo,
mas é preciso se compreender que houve nessa negociata entre o presidente do país com as lideranças do famigerado
Centrão não objetivando contribuir para benefício do interesse do Estado ou
mais remotamente da sociedade, mas sim para que os parlamentares desse questionável
bloco formem espécie de blindagem, pasmem, contra possível processo de
impeachment da pessoa do presidente da República, na Câmara dos Deputados, fato
este da maior gravidade só em se pensar que recursos públicos agora estão sob o
controle de “ilibados” integrantes de pessoas que participaram ativamente do
famigerado petrolão.
Essa terrível situação, que estranhamente acontece
na administração pública, nada mais é do que a fórmula clássica da recriação do
abominável sistema do "toma lá, dá cá", que foi mantido por governos
anteriores ao atual, tanto odiado pelo presidente do país, mas apenas por ocasião
da campanha eleitoral, diferentemente de agora, diante da única tentativa de
salvação do cargo presidencial, que trata de estratégica operação emergencial,
de cunho pessoal, com o envolvimento irregular do dinheiro público, porque os ocupantes
dos cargos de livre indicação do Centrão serão remunerados com o dinheiro dos contribuintes.
Ou
seja, como se trata da aceitação da indicação política, feita por bloco com
características suspeitas em relação à gestão de recursos públicos, justamente
por causa de seus nada confiáveis antecedentes em governos anteriores e também
graças ao processo nebuloso que se reveste a entrega de cargos públicos, que
jamais seriam cedidos não fosse a imperiosa necessidade da formação da base
parlamentar, em troca do apoio no Parlamento para a exclusiva defesa do
presidente da nação, isso se denomina, em princípio, forma cristalina de
corrupção com dinheiro público, caso haja a efetivação da blindagem cogitada
pelo presidente.
Impende
se ressaltar que o recriminável acordo com o Centrão demonstra a quebra da
palavra do candidato à Presidência da República, que garantiu que não faria acordo
com a esquerda nem com centro, mas, neste último caso, se enquadra o Centrão,
antes considerado bloco representativo da “velha política”, ou seja, merecedora
da desconfiança, pelo próprio presidente, de haver entre seus membros
aproveitadores de recursos públicos e da influência do poder.
Nesse
sentido, fica muto claro que o presidente negociou a abdicação do seu selo de
credibilidade, ao jogar no lixo a sua palavra empenhada na campanha
presidencial, que a afiançava como sagrada.
A
propósito, convém que seja transcrita aqui importante declaração do presidente
do país, gravada por ocasião da plena campanha eleitoral, que foi dada por ele a
uma repórter de televisão, conforme consta de vídeo, nestes termos: “Quem é
o ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil? (...) É o senhor Kassab. Não sabe
a diferença da Lei da Gravidade pra gravidez. Que essa porcaria está fazendo lá?
Botando seus apadrinhados, vendendo voto do seu partido para o pipoca do Temer
e vai vender para o Alkimim. O próprio Temer comprou o Alkimim, agora. Vocês querem
isso para o Brasil? Essa porcaria que Brasil afundando nesse buraco que está aí,
nesse lamaçal que tá aí. Ou nós mudamos e não vai ser com Jair paz e amor. Você
tem que entender: não tenho obsessão pelo poder! Acha que vou estar feliz,
sorrindo? Não vou ter férias. Minha vida vai ser um inferno, mas eu vou ter que
estar com a consciência tranquila. Com uma boa equipe de gente ao meu lado, sem
a pipoca da indicação política. Tem que mudar o estilo do Brasil, É isso que a
gente precisa e mais nada.”.
Lendo
as palavras do então candidato à Presidência da República, com tanta ênfase, em
sentida piedade de enxergar que o Brasil estaria afundando em “porcaria”
e “lamaçal”, dando a entender que somente ele seria capaz de mudar esse decadente
quadro de inadmissível
imoralidade na administração pública, não tem como se aprovar tamanha afronta explícita
à dignidade, por meio dessa aliança espúria com o Centrão, o que bem evidencia
a banalização da esculhambação na gestão pública, quando aquele que antes a condenava,
com veemência, agora não se envergonha de
ser ele principal protagonista de
igual desprezo ao princípio da moralidade na gestão pública.
A
tristeza no coração dos brasileiros honrados se acentua quando o homem público
que também prometia ter apenas 15 ministérios
no seu governo, acaba de criar outro, o
das Comunicações, totalizando 23 ministérios, sendo oito além do prometido na
campanha, mas a pasta nova tem importante justificativa, porque ela faz parte
da estratégia de turbinamento das relações do governo com o Centrão.
De
forma cuidadosa, o titular das Comunicações é deputado federal filiado ao DEM,
que faz parte do grupo de centro, cujo partido integra o presidente da Câmara
dos Deputados, que é a autoridade que aceita ou não o pedido para a abertura do
impeachment do presidente do país, ficando tudo muito bem esclarecido, mesmo para
que quem nem seja entendedor de política.
Na
posse do novo ministro, que também é genro de importante empresário dono de
canal de televisão e apoia o governo, compareceram, além do presidente, algumas
lideranças dos partidos que integram o Centrão, inclusive o então ministro da
Ciência e Tecnologia, curiosamente por obra e graça do destino, nominado na declaração
transcrita acima, como político que já vendia votos do seu partido e, ao que
tudo indica, continua vendendo, porque ele encontrou interessado por seu
produto nada republicano.
Todos
os partícipes do questionável acordo estavam juntos e felizes, evidentemente
com a consciência tranquila, de mãos dadas, celebrando o que o candidato à Presidência
classificaria de emporcalhamento do Brasil, transportando o fato para a época
da campanha eleitoral.
A
sessão solene de posse se tornou ainda mais relevante, no sentido inverso da moralização,
porque ela foi presidida pela pessoa que se indignava quando via o Brasil sendo
jogado na lama e ele via nisso forma suja que envergonhava os brasileiros, mas
lá ele entendia que essa imundície precisava ser mudada, não pelo “Jair paz
e amor”, que pode ser o atual, por ter mudado o entendimento do que seja “porcaria”
para os brasileiros, talvez lama menos pútrida do que dos tempos idos.
Realmente,
não é fácil se compreender como, em tão pouco tempo, a depender das
circunstâncias, a mesma pessoa do passado consegue tranquilamente transformar a
sua mentalidade e, o pior, sem demonstrar o menor remorso, nem ruborizar as
faces, pois tem o apoio incondicional de seus seguidores, visto que aquele mesmo
cidadão patriota não se incomoda de fazer o que, no passado, se indignava contra
os governos que se prostituía, entregando cargos públicos em troca de apoio no Congresso Nacional, na formalização de
aliança sabidamente espúria e imoral, ante os princípios republicanos da
dignidade da gestão pública, que exige retilineidade e exação dos homens
públicos para com a res publica.
Fica
muito claro que a declaração do então candidato à Presidência pode ser forma
que caracteriza engodo, que se transformou em algo comparável ao estelionato
eleitoral, consistente em promessa ao eleitor que acaba de ser vergonhosamente
jogada da cesta do lixo, mandando para o mesmo lugar a credibilidade do homem
público, que muda de ideia como o sentido das nuvens, diante de situação que o leva
a se permitir a descaracterização do sentimento de moralidade pública, por meio
do enlameamento da sua palavra, em razão apenas das circunstâncias.
O
mais deprimente disso é que essa visível perda de credibilidade tem como
objetivo, pasmem, a construção de segura blindagem pessoal, em que, a um tempo,
são cometidas duas inquinações incompatíveis com a postura do homem público, materializadas
por via de acordo espúrio com bloco de parlamentares cujas fichas corridas são tidas,
pelo presidente, por indignidades perante o exercício de atividades públicas.
A
outra diz respeito à finalidade do objeto fixador do famigerado “toma lá, dá cá”,
indiscutivelmente não condizente com o interesse público, mas sim exclusivamente
para possibilitar a votação dos parlamentares do Centrão contra a abertura do
processo de impeachment do presidente da país, na Câmara dos Deputados, tendo o
envolvimento de recursos públicos nessa aliança questionável, e isso é forma
explícita de corrupção, pelo menos nos países cm o mínimo de seriedade.
Não
obstante, a cegueira dos defensores dessa monstruosidade só conseguem enxergar
montanhas de boas ações do governo, porque, para eles, os fins justificam os
meios, quando se encontra em jogo o cargo do presidente do país, que, de tanto
aprontar, vem sendo ameaçado de impeachment, bem antes mesmo de começar a
cuidar da verdadeira agenda presidencial.
Convém
que os brasileiros, não importando a ideologia, tenham inteligência, sabedoria
e boa vontade para enxergarem os fatos como eles realmente são, perdendo a vergonha
na cara de reconhecer o que realmente está fora dos paradigmas de seriedade, regularidade
e moralidade, porque o contrário disso é forma incompatível com os princípios
de cidadania e civismo, com o apoiamento de gestão pública por mera condescendência
por motivos ideológicos, com evidente prejuízo para o interesse público, ou
seja, da sociedade que é representada por homens públicos que precisam se
envergonhar pelo que fazem de nebuloso e questionável.
Brasília,
em 20 de junho de 2020
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