Com muitíssimo respeito
às pessoas inteligentes que defendem a intervenção militar urgente, porque esse
sentimento de pensar e defender as suas ideias se assenta normalmente no princípio
democrático de entender o que seja o melhor para o país e o seu povo,
evidentemente sob a convicção de que ela será a salvação da pátria amada
Brasil.
Pois bem, parece que parte
dos brasileiros chegou a essa simplista conclusão de que o melhor mesmo, para o
país, é a ruptura da democracia, por meio do qual somente passa a funcionar a
vontade militar, com o imediato fechamento do Congresso Nacional, do Supremo
Tribunal Federal e, por via de consequência, da Presidência da República,
porque intervenção militar propriamente dita compreende a eliminação do Estado
Democrático de Direito e passa a funcionar o regime militar de exceção, com
normas próprias, sob a égide do pensamento do comandante que for liderar a
transição, absolutamente sem as estruturas democráticas, porque essa ordem será
imediatamente substituída pelo regime de exceção, que será ditado segundo o
pensamento de algum general ou de alguns oficiais generais das Forças Armadas,
onde, a partir de então, a sardinha poderá ser assada somente segundo o
pensamento rigoroso da cartinha das academias, que acompanham com eles o resto
da vida.
E somente Deus tem
condições de saber o verdadeiro destino dos brasileiros, inclusive daqueles que
estão mais do que ávidos por intervenção militar de verdade, certamente por acharem
que essa é melhor maneira para consertar as crises política, econômica, de
saúde pública e outras.
Não que eu menospreze o
regime militar, que nem teria motivo para isso, porque servi, como militar, com
muita honra, à Força Aérea Brasileira, tendo acompanhado, não participado,
ativamente do auge dos movimentos da época, por ter entrado no serviço militar
no meado de 1966 e permanecido na Aeronáutica até março de 1979, e posso dizer
que tenho experiência do que estou falando como pessoa que compreende
perfeitamente o que seja realmente o regime militar.
É consabido que a intervenção
militar teria, em princípio, a finalidade de consertar alguns pontos que não estariam
se encaixando perfeitamente no sentimento de parcela de alguns brasileiros, que
acham que a solução é a presença de militares no poder, para a pronta adoção
das medidas de saneamento de poderes da República.
A experiência diz que,
após o saneamento desses pontos carentes de reparo, os militares poderiam tomar
gosto pelo poder e permanecerem ad eternum no poder, evidentemente mais
do que o tempo necessário para o seu trabalho, vindo a causar enormes prejuízos
aos brasileiros, que ficariam privados do usufruto do exercício da democracia
plena, que é direito consagrado e defendido nos países civilizados e evoluídos,
em termos políticos e democráticos, por saberem conscientemente sobre a real
importância do pleno funcionamento dos poderes da República, onde o povo possa
eleger normalmente seus representantes para a ocupação dos cargos públicos
eletivos, tendo plena liberdade para opinar com consciência sobre as atividades
da República.
É preciso que o povo
tenha mais amadurecimento cívico e patriótico, para tentar se conscientizar
mais amplamente sobre o que realmente significa o processo referente à intervenção
militar, principalmente na dimensão que ela poderá abranger, notadamente se seu
pensamento for o de ter poderes excepcionais bastantes elastecidos, com
capacidade para intervir em tudo, inclusive na individualidade dos cidadãos e
simplesmente ninguém poderá reclamar de absolutamente nada, tendo apenas o
direito de aceitar a realidade nua e crua.
Aliás, é bem provável
que muitas pessoas que defendem a intervenção militar estejam completamente despreparadas,
apenas vagando no mundo da lua, cheias de sentimentos de mudanças mirabolantes
na cabeça, sem atinarem exatamente para as consequências das drásticas transformações,
na vida dos brasileiros, quando, a partir de então, eles já vão se preocupar em
lutar pela reconquista dos direitos fundamentais do ser humano do livre,
pertinente ao saudável exercício da política e da democracia.
Urge que os brasileiros
de boa vontade, no âmbito da sua responsabilidade cívica e patriótica, repensem
profundamente o seu ardente desejo de intervenção militar, porque pensamento
nesse sentido nada mais é do que o antídoto dos salutares princípios políticos
e democráticos, que são a essência defendida pelos povos das nações imbuídas
dos sentimentos de seriedade, civilidade e evolução, em termos humanitários.
Brasília, em 1° de junho
de 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário