terça-feira, 30 de junho de 2020

Lembranças da seca de 1958


O poeta Vandenildo Oliveira, conterrâneo da cidade de Uiraúna, Paraíba, escreveu poesia fazendo alusão às secas ocorridas, na região nordestina, nos anos de 1971 e 1973, onde mostrou a movimentação das pessoas envolvidas e atingidas com as agruras da estiagem, que obrigo os governos a socorrê-las com o normal alistamento, em forma de ajuda para a subsistência das famílias.
Foi então que eu disse ao querido poeta Vandenildo que a poesia da lavra dele tinha a feição de maravilha, por ter tido a capacidade de resgatar em mim um dos momentos mais deslumbrantes e marcantes da minha infância.
Era exatamente o ano de 1958, onde ocorreu lá para as bandas de Uiraúna, e do Nordeste em geral, uma das piores e massacrantes secas da história dessa região, em que o governo do maior presidente brasileiro, de todos os tempos, socorreu prontamente o povo sofrido, castigado pela inclemente seca, criando numerosas frentes de trabalho, justamente para ajudar o povo a atravessar o infortúnio climático que se abatia naquela região, em condições da maior dignidade jamais propiciada aos nordestinos, pela sua dimensão.
Eu tinha apenas 9 anos de idade, mas, mesmo assim, me tornei cassaco – nome dado a quem se alistava -, porque a situação era realmente dramática e toda criançada precisou ir para a frente de trabalho, como alistado.
O trabalho dos cassacos era bastante pesado, tendo por base o carregamento de terra em carrinhos, para a construção da estrada que ligava Uiraúna ao então Antenor Navarro.
Lembro-me que tinha muita gente sob o comando de um apontador, que ficava incumbido de administrar e coordenar o trabalho dos operários, que desempenhavam a dura missão em ambiente de incontida animação.
Eu ficava a semana inteira sob os cuidados desse apontador, que se estabelecia em uma grande tenda, uma espécie de barracão de lona (a nossa ficava na proximidade dos Pocinhos) e dali ele comandava o seu pessoal, inclusive eu.
Eu não pegava no pesado, mas tinha a obrigação de permanecer nas proximidades do barracão, atento, sob a incumbência o fazimento de pequenos serviços de recados e chamamento de pessoas, levando instrução ou recados.
Não obstante, eu sempre me afastava do barracão, com minha baladeira a tiracolo, à procura de alguma rolinha, que também ficou escassa com a seca, e não teve vez nem para os tranquilos teús, que também sumiram do mapa.
Foi realmente tempo de enormes dificuldades para todo pessoal, mas, em contraste à cinérea situação, nunca vi tamanha animação do povo, diante de tantas bonança, fartura e novidade na alimentação, porque foi graças à seca de 58 que Uiraúna passou a conhecer, em fartura, carne jabá, feijão carioca e arroz branco, que eram mandados pelo governo e tudo chegava com abundância.
Ou seja, em que pesem as dificuldades decorrentes da seca propriamente dita, jamais, em tempo algum, o nordestino viu tanta fartura à sua disposição, graças à magnanimidade do grande estadista Juscelino Kubitschek de Oliveira, o construtor imortal da mais linda cidade do Centro-Oeste (não vou dizer do Brasil para não causar ciumeira nem inveja a ninguém, se bem que não tinha nada de mais em dizê-lo, porque Brasília é a minha segunda terra natal, onde vivo há mais de 54 anos e o meu amor por ela só se compara ao que sinto por Uiraúna, mas por outro motivo de pura afinidade por tudo que ela representa para mim e propiciou de felicidade à minha vida).
Fiquei muito agradecido ao festejado poeta Vandenildo Oliveira, que é da mesma família do famoso presidente brasileiro da época, por tão encantada poesia que muito diz sobre vidas comuns, fazendo-me relembrar da grande seca de 1958, que foi, indubitavelmente, o meu primeiro e maior teste de resistência e bravura, por ter conseguido saído dela são e salvo.
          Brasília, em 30 de junho de 2020  

Nenhum comentário:

Postar um comentário