segunda-feira, 8 de junho de 2020

Risco de golpe militar?


O respeitado jornal britânico Financial Times publicou, ontem, editorial em que critica o comportamento do presidente da República brasileira, em especial por ele participar de manifestações em apoio ao seu governo e de protestos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
O entendimento do aludido jornal é o de que “há uma possibilidade mais preocupante: que Bolsonaro, cada vez mais confrontado, esteja desiludido com o processo democrático pelo qual ele foi eleito e queira minar as instituições que sustentam o país”.
Em outro tópico, o jornal britânico enfatiza que “Isso pode soar exagerado. Mas poucos presidentes eleitos atenderiam e contemplariam protestos nos quais os manifestantes pedem pelo fechamento do Congresso e da Suprema Corte, sendo substituídos por uma lei militar. Ainda assim, isso é o que o Sr. Bolsonaro fez – não uma, mas várias vezes. No fim de semana passado ele apareceu em uma dessas manifestações montado a cavalo”.    
Em conclusão, o editorial diz que “Até o momento, as instituições brasileiras resistiram ao ataque, com forte apoio público. É improvável que o exército apoie um golpe militar para instalar Bolsonaro como um autocrata. Mas outros países devem observar: os riscos para a maior democracia da América Latina são reais e estão crescendo.”.
Fora de dúvida, não faz o menor sentido que o presidente do país participe ativamente desses movimentos tanto questionáveis como em plena evolução da poderosa coronavírus, que já tirou a vida de mais de 37 mil brasileiros e infectou outros milhares.
Ao a apoiar e participar efetivamente de movimentos de protestos, o presidente demonstra também, com muita clareza, o desprezo aos princípios humanitários, que recomendariam que ele, no mínimo, tivesse a sensibilidade de se aquietar no isolamento social em curso e mais ainda em respeito e solidariedade ao sofrimento das famílias envoltas em tragédia que preocupa muito os brasileiros, por se tratar de momento que exige muitos esforços para a superação da pandemia do coronavírus.
Nesse ponto, cabe ao presidente do país, como autoridade máxima, liderar campanha de mobilização da sociedade, no sentido de que todos precisam convergir em esforços para combater a força da penetração do Covid-19, por meio da observância das medidas recomendadas pelo próprio governo, que tem a incumbência primordial de executar as políticas de saúde pública, em forma de prevenção e proteção da vida dos brasileiros.
Data vênia do entendimento do Financial Time, não existe desilusão alguma, por parte do presidente brasileiro, com relação ao processo democrático, haja vista que o enorme desgaste político-administrativo enfrentado por ele, na atualidade, é fruto de seus próprios comportamento e desempenho na direção do país, certamente por não ter conseguido compreender a real dimensão da responsabilidade que foi assumida por ele, à vista das suas constantes trombadas com os demais poderes da República, que, em momento algum, houve o sentido de entendimento para o necessário diálogo com vistas à discussão e à solução conjunta das questões que foram surgindo ao longo do seu governo, conforme mostram os fatos.
Ao contrário da desilusão apregoada pelo citado jornal, o presidente sobreleva os princípios democráticos para impor o seu pensamento rebelde de não aceitação pacífica das decisões que são discordantes do seu pensamento autoritário, à vista dos últimos arroubos dele de que “chega ...”, não será tolerada mais provocação, em claro recado dirigido ao Supremo, dizendo que a sua paciência já atingiu o limite.
Na verdade, o comportamento do presidente do país atingiu patamar que destoa, em muito, do sentimento de estadista que se pauta na compreensão institucional da democracia, em que as questões pertinentes ao interesse público são solucionadas por meio da discussão amadurecida, inteligente e civilizada, quando isso é possível, ou dos recursos protocolares em nível de relacionamentos diplomáticos, em harmonia com as normas tradicionais do respeito às convenções institucionalizadas da competência das instâncias, ou seja, as divergências podem perfeitamente ser equacionadas e solucionadas, de maneira educada e racional, por meio do convencimento argumentativo próprio e adequado, com embargo do desconforto das truculentas ameaças e intimidações autoritárias, porque isso é forma própria de tiranias, não compatíveis com a evolução da humanidade.  
À toda evidência, causa enorme perplexidade que a autoridade máxima do país não seja alertada para o verdadeiro desastre da participação, do apoiamento e da estimulação de movimentos de protestos cujo cunho, além de demonstração de apoio ao seu governo, é também o de defender o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, que são instituições essencialíssimas ao regime democrático.
Não obstante, sobre isso, ele apenas se solidariza com a maior satisfação com os movimentos até de instigação, posto que aplaude os manifestantes munidos de faixas e gritos entusiásticos, sem esposar qualquer incômodo diante de abominável situação, que é absolutamente inadmissão, nas circunstâncias.
É até aceitável a possibilidade pacifica e civilizada de outras formas de críticas sobre a atuação desses poderes, com sugestão para o seu aperfeiçoamento funcional ou algo do gênero, mas jamais se cogitar da sua extinção, porque essa maneira de pensamento vai na contramão dos princípios democráticos, que precisam sim ser melhorados e consolidados, para o próprio bem da sociedade moderna, que não pode evoluir sem o adjunto ao Executivo dos outros poderes republicanos, em funcionamento com plenas harmonia, autonomia e integridade, em benefício dos brasileiros.
Não se pode condenar, em absoluto, os alertas que vêm do estrangeiro sobre o comportamento do presidente tupiniquim, porque se trata de visão de quem tem experiência política e analisa os fatos à luz da realidade, que precisam ser avaliada, nesse caso, pelos brasileiros, notadamente porque os seus interesses estão sob a mira dos holofotes do mundo, a chamarem atenção de algo que interessa tanto internamente como às nações que mantêm relações diplomáticas com o Brasil.   
Por fim, cabe aos brasileiros pôr freios, com a máxima urgência, aos impulsos antidemocráticos do presidente da República, por meio de veemente repúdio às suas participações em movimentos de protestos impróprios e intempestivos e declarações autoritárias de ameaças e intimidações, que são próprias de regimes totalitários, diferentemente do que se imagina para a prevalência do respeito e do acatamento às salutares estruturas democrática e republicana brasileiras, que precisam perdurar intatas, para a segurança, a tranquilidade e o bem-estar dos brasileiros.
Brasília, em 8 de junho de 2020 

Nenhum comentário:

Postar um comentário