domingo, 7 de junho de 2020

A sentença do poder


Outro dia, um ilustre conterrâneo de Uiraúna, Paraíba, conversando digitalmente comigo, confessou a sua preocupação com a situação brasileira, diante de sucessivas e grandiosas crises, tendo aproveitado para manifestar o seguinte:Isso nobre amigo e o meu pensamento desde essa polêmica. E duro ver a politização desse vírus, só porque o presidente citou esse protocolo a esquerda que só se interessa pelo poder, prefere que muitos morram a reconhecer que Bolsonaro está certo muito triste a situação do nosso país! Um grande abraço amigo conterrâneo.”.
Nesse ponto, eu disse que achava importante todo apoio ao presidente, mas é preciso analisar os fatos com mais ponderação.
No momento, a água está na fervura, mas o presidente põe mais lenha para aumentar a ebulição e causar maior impacto social, que ainda conta com o apoio de seus seguidores, que nunca estiveram tão dispostos a empunharem armas para defendê-lo.
Eu vejo tudo isso com muita preocupação, inclusive percebendo que as avaliações por parte do governo já se encontram no limite e isso não é bom.
É preciso jogar água nesse fogo, antes que ele se alastre e não tenha mais como controlar, resultando em graves consequências para os brasileiros, inclusive confrontos generalizados entre grupos ou facções antagônicos.
No meu modo de entender, falta um pouco de juízo para o presidente, que possa contar exatamente com alguém que tenha um pouco mais de maturidade política do que ele, para dar o tom da moderação, do equilíbrio e da sensatez, que são extremamente importantes e necessários quando se atinge momento crucial como o atual.
Vejam-se que o presidente fez fortíssimas ameaças aos poderes, no sentido de deixar claro, dito com todas as letras, que tinha chegado ao limite e não ia mais tolerar abusos de autoridade, dando a entender que ele pode fechar o Supremo, se houver mais algum ato considerado abusivo, evidentemente na concepção dele.
Isso é muito ruim, diante da gravidade que ele venha assim considerar, quando ele realmente entender de tomar medida violenta e até despropositada, a troco de nada, só porque ele tenha entendido que foi passado o limite e aí Inês está morta, ou seja, não tem mais conserto nem volta à normalidade.
Não será nada fácil a adoção de medida de exceção à normalidade constitucional, como o fechamento do Supremo, por exemplo, tão somente por interpretação pessoal, quando não se trata exatamente daquilo que ele achava que era abusivo, ou ainda, pelo contrário, quando a situação é realmente gravíssima e ele não adota as medidas que dissera que tomaria.
Vejam-se que a situação exige bastante equilíbrio, mas o presidente está simplesmente nadando nas ondas das manifestações de protestos, porém totalmente absorto e fora de sintonia da realidade sobre seus arroubos.
Ao que tudo indica, é bem provável que não tenha ninguém à altura com a necessária capacidade de inteligência e ponderação para assessorá-lo como precisa agir com moderação, calma e acertadamente nesses momentos delicados, à vista das tresloucadas declarações dele, que não têm limites, em razão dos fatos que  acontecem no Supremo, principalmente.
É evidente que o presidente precisa avaliar com muita responsabilidade as medidas que entender necessárias exclusivamente ao interesse público, mas, neste último caso, ele tomou as dores de casos estranhos ao governo.
Não poderia haver maior absurdo, o presidente do país chegar à exaustão, motivado por questões relacionadas com apoiadores dele, diante de determinação do Supremo, envolvendo pessoas que teriam participado da disseminação de mensagens consideradas fake news ou outras do gênero.
À toda evidência, trata-se de casos completamente estranhos à competência constitucional do presidente, por não haver qualquer ligação com o interesse do Estado, mas o presidente se mostrou extremamente ofendido e mandou recado duríssimo e totalmente desnecessário, descabido e ofensivo ao Supremo, em forma de fortes ameaças, falando em nada mais será tolerado, porque ele entendeu que já chegou ao limite de tolerância, cujo contexto estar-se-ia muito mais adequado a governos totalitários, que entendem que é preciso se estabelecer limites, mesmo no pleno exercício das faculdades propiciadas pelo Estado Democrático de Direito.
Ou seja, não assiste a mínima razão para que o presidente do país se intrometa em assuntos que não lhe dizem respeito, mas além da indevida intromissão, ele procura intimidar o trabalho do Supremo, ao dizer que não vai aceitar outra decisão que não esteja na linha da sua aceitação, mas, na avaliação do grosso e duro tom das ameaças, com certeza a medida que ele pensa em adotar não será de carícia nem de mimo para os padrões militares.
O pior de tudo isso é que seus apoiadores ainda ficam dando apoio em algo que não tem nada a ver com a competência privativa de governo, porque trata-se de assunto estranho ao interesse público.
Enfim, cada cabeça uma sentença, assim diz o ditado.
Urge que o presidente da República se conscientize de que é preciso que ele se dedique, com a extrema urgência, para os afazeres pertinentes às suas importantes funções constitucionais, exatamente com vistas ao fiel cumprimento do cargo para o qual ele foi eleito, com embargo de outras atividades de somenos importância, principalmente neste momento em que as crises econômicas, de saúde pública e outras importantes políticas públicas estão reclamando e implorando por permanentes cuidado e coordenação.
Brasília, em 7 de junho de 2020

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