O
respeitado jornal britânico Financial Times publicou, ontem, editorial
em que critica o comportamento do presidente da República brasileira, em
especial por ele participar de manifestações em apoio ao seu governo e de
protestos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
O
entendimento do aludido jornal é o de que “há uma possibilidade mais
preocupante: que Bolsonaro, cada vez mais confrontado, esteja desiludido com o
processo democrático pelo qual ele foi eleito e queira minar as instituições
que sustentam o país”.
Em
outro tópico, o jornal britânico enfatiza que “Isso pode soar exagerado. Mas
poucos presidentes eleitos atenderiam e contemplariam protestos nos quais os
manifestantes pedem pelo fechamento do Congresso e da Suprema Corte, sendo
substituídos por uma lei militar. Ainda assim, isso é o que o Sr. Bolsonaro fez
– não uma, mas várias vezes. No fim de semana passado ele apareceu em uma
dessas manifestações montado a cavalo”.
Em
conclusão, o editorial diz que “Até o momento, as instituições brasileiras
resistiram ao ataque, com forte apoio público. É improvável que o exército
apoie um golpe militar para instalar Bolsonaro como um autocrata. Mas outros
países devem observar: os riscos para a maior democracia da América Latina são
reais e estão crescendo.”.
Fora
de dúvida, não faz o menor sentido que o presidente do país participe ativamente
desses movimentos tanto questionáveis como em plena evolução da poderosa
coronavírus, que já tirou a vida de mais de 37 mil brasileiros e infectou
outros milhares.
Ao
a apoiar e participar efetivamente de movimentos de protestos, o presidente demonstra
também, com muita clareza, o desprezo aos princípios humanitários, que
recomendariam que ele, no mínimo, tivesse a sensibilidade de se aquietar no
isolamento social em curso e mais ainda em respeito e solidariedade ao
sofrimento das famílias envoltas em tragédia que preocupa muito os brasileiros,
por se tratar de momento que exige muitos esforços para a superação da pandemia
do coronavírus.
Nesse
ponto, cabe ao presidente do país, como autoridade máxima, liderar campanha de mobilização
da sociedade, no sentido de que todos precisam convergir em esforços para
combater a força da penetração do Covid-19, por meio da observância das medidas
recomendadas pelo próprio governo, que tem a incumbência primordial de executar
as políticas de saúde pública, em forma de prevenção e proteção da vida dos
brasileiros.
Data
vênia do entendimento do Financial Time, não existe desilusão alguma, por parte
do presidente brasileiro, com relação ao processo democrático, haja vista que o
enorme desgaste político-administrativo enfrentado por ele, na atualidade, é
fruto de seus próprios comportamento e desempenho na direção do país, certamente
por não ter conseguido compreender a real dimensão da responsabilidade que foi assumida
por ele, à vista das suas constantes trombadas com os demais poderes da
República, que, em momento algum, houve o sentido de entendimento para o necessário
diálogo com vistas à discussão e à solução conjunta das questões que foram surgindo
ao longo do seu governo, conforme mostram os fatos.
Ao
contrário da desilusão apregoada pelo citado jornal, o presidente sobreleva os
princípios democráticos para impor o seu pensamento rebelde de não aceitação pacífica
das decisões que são discordantes do seu pensamento autoritário, à vista dos
últimos arroubos dele de que “chega ...”, não será tolerada mais
provocação, em claro recado dirigido ao Supremo, dizendo que a sua paciência já
atingiu o limite.
Na
verdade, o comportamento do presidente do país atingiu patamar que destoa, em
muito, do sentimento de estadista que se pauta na compreensão institucional da
democracia, em que as questões pertinentes ao interesse público são solucionadas
por meio da discussão amadurecida, inteligente e civilizada, quando isso é
possível, ou dos recursos protocolares em nível de relacionamentos diplomáticos,
em harmonia com as normas tradicionais do respeito às convenções institucionalizadas
da competência das instâncias, ou seja, as divergências podem perfeitamente ser
equacionadas e solucionadas, de maneira educada e racional, por meio do
convencimento argumentativo próprio e adequado, com embargo do desconforto das
truculentas ameaças e intimidações autoritárias, porque isso é forma própria de
tiranias, não compatíveis com a evolução da humanidade.
À
toda evidência, causa enorme perplexidade que a autoridade máxima do país não
seja alertada para o verdadeiro desastre da participação, do apoiamento e da estimulação
de movimentos de protestos cujo cunho, além de demonstração de apoio ao seu governo,
é também o de defender o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal
Federal, que são instituições essencialíssimas ao regime democrático.
Não
obstante, sobre isso, ele apenas se solidariza com a maior satisfação com os movimentos
até de instigação, posto que aplaude os manifestantes munidos de faixas e
gritos entusiásticos, sem esposar qualquer incômodo diante de abominável situação,
que é absolutamente inadmissão, nas circunstâncias.
É
até aceitável a possibilidade pacifica e civilizada de outras formas de críticas
sobre a atuação desses poderes, com sugestão para o seu aperfeiçoamento
funcional ou algo do gênero, mas jamais se cogitar da sua extinção, porque essa
maneira de pensamento vai na contramão dos princípios democráticos, que
precisam sim ser melhorados e consolidados, para o próprio bem da sociedade
moderna, que não pode evoluir sem o adjunto ao Executivo dos outros poderes
republicanos, em funcionamento com plenas harmonia, autonomia e integridade, em
benefício dos brasileiros.
Não
se pode condenar, em absoluto, os alertas que vêm do estrangeiro sobre o
comportamento do presidente tupiniquim, porque se trata de visão de quem tem
experiência política e analisa os fatos à luz da realidade, que precisam ser
avaliada, nesse caso, pelos brasileiros, notadamente porque os seus interesses
estão sob a mira dos holofotes do mundo, a chamarem atenção de algo que
interessa tanto internamente como às nações que mantêm relações diplomáticas
com o Brasil.
Por
fim, cabe aos brasileiros pôr freios, com a máxima urgência, aos impulsos antidemocráticos
do presidente da República, por meio de veemente repúdio às suas participações em
movimentos de protestos impróprios e intempestivos e declarações autoritárias
de ameaças e intimidações, que são próprias de regimes totalitários,
diferentemente do que se imagina para a prevalência do respeito e do acatamento
às salutares estruturas democrática e republicana brasileiras, que precisam
perdurar intatas, para a segurança, a tranquilidade e o bem-estar dos
brasileiros.
Brasília,
em 8 de junho de 2020
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