Ao
anunciar o nome do novo ministro da Educação, o presidente da República fez questão
de sublinhar que ele era “Bacharel em ciências econômicas pela UERJ, mestre
pela FGV, doutor pela Universidade de Rosário, na Argentina, e pós-doutor pela
Universidade de Wüppertal, na Alemanha”.
Fora
de dúvida, a princípio, parecem invejáveis as credenciais do novo ministro da
Educação, que é órgão da maior importância cultural da nação, por ser responsável
pela execução das políticas públicas referentes ao sistema educacional, cujo
titular precisa realmente ser pessoa qualificada, com capacidade de assegurar
credibilidade na direção de instituição essencial à satisfação do interesse
público.
É
preciso que se diga, a bem da verdade, que o anunciado currículo não tem
qualquer vinculação com a área técnica específica do ministério de que se
trata, que seria mais do que conveniente e imprescindível para o fim de se
promover as tão ansiadas revolução e modernização do ensino e da educação brasileiros.
Praticamente
nem começou a trabalhar no novo emprego, a maioria dos títulos anunciados pelo
presidente brasileiro foi posta em dúvida pelas instituições de origem, que
negaram a conclusão, pelo novo ministro, dos respectivos cursos.
A
pessoa responsável pela comunicação da Bergische Universität Wüppertal (BUW)
afirmou que "Carlos Decotelli não obteve nenhum título na nossa
universidade", ou seja, de pós-doutor, como havia sido divulgado, tendo
aproveitado para afirmar que a universidade alemã oferece cerca de 110 cursos
em diversas áreas e tem mais de 22 mil estudantes.
Em
nota enviada a um jornal brasileiro, a universidade alemã esclareceu que o
ministro conduziu pesquisas na universidade por um período de três meses em
2016, mas não concluiu nenhum programa de pós-doutoramento.
Não
obstante, segundo o jornal, no currículo disponível na plataforma Lattes do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o novo ministro
descreve que frequentou a universidade alemã entre 2015 e 2017 e que recebeu o
título de pós-doutor.
Entenda-se
que pós-doutorado não é um título acadêmico formal, mas é termo comumente empregado
em referência a pesquisas feitas após o acadêmico obter título de doutor, sendo
que este depende da defesa de tese específica.
Nessa
mesma linha de informação imprecisa e incompleta, quanto ao verdadeiro currículo
do novo ministro da Educação, o reitor da Universidade Nacional de Rosário
(Argentina) informou que o ministro não obteve título de doutor em
administração da Faculdade de Ciências Econômicas e Estatísticas, tendo confirmado
que a tese de doutorado foi reprovada.
Para
completar o ciclo de horror envolvendo a reputação logo do ministro da Educação,
o título de mestre, incluído no seu currículo, também levanta suspeitas, uma vez
que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apura eventual plágio na dissertação de
mestrado apresentada por ele, que teria frequentado o curso em Administração
profissional na FGV, no período de 2006 a 2008.
Na
realidade, diante da falta da confirmação sobre a autenticidade da conclusão
formal de cursos indicados pelo ministro, não resta dúvida quanto ao
desconforto tanto para ele, que faltou com a verdade, porque essa história pode
caracterizar falsidade ideológica: a afirmação de algo inexistente, porque não
fica clara a intenção do seu autor, como para o governo, que imaginava, tanto
que anunciou, que estaria nomeando para comandar logo a pasta que exige grau
máximo de credibilidade moral pessoa realmente possuidora dos títulos
anunciados pelo presidente do país, em termos de qualificação necessária e compatível
com a grandeza das suas responsabilidades.
Para
o presidente que enche o peito para declarar “E conhecereis a verdade, porque
a verdade vos libertará” (João 8:32), não fica nada bem ter que engolir essa
história que, em princípio, pode ser verdadeira de alguém meter no seu
currículo títulos que jamais concluiu e, o mais grave de tudo isso, é o seu
autor ter conseguido enganar logo o seu chefe imediato, que precisa trabalhar,
em confiança, com pessoa de honorabilidade acima de qualquer suspeita, o que, ao
tudo indica, não é caso de quem diz que tem qualificação escolar adquirida junto
a instituições de ensino que a nega de forma peremptória.
Diante
da gravidade dos fatos, seria normal que o principal envolvido ou o governo viesse
a público para esclarecê-los à nação e à opinião pública, que estão
estarrecidos ao saberem sobre algo absolutamente inadmissível, à luz dos
princípios da ética e da moralidade, por não haver qualquer justificativa plausível
sobre eles.
Diante
da repercussão bastante negativa, tanto em nível nacional como internacional, porque
o currículo dos cidadãos, em especial dos homens públicos, precisa refletir e
corresponder exatamente à realidade sobre a identidade autêntica do que é a
vida pessoal, mostrando com precisão e fielmente o retrato individual a ser
exposto à sociedade, é absolutamente inadmissível que logo o titular do
Ministério da Educação possa acomodar alguém que pode ter traído os comezinhos princípios
de cidadania, quanto à fidelidade ao próprio currículo, evidentemente a juízo
de valor com base nas informações divulgadas pela imprensa, que não foram
desmentidas, até o momento.
Á
toda evidência, possa até nem constituir embaraço, sob o prisma do sentimento do
governo, para o desempenho dos trabalhos da incumbência atribuída ao novo ministro,
que nem deve ter recebido missão especial nem metas a serem alcançadas, mas a
impressão que se tem, por parte das pessoas dignas e honradas é no sentido de
que o presente episódio tem sim o condão de manchar a imagem do governo, que
precisa se pautar sob a estrita égide dos princípios republicanos.
Na
concepção mais compatível com a modernidade e os avanços da humanidade, o Ministério
da Educação até que já merece ser comandado por pessoa qualificada tecnicamente
na sua área de atuação, sendo condenável a indicação de quem apenas recebe a missão
de executar determinada função exclusivamente para satisfazer a vontade do governo,
que demonstra nenhuma identidade com a satisfação do interesse público, mas sim
de grupo ideológico, em detrimento do desenvolvimento do Brasil.
Nos
países com o mínimo de seriedade, em termos de transparência e correção dos
atos da administração pública, episódio deplorável dessa magnitude já teria
sido saneado imediatamente à sua divulgação, a bem da verdade e da lisura que
precisam prevalecer com o envolvimento da coisa pública.
Brasília, em 29 de junho de 2020
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