segunda-feira, 1 de junho de 2020

Intervenção militar?


Com muitíssimo respeito às pessoas inteligentes que defendem a intervenção militar urgente, porque esse sentimento de pensar e defender as suas ideias se assenta normalmente no princípio democrático de entender o que seja o melhor para o país e o seu povo, evidentemente sob a convicção de que ela será a salvação da pátria amada Brasil.
Pois bem, parece que parte dos brasileiros chegou a essa simplista conclusão de que o melhor mesmo, para o país, é a ruptura da democracia, por meio do qual somente passa a funcionar a vontade militar, com o imediato fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e, por via de consequência, da Presidência da República, porque intervenção militar propriamente dita compreende a eliminação do Estado Democrático de Direito e passa a funcionar o regime militar de exceção, com normas próprias, sob a égide do pensamento do comandante que for liderar a transição, absolutamente sem as estruturas democráticas, porque essa ordem será imediatamente substituída pelo regime de exceção, que será ditado segundo o pensamento de algum general ou de alguns oficiais generais das Forças Armadas, onde, a partir de então, a sardinha poderá ser assada somente segundo o pensamento rigoroso da cartinha das academias, que acompanham com eles o resto da vida.     
E somente Deus tem condições de saber o verdadeiro destino dos brasileiros, inclusive daqueles que estão mais do que ávidos por intervenção militar de verdade, certamente por acharem que essa é melhor maneira para consertar as crises política, econômica, de saúde pública e outras.
Não que eu menospreze o regime militar, que nem teria motivo para isso, porque servi, como militar, com muita honra, à Força Aérea Brasileira, tendo acompanhado, não participado, ativamente do auge dos movimentos da época, por ter entrado no serviço militar no meado de 1966 e permanecido na Aeronáutica até março de 1979, e posso dizer que tenho experiência do que estou falando como pessoa que compreende perfeitamente o que seja realmente o regime militar.
É consabido que a intervenção militar teria, em princípio, a finalidade de consertar alguns pontos que não estariam se encaixando perfeitamente no sentimento de parcela de alguns brasileiros, que acham que a solução é a presença de militares no poder, para a pronta adoção das medidas de saneamento de poderes da República.
A experiência diz que, após o saneamento desses pontos carentes de reparo, os militares poderiam tomar gosto pelo poder e permanecerem ad eternum no poder, evidentemente mais do que o tempo necessário para o seu trabalho, vindo a causar enormes prejuízos aos brasileiros, que ficariam privados do usufruto do exercício da democracia plena, que é direito consagrado e defendido nos países civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos, por saberem conscientemente sobre a real importância do pleno funcionamento dos poderes da República, onde o povo possa eleger normalmente seus representantes para a ocupação dos cargos públicos eletivos, tendo plena liberdade para opinar com consciência sobre as atividades da República.
É preciso que o povo tenha mais amadurecimento cívico e patriótico, para tentar se conscientizar mais amplamente sobre o que realmente significa o processo referente à intervenção militar, principalmente na dimensão que ela poderá abranger, notadamente se seu pensamento for o de ter poderes excepcionais bastantes elastecidos, com capacidade para intervir em tudo, inclusive na individualidade dos cidadãos e simplesmente ninguém poderá reclamar de absolutamente nada, tendo apenas o direito de aceitar a realidade nua e crua.
Aliás, é bem provável que muitas pessoas que defendem a intervenção militar estejam completamente despreparadas, apenas vagando no mundo da lua, cheias de sentimentos de mudanças mirabolantes na cabeça, sem atinarem exatamente para as consequências das drásticas transformações, na vida dos brasileiros, quando, a partir de então, eles já vão se preocupar em lutar pela reconquista dos direitos fundamentais do ser humano do livre, pertinente ao saudável exercício da política e da democracia.    
Urge que os brasileiros de boa vontade, no âmbito da sua responsabilidade cívica e patriótica, repensem profundamente o seu ardente desejo de intervenção militar, porque pensamento nesse sentido nada mais é do que o antídoto dos salutares princípios políticos e democráticos, que são a essência defendida pelos povos das nações imbuídas dos sentimentos de seriedade, civilidade e evolução, em termos humanitários.
Brasília, em 1° de junho de 2020

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