sábado, 27 de junho de 2020

O verdadeiro sentido da democracia


Na crônica intitulada “Não confundir o público com o privado”, foi mostrado, basicamente, que o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional contrariou, em depoimento à Polícia Federal, o presidente da República, ao afirmar que este nunca teve embaraço para mudar o pessoal da sua segurança, no Rio de Janeiro, versão esta que não combina com o que garantiu o mandatário, que teria dito o contrário, depois de ter sido denunciado pelo ex-ministro da Justiça, de que não aceitava a interferência de seu então chefe na Polícia Federal.     
Diante das minhas colocações, importante e atento conterrâneo de Uiraúna, Paraíba, achou por bem tecer vários comentários acerca dos assuntos abordados no  supracitado texto, tendo concluído, in verbis: “(...) Vamos aceitar a decisão do resultado do processo democrático eleitoral! Viva o Brasil! Viva a democracia!”.
Embora a crônica sob o título “Fatos e versões” tenha tentado discorrer sobre os demais assuntos, esses outros que falam mais especificamente sobre a necessidade da aceitação do resultado das urnas não foram sequer tangenciados ali.
Pois bem, convém sim concordar com o que os brasileiros decidiram no processo eleitoral, sabendo-se que foi, enfim, a única oportunidade de salvação nacional, diante de tudo o que foi mostrado para o Brasil e o mundo, em termos de destruição do patrimônio da República brasileira, por meio de gestão extremamente degenerativa e predatória do patrimônio público, patrocinada por governos da esquerda, que tinham por objetivos cristalinos a perpetuidade no poder, não importando os fins nem os meios empregados para serem alcançadas suas ambiciosas megametas político-partidárias.
Foi preciso a competência, a coragem e a engenhosidade de destemidos brasileiros para o desvendamento das falcatruas e monstruosidades engendradas nos meandros da petrolífera brasileira e mostrar os rombos de bilhões de reais desviados do patrimônio nacional, tendo por finalidade, entre outros objetivos, o financiamento de milionárias campanhas eleitorais poderosas, com a manutenção de caríssimo escritório de publicidade, com capacidade para sustentar arranjos e mentiras de governos corruptos e trapaceiros, apoiados por políticos inescrupulosos e aproveitadores do dinheiro sujo desviado da Petrobrás.
Todo esse engenhoso trabalho de investigação foi operado graças à impetuosidade dos patriotas integrantes competentes da Operação Lava-Jato, que fizeram investigações jamais realizadas no Brasil, propiciando igualmente que a Justiça autorizasse verdadeira devassa nos contratos da Petrobras, cujos resultados das investigações revelaram o mar de lama protagonizado por governos da esquerda.
Diante dessas bombásticas revelações, conjuminadas com prisões de altas autoridades do mundo político, empresarial e de outros setores igualmente corruptos e aproveitadores de recursos públicos, boa parcela dos eleitores brasileiros, aquela que se convenceu sobre as roubalheiras dos cofres públicos, precisava acreditar nas promessas de mudanças, como forma de salvação nacional, e elegeram o candidato com as características da esperança.
Isso não significa que o atual presidente tenha ficado ou seja imune às críticas aos seus atos, como se elas tivessem a ver com o processo eleitoral, que é caso sacramentado e encerrado e faz parte do exercício democrático, assim também o é a discordância de determinado ato presidencial considerado fora da normalidade republicana, ou seja, da legalidade, a exemplo da implementação de medida destinada à satisfação de interesse particular, exatamente por falta de amparo legal.  
Assim, não há o menor espaço para se discutir, em momento algum, sobre a legitimidade do processo eleitoral, constituindo evidente insensibilidade por parte de quem aconselha a aceitação do resultado das urnas, a despeito das críticas que são necessariamente feitas à atuação do presidente brasileiro, em razão de guinadas da agenda político-administrativa jungida necessária e rigorosamente à liturgia da regularidade.
No caso de suas atuações que forem consideradas incompatíveis com as condutas próprias do relevante cargo de príncipe da República ou com a legislação da qual ele não tem o direito de se afastar nem em pensamento, em situação que entender de resolver casos estranhos aos assuntos intimamente vinculados ao interesse público, é dever de todo brasileiro denunciar, porque isso faz parte do seu dever de cidadania e patriotismo, como forma de se contribuir positivamente com o processo de fiscalização cívica sobre a boa e regular aplicação do dinheiro público.
É preciso ficar bastante claro que essa maneira de se mostrar que o mandatário brasileiro não age segundo o ditame normativo não tem nada com a aceitação ou não sobre o resultado do pleito eleitoral, mas sim com o cumprimento inerente a todo brasileiro que demonstra amor ao Brasil, porque é exatamente por meio da denúncia de atos fora da normalidade que são adotadas as devidas medidas de correção de rumos, em benefício dos brasileiros e em razão de possível desperdício de recursos, que podem passar a ser canalizados para programas ou atividades próprios das políticas públicas.
Aliás, as pessoas inteligentes sabem perfeitamente que as críticas construtivas são maneiras saudáveis e têm o condão de contribuir para o aperfeiçoamento dos princípios democráticos, tendo em vista que a sua finalidade precípua é precisamente o cuidado com as incorreções, que são próprias de quem trabalha e produz, que não pode ficar imune às boas censuras, nem mesmo o mandatário da nação, que precisa ser permanentemente alertado nos casos em que ele vier a se desviar do alinhamento da normalidade.
O pensamento de acomodação das críticas construtivas tem aceitação natural nos países modernamente evoluídos, em termos políticos e democráticos, diante da visão de que a finalidade da denúncia é a de sempre sinalizar para os governantes sobre o estudo da conveniência de mudanças de suas políticas e ações, com vistas ao aperfeiçoamento da gestão pública, que precisa refletir em benefício do interesse público.
Salvo os casos de predominância ideológica, que dificilmente consegue descer do seu pedestal de bom entendedor de tudo melhor do que os outros, as pessoas normais entendem perfeitamente que não se trata de aceitar ou não os resultados das urnas, quando a intenção mesmo das críticas é a de se contribuir para o aperfeiçoamento e o melhoramento da administração pública, porque, ela funcionando em perfeita harmonia com o interesse público, é a certeza de que o governante cumpre muito bem o papel para o qual foi eleito, à vista da prática do bem comum, em harmonia precipuamente com os princípios democrático e republicano.
Com todo respeito a quem pensa diferentemente da presente explanação, convém que os princípios democráticos socorram as suas mentes exatamente para que seja possível o entendimento no qual o presidente da República não pode tudo, tem limites e está obrigado a exercer o relevante cargo sob o  rigoroso regramento dos ditames constitucional e legal, à vista do seu juramento de posse, estando ainda sujeito à fiscalização dos órgãos de controle externo e da sociedade, como forma de se avaliar o seu desempenho na gestão dos recursos públicos.            
          Brasília, em 27 de junho de 2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário