domingo, 28 de fevereiro de 2021

A inércia como princípio?

 

A situação do Brasil, devido à incidência da Covid-19, é extremamente preocupante, à vista do registro da média móvel de 1.180 mortes, que é a maior desde o início da pandemia, segundo o boletim divulgado pelos veículos de imprensa.

Nas últimas 24 horas, foram notificados 50.840 novos casos e 1.275 novas mortes por Covid-19, o que mostra que, segundo o levantamento, o país contabiliza, agora, 10.508.634 infecções e 254.263 óbitos causados pela incontrolável pandemia.

Na última quinta-feira, foram registrados, no país, 1.582 óbitos por Covid-19, que é o número recorde desde o início da pandemia, cuja média móvel também bateu o recorde, tendo atingido 1.150 mortes diárias.

Em todo o país, 6,5 milhões de pessoas receberam a primeira dose do imunizante, o equivalente a apenas 3,09% da população brasileira, enquanto a segunda dose da vacina foi aplicada em 1,9 milhão de pessoas, ou o equivalente a 0,91% da população.

No momento de intensa incidência da doença, ao menos treze estados estão com taxas de internação por Covid-19 acima de 80% nas UTIs da rede pública, havendo notícia de que, em outros, as taxas ascendem a 100%, o que significa que muitas pessoas doentes estão sendo atendidas de maneira precária, sem aos necessários equipamentos apropriados à devida assistência médico-hospitalar, fato este que só confirma a gravidade que impera na saúde pública do país.

Diante do indiscutível caos que grassa no país, em verdadeiro massacre sobre a população, o presidente da Câmara dos Deputados anunciou que vai convocar reunião com os governadores para ouvir sugestões de medidas para o enfrentamento à pandemia e para a formulação do Orçamento.   

Por meio de publicação nas redes sociais, o parlamentar disse que a ideia é que essas sugestões de medidas emergenciais tramitem na Câmara com urgência.

O parlamentar afirmou que "Neste momento em que inúmeros governadores estão tendo que tomar a difícil decisão do lockdown, é hora de contribuir, buscando novas alternativas e novas vias legais para, juntos, mitigarmos essa crise”.

Sem a menor preocupação com o suscitamento de ideias no âmbito do governo, que dispõe de órgão com fantástica estrutura de ministério, que permanece inerte, completamente omisso diante da gravidade da saúde pública, como se esse gravíssimo problema não fosse da sua incumbência constitucional e legal, o presidente da República disse, em tom bastante claro e ainda mais ameaçador, que os governadores que fecham comércio "é que devem bancar o auxílio emergencial", não restando nada mais estarrecedor do que a prioridade do governo federal, nesse caso, mesmo diante do limite do caos, à vista da superlotação nos hospitais de doentes pela Covid-19, é literalmente o salvamento da economia, dando a entender que a vida humana não passa de meros números para estatística oficial de mortes.

Causa perplexidade ainda se verificar o tanto da insensibilidade demonstrada por muitas pessoas que ainda conseguem enxergar montanhas de competência em governo que não tem a mínima iniciativa para tentar encontrar mecanismos dentro da sua competência institucional, em cristalina evidência de que vale muito mais a importância do cargo público do que a relevância da vida humana, que vem sendo tratada em inferioridades aos princípios da economia, porque estes, ao que tudo indica, têm o peso de ouro na avaliação sobre os componentes necessários à reeleição.

Pobre Brasil cujo povo consegue subverter, em nome do fanatismo, da ideologia, os verdadeiros valores dos princípios, em que o econômico se antepõe ao humanitário, quando as civilizações mais primitivas ainda consideram que o ser humano goza da primazia, por mais que outros princípios possam ser essenciais à vida das pessoas, porque são estas as responsáveis pela existência das demais, inclusive da economia.

        Enfim, a importante e urgente iniciativa anunciada pelo presidente da Câmara dos Deputados apenas demonstra que a principal autoridade incumbida de cuidar diretamente da saúde e da vida dos brasileiros se encontra para lá de Bagdá, muito mais preocupado com algo relacionado com a reeleição ou como se livrar de processo de impeachment, dando azo para que presidente de outro poder da República tente buscar subsídios para a formulação de políticas capazes de influenciar no saneamento das questões pertinentes ao combate à pandemia.

Isso só demonstra a completa falta de sensibilidade administrativa para o enfrentamento de crise da maior gravidade, ante a incapacidade gerencial extremamente prejudicial aos interesses dos brasileiros, conforme mostram os fatos, em que o principal órgão com o nome de saúde não tem condições mínimas de oferecer qualquer contribuição efetiva para o combate da pandemia, ficando à mercê das ordens vindas de cima, que são absolutamente inexistentes, cuja consequência natural é o normal desastre que foi espargida sobre a saúde pública brasileira.

Na verdade, o que poderia contribuir para minimizar tamanha crise da saúde pública seria a imunização das pessoas, como medida segura de se contribuir para frear a onda da incidência da Covid-19, mas as vacinas apareceram tarde demais e, o mais grave, à conta gotas, totalmente insuficientes para o atendimento da demanda, o que evidência o tamanho da insensibilidade para com a saúde e a vida dos brasileiros, que merecem tratamento prioritário, quando a sua saúde se encontra em jogo.

É preciso que os brasileiros se conscientizem, com urgência, despojados dos sentimentos puramente ideológicos, para a defesa dos interesses da vida do ser humano, no sentido da compreensão quanto à necessidade de se exigir que o governo atente para a sua primária incumbência de zelar e preservar a saúde dos brasileiros, que deverá ser priorizada, independentemente de outras consequências, inclusive econômicas, tendo em vista, que na essência, não existe nada mais precioso do que a vida humana e todos os empenhos e esforços precisam ser adotadas em nome da salvação da dignidade dos princípios humanitários.

Brasília, em 28 de fevereiro de 2021

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Insensibilidade humana?

 

O presidente da República afirmou que, doravante, os governadores que "fecharem seus estados" é que devem bancar o auxílio emergencial, não tendo anunciado os detalhes como essa medida seria feita.

O presidente fez referência aos governadores que adotam medidas mais restritivas com a finalidade de conter o avanço da pandemia da Covid-19, por meio da implantação do toque de recolher e da proibição total de atividades não essenciais.

A afirmação do presidente foi bastante clara, no sentido de que "A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos este mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho visto em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do 'fica em casa, a economia a gente vê depois' não deu certo e não vai dar certo. Não podemos dissociar a questão do vírus e do desemprego. São dois problemas que devemos tratar de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. E o povo assim o quer. O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu estado, o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do Presidente da República essa responsabilidade. Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que seu povo quer. Não me critiquem, vão para o meio do povo mesmo depois das eleições.".    

O presidente já havia anunciado que o governo estuda pagar quatro parcelas, do valor de R$ 250 cada, na nova rodada do auxílio emergencial, a partir de março.

O discurso do presidente em Caucaia/CE foi feito em momento em que governadores e prefeitos adotam medidas mais rígidas para conter o avanço da Covid-19, em várias partes do país, cuja doença vem batendo recordes de mortes diárias, como no último dia 25, que foram registrados 1.582 óbitos, e diversos estados entraram em colapso, no que se refere ao atendimento médico-hospitalar, em razão da falta de leitos de UTI para atender aos doentes que só aumentam.

O presidente do país fez visita ao Ceará, no exato momento em que o estado enfrenta aumento de casos do coronavírus, tendo sido duramente criticado, por isso, pelo governador daquele estado, que não compareceu ao evento, que, como já era esperado, transcorreu em clima de notória aglomeração, sob risco da disseminação da Covid-19, mas, mesmo assim, o presidente, como de costume, não fez uso de máscara.

Diante da realidade, no momento, os números da contaminação da Covid-19 vêm inspirando cuidados e atenção redobrados, em todos os estados, o que somente aconselha a permanência do isolamento social, como única política pública mais segura, eficiente e indispensável no combate à disseminação do vírus, evidentemente depois da vacina, que não vem sendo assegurada pelo governo, na quantidade necessária.

Chega a ser risível a afirmação do presidente de que “nós venceremos este mal “, como se o governo, em algum momento tivesse demonstrado alguma preocupação com a existência da doença e, por conta disso, tivesse se empenhado ao máximo, de maneira prioritária, para combatê-la com o emprego de todos os recursos possíveis e imagináveis.

Somente para comprovar que tudo não passa de falácia do presidente, sem adentrar-se em maiores detalhes, ressalte-se que o mais importante órgão do governo, incumbido de cuidar das medidas essenciais à proteção da saúde e da vida dos brasileiros se encontra acéfalo, apenas tendo como titular general especialista em almoxarifado, quando a relevância da situação dramática da pandemia exige, necessária e prioritariamente, o comando da pasta por pessoa com especialização, no mínimo, em sanitarismo, como demonstração de sensibilidade e interesse na proteção da vida humana, para quem é preciso a dedicação de efetivas e verdadeiras ações e não de afirmações vazias, porque os fatos falam por si sós.

Para tanto, basta o exemplo do vexame patente com a imunização, cujo fracasso é cristalino, tendo sim a quem se responsabilizar, se realmente o governo tivesse minimamente interesse em mostrar competência, porque o planejamento sobre a vacinação somente veio a acontecer praticamente quando muitos países conscientes sobre a importância da vida humana já tinham começado a imunização e o resultado do descaso no combate à pandemia do coronavírus se evidencia na situação caótica que se encontra a saúde pública, com a terrível estatística de mais de 250 mil óbitos, que poderiam não ter chegado a tanto, caso realmente a vida dos brasileiros tivesse algum valor.

Sim, o povo pede trabalho, conforme alega o presidente, e não é somente na pandemia, porque ninguém vive sem emprego, mas é preciso que o governante se conscientize e tenha o mínimo de sensibilidade que, no momento em que os hospitais estão abarrotados de gente doente pela Covid-19, não se pode pensar em outra medida senão na proteção das pessoas, que é a mais primária possível, por meio do isolamento social, ante a inexistência de vacina, de incumbência do governo, que tem demonstrado dificuldade em atender às demandas da população.

A crítica que se faz aos governadores por tentar minimizar a situação dramática dos hospitais, que não conseguem mais suportar a capacidade de atendimento, tanto em termos de profissionais especializados e leitos de UTI, é de extrema irracionalidade e desumanidade, no simplista entendimento de que não seja feito mais nada, para que as atividades prossigam na normalidade, mesmo com os hospitais superlotados de doentes, porque a economia tem prioridade sobre a vida humana, o que só demonstra o elevadíssimo grau de insensibilidade quanto à compressão sobre o valor da vida dos brasileiros.

Não e verdade que não se possa “dissociar a questão do vírus e do desemprego”, conforme declarou o presidente do país, uma vez que o tratamento a ser conferido ao vírus é eminentemente de saúde pública, que diz respeito à integridade da vida humana, que tem ascendência sobre os demais bens materiais, para a qual os verdadeiros estadistas com o mínimo de sentimento humano jamais imaginaria fazer afirmação tão despropositada, em momento em que é preciso entender que a prioridade é sim tratar do vírus e depois do emprego se houver impossibilidade de que ambos sejam cuidados simultaneamente, de modo que se possa adotar medidas apropriadas em cada caso, diferentemente do que vem sendo adotado, presentemente, com relação ao vírus e ao desemprego, porque nada vem sendo feito para estudar e normatizar as necessárias medidas na equalização e no saneamento das questões que somente se acentuam em ambos os casos.

Por fim, parece que faltam boa vontade e compreensão sobre a gravidade da incidência da Covid-19, que se intensificou com muita voracidade no momento, exigindo que os governadores adotem as necessárias medidas da sua alçada, diante da incapacidade do atendimento dos doentes, um vez que os hospitais, em termos de pessoal e material, já chegaram ao limite operacional, de modo a se evitar o colapso absoluto em comprometimento da vida humana.

A ameaça do presidente, exatamente no momento de extrema dificuldade da saúde pública, só contribui para potencializar o caos, além de não resolver absolutamente nada, em termos econômicos, mas sim de aumentar a crise, que já está complicadíssima.

A demonstração de desespero do presidente da República só transparece a urgente necessidade do entendimento em torno do combate conjunto da pandemia, em que os governos federal, estaduais e municipais possam expor os problemas localizados e colocarem em discussão as melhores medidas capazes de contribuir para a solução que seja apropriada para o atendimento do interesse público, no âmbito do entendimento, da racionalidade, da competência e da responsabilidade públicos, em que haja o verdadeiro sentimento voltado exclusivamente para a convergência em torna da causa dos brasileiros, no seu todo, sem necessidade de estadualização ou municipalização, mas sim da federalização.

Brasília, em 27 de fevereiro de 2021

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Prioridade à imunização

 

Na crônica que escrevi ontem, eu disse o tanto da amargura dos brasileiros pela morte, pasmem, de 250 mil pessoas, causadas pela Covid-19, no período de um ano, a bem demonstrar a pouca importância da vida por parte das autoridades incumbidas das políticas de saúde pública, por nada terem adotado em especial ou prioritário para minorar tragédia que tem curso sereno e tranquilo, martirizado os brasileiros.   

Uma cidadã, muito atenta e preocupada com os problemas da sociedade, escreveu a mensagem a seguir, que tem a importância de desabafo contra o sensível descaso, em termos humanitário, que grassa no Brasil, à vista da inaceitável quantidade de mortes pela Covidd-19, mesmo que seja doença terrivelmente agressiva.

Eis a mensagem: “Um ano e um triste recorde, 1582 vidas perdidas em 24h.!!! Infelizmente amigo chegamos a marca de 250 mil óbitos. Lamentável!! Todos os dias choro com saudade de ouvir a voz da minha mãezinha que o vírus levou fico triste com o coração partido com tantas mortes, que poderia ter evitado o Presidente trazendo vacina com antecedência para o bem de toda nação brasileira. Sr. Presidente! O povo precisa de apoio e tbm de um representante com mais atitudes. Traga vacina suficiente para o povo ficar imune!! viver a vida como antes com tranquilidade, tenha mais amor ao próximo e compaixão com a saúde do seu povo. É muito dolorido perder um ente querido só Deus pra nos ajudar e dar força seguir a vida... Apesar da tão sonhada vacina, estamos passando momentos difíceis com casos da covid 19 aumentando todos os dias e novas variantes no solo brasileiro. Proteja quem vocês amam, vamos ter empatia e solidariedade com as famílias que perderam seus entes queridos, com as famílias que estão com parentes internados. Protejam-se! É muito triste a realidade que enfrentamos, ele assiste pessoas morrendo diariamente e não se ressente. O pior de tudo que ainda teremos que assistir muitas tragédias. Só Deus pra ter misericórdia de nós!... Não consigo entender amigo, o raciocínio dele em relação às vacinas. O que ele quer que seja feito para combater. esta terrível pandemia?”.

Em resposta à mensagem-desabafo, eu digo que, sem demagogia, li a aludida mensagem e a terminei com os olhos lacrimejados, porque sinto a dor dos brasileiros que perderam e perdem seus entes queridos para a Covid-19.

Sei que o presidente do país não pode ser culpado por tudo de ruim que vem acontecendo na saúde dos brasileiros, mas tenho consciência absoluta, como estudioso do assunto, de que a situação seria bem diferente se ele tivesse se comportado no exercido do seu cargo, nesse período de um ano, à altura da dignidade que se exige do verdadeiro estadista, com, pelo menos, o mínimo de sentimento de amor ao seu semelhante, em demonstração de esforços próprios da responsabilidade que se espera da sensibilidade humana.

O que venho escrevendo sobre o assunto traduz o meu real sentimento de repúdio à indiferença e ao descaso à vida humana, diante da visível demonstração de desamor que se acentua no dia a dia, que se traduz em quantidade de perdas de vidas humanas.

Confesso, com sinceridade, que a minha amargura, neste momento, é bem maior do que à dos demais brasileiros, exatamente porque acompanho de perto praticamente todos os casos e tenho procurado evidenciar esse terrível drama que sinto no peito, por meio de tantas crônicas que já escrevi a respeito da pandemia, a exemplo das que elaborei ontem e hoje, porque eu poderia abordar outros assuntos também importantes, mas prefiro falar de algo que realmente vem incomodando a vida dos brasileiros.

É verdade que somente Deus para ter misericórdia para conosco, mas Ele também é o único que poderia contribuir para sensibilizar a consciência dos poderosos, no sentido de mostrar que a vida humana tem valor sublime e especial, em nada comparável à mera reeleição do cargo presidencial, que até pode ter a sua importância, mas a única prioridade do momento, diante da pandemia do coronavírus, é a preservação da saúde e da vida dos brasileiros.

Diante da gravidade da crise que se agiganta por causa da inércia e da indiferença governamentais, ante a incidência da Covid-19, os brasileiros precisam, com urgência, apelar ao presidente da República que priorize a aquisição de vacinas, na quantidade suficiente para a imunização da população, e, em segundo plano, mobilize a sociedade e as Forças Armadas, para que todas as pessoas sejam vacinadas, no menor espaço possível, como forma de demonstração de amor à vida humana e à causa humanitária.

Brasília, em 26 de fevereiro de 2021

Só resta esperança!

É preciso sim que se registre e se relembre a algumas maldades ocorridas desde a primeira vítima fatal da Covid-19, para mostrar o caos que se encontra o Brasil, situado ao meio do choro pela perda de 250 mil vidas, numa pandemia que se alastra em eternidade que só magoa e assusta a população.

Sempre se imaginava que existe a luz no fim do túnel, diante da imunização, que até parecia se aproximar dos brasileiros, mas ela fica cada vez mais distante da população e não se sabe precisamente quanto tempo ainda será necessário para se esperar que esse terrível pesadelo se transforme em bonança e esperança de vida de verdade.

Os exemplos de incompetência e desorganização são a marca da tragédia, como no caso da vacinação, que começou há pouco mais de um mês e o seu processamento é bastante precário, porque tudo caminha a passos lentos, com a constatação de muitos erros, tanto pela falta de vacinas, com o estoque aquém do necessário, como pela remessa de doses para estados diferentes, o que só demonstra falta de planejamento, com fura-filas, falsas aplicações da vacina, tendo como a desastrosa e ampla campanha de desinformação patrocinada pelo próprio governo.

Ou seja, quanto maior o caos disseminado pelo desastre da pandemia, mais o governo contribui para aumentar o prejuízo para a população, que vive ao meio de tudo de ruim que poderia se imaginar diante de crise que agiganta com a incompetência gerencial, que praticamente nada consegue produzir de proativo para mudar o quadro de precariedade.

Na verdade, o que alimenta a tragédia é a sucessão de erros, que já teve início nos primeiros momentos da pandemia e foi se multiplicando em proporção ao aumento do próprio vírus, que deveria ter sido combatido na origem.

Erros esses que partiram das autoridades que deveriam estar à frente da guerra, na luta contra a doença, com espírito de seriedade e competência, como exige a cartilha dos bons e interessados estadistas, na intransigente defesa da população, que também deveriam guiá-la em especial para o porto seguro, mas que acabaram por abandoná-la num mar aberto, sem boias ou coletes salva-vidas e o resultado da tragédia exprime muito a insensibilidade humanitária.

Certamente que o primeiro e fatal erro, que pode ter originado a mãe de todos os outros que se seguiram, foi a politização do enfrentamento à Covid-19, quando o seu combate somente deveria ter sido por meio estritamente técnico, tendo por base a ciência, mas, infelizmente não foi o que aconteceu, conforme mostram o fatos, quando o presidente do país achou por bem transformar a saúde num campo de batalha política, tendo se voltado para tentar derrotar potencial futuro adversário, nas urnas, do que propriamente o inimigo invisível do momento, que exigia cuidados especiais e prioritários.

O histórico dos fatos mostra que foram adotadas muitas decisões e posições equivocadas, tendo o presidente do país se voltado para minimizar a gravidade da Covid-19, ao chamar a doença de mera “gripezinha”, inclusive fazendo pouco caso das mortes: “E daí?”.

Como se fosse possível, o presidente do país deu péssimos exemplos à população, quando fazia questão de incentivar aglomerações e o não uso de máscara, além de ter exonerado ministros da Saúde, por não concordarem com seus métodos anticiência, tendo apenas por base a sua cartilha contrária às orientações de combate ao coronavírus, deixado de comprar vacinas de laboratórios no momento adequado, como era mais do que necessário, e, para comprovar a irracionalidade, zombado da eficácia da vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

Não poderia ser outro o cenário desastroso de muitos desacertos, depois de tenebroso ano do primeiro caso, tendo ainda as piores perspectivas, por se começar o terceiro mês do ano e o Brasil não conseguiu vacinar nem 3% da sua população de mais de duzentos milhões de pessoas, que precisam sair do sufoco do dia a dia, à espera de verdadeiro milagre: os melhores cuidados de incumbência do governo.

Há registro de que, até o momento, estão imunizados, com a primeira dose, apenas 6 milhões de brasileiros, o que pouco representa, em termos do necessário, para se proteger a maior quantidade possível de pessoas.

O país convive, há mais de um mês, com preocupante média móvel diária acima de 1 mil mortes, com dezenas de milhares de casos surgindo todos os dias, já passando de 10 milhões desde o início da pandemia e isso exige, no mínimo, feroz e agressiva campanha de mobilização em torno da maior quantidade possível da imunização, mas o governo, infelizmente, continua pior ainda do que passos de tartaruga, exatamente porque não há estoque de vacinas.

Enquanto se elevam os gráficos de casos e óbitos no Brasil, é verificado que muitos países já estão tendo alívio com a redução do número de infectados e mortes pela doença, exatamente em razão do resultado da imunização das pessoas. Como corolário, a falta de saúde implica nas desorganização e desestruturação da economia, tendo como consequência o fechamento de empresas, a diminuição do consumo e o aumento do desemprego, além da drástica redução da arrecadação de tributos, sabendo que o governo ainda tem a obrigação de cuidar do auxílio emergencial, para o amparo da população carente.

A verdade é que a falta de imunização implica na necessidade de se esticar o pagamento do referido auxílio, fato este que obriga a priorização da imunização das pessoas, para que a população se disponha a voltar às atividades, tendo por objetivo, em especial, a recuperação da economia, com a retomada dos empregos.

Há esperança de que esse deplorável quadro se desnuvie com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que veio na hora certa, no sentido de se permitir que estados e municípios possam importar vacinas sem precisar da autorização do Ministério da Saúde, a depender, obviamente, se esses entes da federação têm recursos para arcar com esse ônus e ainda, o mais importante, se os  laboratórios terão doses suficientes para entregar, diante da enorme demanda mundial pelo medicamento.

Enfim, a melhor das esperanças mesmo seria que os governantes tivessem o mínimo de sensibilidade, inteligência, sensatez, competência e responsabilidade para sopesar a montanha de tudo de ruim e maldade que já protagonizaram contra a população, no ano que se passou, e procurassem executar basicamente tudo em contrário, tendo por especial atenção o respeito à dignidade do ser humano e a importância à sua vida, que foram os tesouros mais prejudicados, injustamente, durante a terrível pandemia do coronavírus.

Brasília, em 26 de fevereiro de 2021   


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Insensibilidade humana?

 

O símbolo da campanha eleitoral e da trajetória do presidente da Repúblicas é o posicionamento dos dedos polegares e indicadores direcionados para cima, em simulação a arma de fogo, fazendo lembrar a meteórica tragédia causada pela Covid-19.

Há exatamente um ano, em 25 de fevereiro de 2020, morria, no Brasil, a primeira vítima da Covid-19 e as manchetes dos jornais destacavam como principal notícia: “Brasil tem 1º caso de coronavírus”.

O homem objeto dessa notícia tinha 61 anos, que regressara da Itália, país considerado epicentro da doença.

Ele também foi o primeiro caso confirmado na América Latina.

Se passou um ano e o Brasil registra 10 milhões de habitantes contaminados pela Covid-19, em curva ascendente e acelerada da doença, desde o fim de 2020.

Convém se registrar, como fato extremamente lamentável, que, na véspera do aniversário da primeira vítima fatal da doença, o Brasil enterrava, com intensos pesar e dor no coração, a sua 250.000ª vítima da Covid-19.

Mal comparando, é como se as cidades de Cajazeiras, Patos e Souza, na Paraíba, fossem condenadas, juntas, à perda da sua população, em apenas um ano, sob a condenação da sua supressão do mapa e ficassem sem ninguém.

Convém que esse terrível registro fique guardado na memória das gerações de brasileiros, para que esse triste episódio nunca seja esquecido, de modo que, no futuro, se mantenha nos museus, em homenagem e memória às vítimas da Covid-19, as fotos, os nomes, as imagens e as frases ditas pelas pessoas incumbidas direta e indiretamente por essa monstruosidade.

Certamente ela não seria tão alarmante se tivessem havido sensibilidade e compreensão, no que diz ao sentimento humano, sobre a real gravidade da mortífera pandemia.

Não se pode esquecer que a pandemia foi indevida e perigosamente relativizada, desde seu início até o presente momento, mesmo sendo preocupantes os sintomas da grande tragédia, ante à constatação do seu diagnóstico.

Não obstante, havia quem vaticinasse, no âmbito da infinita sabedoria do Palácio do Planalto,  “apostando” que, no Brasil, haveria de morrer bem menos gente por coronavírus do que por gripe comum, cujo prognóstico apenas evidenciava o tamanho da má vontade para se cuidar de doença indiscutivelmente destruidora, conforme mostram os resultados da atualidade.

Não há negar que há pessoa do governo que prefere creditar à divulgação dos estragos da doença e dos riscos de contaminação a mera conspiração para derrubar ou prejudicar o presidente brasileiro.

Na atualidade, qualquer notícia que não seja do agrado do governo, no que se refere à pandemia, funciona como algo para sacanear e prejudicar a reeleição do presidente, que não pensa em mais nada senão nela, o que não passa de idiotice levada pela supressão da inteligência.

A verdade é que a história e a memória hão de contar e lembrar a tragédia que vem acontecendo, dia após dia, na forma da experiência tenebrosa estampada em cada internação, cada ferida, cada trauma e cada corpo, que apenas faz parte de drama humano que tem sido verdadeiro e não se sabe quando será o seu fim.

É preciso lembrar sim que o presidente da República, próximo da confirmação do primeiro caso de morte de brasileiro, disse, ipsis litteris:No meu entender, está superdimensionado o poder destruidor desse vírus. Então talvez esteja sendo potencializado até por questão econômica, mas acredito que o Brasil, não é que vai dar certo, já deu certo.”.

Não conformado somente com o sentimento de pessoa forte, corajosa e valente no enfrentamento da Covid-19, diferentemente dos fracos que não resistiram à ação letal da doença, o presidente brasileiro já teve oportunidade de declarar muitas pérolas sobre a pandemia, que certamente hão de passar para a história da República, conforme as que foram selecionadas e transcritas a seguir:

No meu entender, há muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”.

“Não podemos entrar numa neurose como se fosse o fim do mundo”.

“Pode ter aproveitamento político em cima disso, a gente não quer pensar nisso daí, mas tem que ter calma. Vai passar. Desculpa aqui, é como uma gravidez, um dia vai nascer a criança. E o vírus ia chegar aqui um dia, acabou chegando.”

“Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”. “O brasileiro precisa ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele”. “Vem aí a cloroquina na área. Na região norte, (a quantidade de infectados) tá pequena. Grande parte (da população) usa (cloroquina) pra malária. Está vacinada (sic)”. “O coronavírus parece que está começando a ir embora”. “Eu não sou coveiro”. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. “Quem for de direita, toma cloroquina; quem for de esquerda, toma tubaína”. “No meu entender, houve uma propaganda muito forte em cima disso. Trouxe o pavor para o seio da família brasileira”. “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”.

A essa lista de declarações absurdas somam-se outras estapafúrdias tiradas do presidente do país, a respeito da vacinação, como, em especial, a repulsa ao distanciamento social e ao uso de máscara, como medida de combate ao contágio da Covid-19.

O presidente do país já insinuou que era preciso combater a pandemia “como homens”, não como “bundões” ou “maricas”, o que bem demonstra a insensibilidade humana para se cuidar de pandemia, onde se exige, no mínimo, respeito à dignidade das pessoas.

Mesmo diante de completa crise na saúde pública, por força da gravidade imposta pelo coronavírus, dois ministros da Saúde foram dispensados pela porta da descarga, sendo que, na atualidade, o Ministério da Saúde se encontra acéfalo, uma vez que é comandado por general especialista em almoxarifados, fato este que bem demonstra a completa insensibilidade e irresponsabilidade gerenciais, quando, em situação de grave pandemia, a saúde dos brasileiros merecia ser tratada por pessoa qualificada e entendida de sanitarismo.

Eram dois médicos que, por certo, tinham melhores condições para cuidar da saúde dos brasileiros, quando a crise ainda era passível de controle e nada mais sensato do que o especialista em medicina ou sanitarismo para comandar o ministério incumbido da execução das políticas pertinentes.

O balanço que se tem nesse ano de convivência com muitas mortes causadas pela Covid-19, em quantidade assustadora de 250 mil vítimas, viu-se muita incompetência, má fé de governadores, prefeitos e autoridades, que levaram o tempo tentando minimizar os efeitos da tragédia, desdenharam das mortes e claudicaram na adoção das medidas necessárias à imunização da população, que é a única e segura maneira de salvação de vidas humanas.

É evidente que o país que tem governante capaz de demonstrar insensibilidade humana diante do caos da saúde pública, representado por tantas mortes e ainda ter deixado de priorizar a principal política de combate à Covid-19, por meio da imunização, conforme a mais extraordinária desorganização jamais vista no país, precisa que seu povo se conscientize quanto à real valorização dos princípios humanitários, de modo que a vida humana mereça tratamento especial e de qualidade, porque ela ascende em tudo, em termos de preferência da administração pública.     

Brasília, em 25 de fevereiro de 2021

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Em jogo princípios constitucionais?

 

Na primeira das condenações, mais especificamente no processo penal referente ao tríplex, o ex-presidente da República petista, que foi qualificado pelo Ministério Público de Curitiba como o chefe de quadrilha, acaba de sofrer outra dura derrota, desta feita imposta pelo Superior Tribunal de Justiça, que é considerada a 3ª instância muito morosa da Justiça brasileira, ao negar recurso contra a decisão de primeira instância, que há havia sido confirmada pela 2ª instância.

No aludido processo, o petista foi condenado à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em razão de ter recebido propina de empreiteira, em troca de favores, conforme denúncia feita à Justiça, que ele não conseguiu derrubar as provas materiais constantes dos autos, que já tramitaram em julgamento nas primeira, segundo e terceira instâncias, todas nas quais o político teve oportunidade da ampla defesa e do contraditório.  

No processo do tríplex de Guarujá, após centenas de recursos apresentados pela diligente defesa, muitas quais apresentadas ao ex-juiz federal  responsável pela Operação Lava-Jato, nenhuma mereceu provimento, a exemplo dessa feita aos ministros da 5ª turma do Superior Tribunal de Justiça, que confirmaram as condenações de 1ª e 2ª instâncias.

Agora, a sentença é considerada “transitada em julgado”, ou seja, não cabe mais recurso nesse tribunal, restando ao político apenas a tentativa de recurso ao Supremo Tribunal Federal, onde ele goza da simpatia de ministros, que nada podem fazer, em termos do julgamento sobre o mérito da ação, que tem a marca indelével, inexorável de que ele se beneficiou indevidamente de dinheiro proveniente de propina, o que caracteriza enriquecimento sem justa causa.

Ou seja, o líder petista fora condenado em 1ª instância a nove anos de prisão, cuja sentença foi mantida pela 2ª instância, representada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que ainda elevou a pena para 12 anos, mas a condenação caiu para 1/3, por entendimento do Superior Tribunal de Justiça, cujas sentenças pendem de cumprimento.

Enfim, o processo deve subir para o Supremo, que tem apenas a competência de julgá-lo quanto à constitucionalidade envolvendo o julgamento da ação, se algum rito legal deixou de ser observado, mas sem puder entrar no mérito da culpa do condenado, porque esta já foi devidamente sacramentada.  

Não obstante, muitos são os questionamentos sobre o que poderá acontecer no Supremo e isso é bastante provável que surja novidade, não essencialmente em termos de julgamento isento e imparcial, à luz dos fatos constantes do processo, mas sim sobre a possibilidade da criação de argumentos estranhos aos julgamentos sobre a matéria propriamente, no sentido de se imaginar que a atuação do juiz no caso teria influenciado no veredicto da Justiça.

Na verdade, aconteça o que vier a acontecer, nada disso vai dizer que o político é inocente, porque somente as 1ª e 2ª instâncias têm poderes para se manifestarem quanto à culpabilidade ou não do réu.

O certo é que muitos ministros do Supremo já demonstraram subserviência ao petista e tudo poderão fazer, não com base nos fatos e no ordenamento jurídico aplicável à espécie, mas exclusivamente tendo por orientação à sua índole que não aceita a imparcialidade do trabalho da Operação Lava-Jato.

No que se refere a ao processo do tríplex, há quem defenda a anulação do julgamento do ex-presidente, em razão de suposta “parcialidade” do juiz durante os procedimentos instrutórios.

Essa questão ganhou destaque, em termos de debate jurídico, depois que um ministro do Supremo ter retirado o sigilo de conversas entre o ex-juiz e um procurador, a pedido da defesa do petista.

Os advogados do ex-presidente alegam que foram incluídas mensagens no citado processo, com revelação sobre perseguição política ao condenado.

As referidas mensagens, consideradas ilegítimas, porque vieram a público a partir da invasão de hackers a celulares de autoridades, sem a devida autorização judicial, o ex-juiz teria orientado o procurador sobre o processo em apreço.

Na verdade, as conversas realizadas entre o ex-juiz e o procurador não têm o condão de configurar nada grave, por tratar-se de meras trocas de mensagens sugerindo procedimentos no âmbito do grupo que integrava a força-tarefa, em forma de trabalho em conjunto.

É bastante normal a existência de conversas entre procuradores e juízes, em se tratando de trabalho específico, com o objetivo de acertar estratégias de serviço, o que é absolutamente diferente de se combinar e antecipar sentenças e sugerir a criação de provas absurdas, para prejudicar deliberadamente o réu, fatos estes que não houve nos autos.

Convém ficar bastante claro que possível anulação do julgamento, pelo Supremo, não tem o condão de evidenciar a inculpabilidade do ex-presidente, visto que os fatos delituosos atribuídos à autoria dele permanecem existindo normalmente, os quais deverão ser, se for o caso, rejulgados por outro juiz, possivelmente começando tudo da estaca zero, inclusive por todos os desgastes e massacres propiciados por processo dessa magnitude, envolvendo político da maior relevância.

O certo é que não há mais dúvida quanto à culpa do político, com relação ao tríplex, porque ela é incontestável, por dois motivos principais e essenciais à segurança jurídica, quais sejam, a confirmação, à unanimidade, pelo órgão jurisdicional revisor, sob o crivo de três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, e da mesma maneira, também por unanimidade, respaldando a sentença elogiada por notáveis juristas do país, por cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça, ou seja, quanto à culpabilidade do petista, não resta a mínima dúvida, diante da confirmação do acerto da decisão proferida inicialmente e também à vista do segundo motivo relatado a seguir.

Esse segundo motivo diz respeito às provas coligidas e inseridas aos autos, constituindo a base objetiva e principal do julgamento, que são os elementos relacionados com a materialização dos atos sob denúncia à Justiça, robustamente comprovados por meio de depoimentos de testemunhas, delações premiadas, documentos válidos juridicamente e outas provas que fundamentaram a extensa sentença proferida pelo então juiz da Operação Lava-Jato.

Os brasileiros precisam saber que a parcialidade do juiz, se confirmada pelo Supremo, apenas põe em dúvida o comportamento ético-profissional dele, o que é bem diferente da culpabilidade discutida nos autos, porque esta já está mais do que provada, à vista das manifestação de outros oito juízes de instâncias diferentes do primeiro a se pronunciar no processo, no qual ele mostrou os caminhos percorridos pelos fatos delituosos.

          Enfim, se assim for entendido pela imparcialidade no julgamento, não é o processo da denúncia do petista que será jogado no lixo, porque ele poderá ser julgado novamente por outro juiz, mas sim a sentença do juiz que teria sido parcial na condução do processo pertinente.

O petista foi preso em 2018 e perdeu os direitos políticos, por oito anos, a partir da condenação proferida nesse mesmo ano.

Os brasileiros precisam se conscientizar de que qualquer homem público que tem implicação com a Justiça e não consegue demonstrar a sua inocência, no âmbito do processo legal, torna-se indigno de representar os interesses do povo, enquanto permanecer sob suspeita de improbidade administrativa, à vista do claro ferimento dos princípios republicanos da ética, moralidade, dignidade e honestidade, no exercício de cargos públicos.

É evidente que a vergonha e a desmoralização hão de ficar estampadas no currículo dos ministros que decidirem não tendo por base os elementos constante dos autos, segundo a legislação brasileira, mas sim em respaldo na sua consciência de decidir por motivação pessoal, em clara demonstração de falta de decoro no cumprimento da sua missão institucional, que obriga o estrito respeito aos princípios constitucionais de dignidade e honestidade quanto à correção das suas decisões, que nunca devem merecer questionamento por qualquer motivação.

Brasília, em 24 de fevereiro de 2021

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Triste fim da Operação Lava-Jato

 

Como estratégia destinada a destruir as bases da mais competente instituição pública que conseguiu detonar organizações criminosas jamais investigadas no Brasil, as pessoas vinculadas aos esquemas ou beneficiadas de alguma maneira, direta ou indiretamente, têm feito de tudo para liquidar a Operação Lava-Jato e seus próceres, como o ex-juiz símbolo da era de ouro da Justiça brasileira, que nunca colocou tubarão na cadeia, e os procuradores do Ministério Público Federal.

As autoridades políticas, estas em especial, os altos empresários e as demais pessoas investigados pela citada operação dedicaram o máximo de empenho para o encerramento dessa maravilhosa equipe de trabalho especializado, que encarnava o verdadeiro sentimento de brasilidade pela moralização do Brasil.

Os incessantes e pesados ataques partiram da parte daqueles que, direta ou indiretamente, foram objeto de investigação, exatamente por suspeita da prática de atos inquinados de irregulares, cujas repercussões legais foram as mais exitosas possíveis, sobretudo com peso enorme nos ombros da trupe da oposição, capitaneada por integrantes do Partido dos Trabalhadores, em cujo governo se tornou o epicentro dos desvios de recursos públicos.

Com o tempo, esse conjunto de indivíduos contrariados pelo rigor da lei atraiu para o seu bando outros importantes políticos de diversos partidos, todos igualmente com a mesma índole aproveitadora e com histórico de envolvimento na Justiça.

Certamente que o clã de insatisfeitos tem a liderança de políticos e empresários espertalhões, que contam com o adjutório de especializadas e caríssimas bancas de bons advogados, naturalmente os preferidos da elite, as quais ganharam milhões de reais defendendo criminosos de colarinho branco, contrários aos interesses do país.

          Ressalta-se que esses advogados devem ser os únicos receosos pela extinção da Lava-Jato, diante da possibilidade de perder milhões de reais com as suas defesas, eticamente indefensáveis por parte do bando de criminosos que desviaram bilhões de reais dos cofres públicos.

Enfim, a terrível contraofensiva desferida contra a importante Operação Lava-Jato, claramente ferrenha oposição à postura da Justiça que primou exclusivamente em defesa dos interesses nacionais, o que vale dizer, em benefício dos brasileiros, em estrita harmonia e observância ao disposto no inciso I do art. 5° da Constituição Federal, que estabelece, verbis:homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos destra Constituição;”, ou seja, todos os brasileiros são iguais perante a lei, inclusive e com maior razão no que diz ao julgamento de atos delituosos.

À toda evidência, com a Operação Lava-Jato, pela primeira vez em nosso país, houve extraordinário avanço do trabalho jurisdicionado pela Justiça, quando poderosos e influentes figurões da República e importantes empresários foram realmente investigados, processados e julgados, indistintamente, e muitos dos quais terminaram na cadeia, diante da condenação de prisão, por desvio de dinheiro dos brasileiros.

A grande proeza dessa revolução no âmbito do Judiciário foi precisamente a quebra do vergonhoso parâmetro da impunidade no seio das elites até antão tratadas como classe de cidadãos intocáveis e muito acima dos efeitos das leis, principalmente penal, que não faz distinção, sob a égide da lei, para o fim da responsabilização inerente aos seus atos, tanto na vida pública ou na privada, ante a predominância do princípio constitucional de que o tratamento entre os brasileiros deve ser estritamente isonômico, sem os privilégios existentes até então, em que pese a vigência da mesma Constituição, o que demonstra a precariedade do cumprimento da relevante missão atribuída ao poder Judiciário, quando ele fechava os olhos para os crimes praticados pela elite política, empresarial e assemelhada, deixando de julgar os casos lesivos ao patrimônio dos brasileiros.

É de se lamentar que esse esforço incessante contra a Operação Lava-Jato tenha conseguido liquidar e desmanchar o operoso, competente e eficiente trabalho de mais de cinco anos de investigações e julgamentos, concluindo, de forma melancólica, projeto revolucionário que se transformou, possivelmente, na única janela de oportunidade, aberta em séculos de impunidade, capaz de mudar os destinos que prometiam ser gloriosos para o Brasil, diante das fantásticas e extraordinárias realizações pela Justiça, sim pela Justiça brasileira, que contabilizou brilhantes resultados no desbaratamento de poderosas organizações criminosas, de altíssima periculosidade contra o patrimônio dos brasileiros, na prisão de influentes políticos, executivos, empresários e principalmente na recuperação de milhões de reais, que retornaram aos cofres públicos, de onde jamais deveriam ter saído, não fosse a ação maligna de aproveitadores antibrasileiros, inclusive de homem público endeusado por parte da sociedade.

O início da tentativa de abalar a credibilidade da Operação Lava-Jato se deu exatamente por meio de fato claramente criminoso, com o grampeamento clandestino das comunicações entre agentes da lei, perpetrado por miríade de oportunistas dos mais diferentes matizes, objetivando a sabotagem das suas investigações, em espúria e nítida inversão de valores ético e moral, fazendo das pessoas da lei e da Justiça, os bandidos e destes, os verdadeiros paladinos da integridade moral e coitadinhos injustiçados, sem que nada tivesse sido provado quanto à inocência dos criminosos condenados, em processos recheados de atos e fatos que comprovam, por meio de robustas provas materiais, o fruto da roubalheira protagonizada por eles.

Não há a menor dúvida de que a extinção da Operação Lava-Jato somente confirma e legitima o poder da hidra que se ressuscita sob a lama pútrida da desavergonhada índole de homens públicos, voltando a viver restaurada como nos bons tempos, quando da perpetuação do antigo regime, em conformidade com o status quo secular da impunidade, onde os aproveitadores desviavam dinheiro público, na claridade solar, ficavam impunes e ainda se passavam por heróis da pátria.

É muito triste que essa pouca-vergonha ressurja justamente no governo cujo titular foi eleito empunhando, abraçando e levantando a bandeira precisamente símbolo da moralidade, quando se emocionava ao se referir ao belíssimo trabalho da Operação Lava-Jato, dando nítida impressão de que o seu exemplo seria a marca registrada da sua administração, visto que havia a garantia de que ela receberia o seu apoio, como medida de consolidação da efetividade de suas ações investigatórias, à vista dos excelentes resultados em benefícios não somente da moralidade, com a descoberta de esquemas criminosos no governos anteriores e colocação de pessoas importantes na cadeia, mas, em especial, dos benefícios agregados ao patrimônio dos brasileiros, com a notória recuperação de milhões de reais.

Muitos brasileiros acreditaram no homem que se transformara em paladino da moralidade, em se projetar como lídimo defensor exatamente do trabalho apoiado pelos cidadãos honrados e de bem, na esperança de que tão importante princípio republicano realmente imperasse para os séculos futuros, com a sua consolidação.

Infelizmente, a força destrutiva e maligna dos vampiros da nação, liderada por quem jurara fidelidade e amor à ética e à moralidade, conseguiu, em muito pouco tempo, pôr por terra as estruturas da formosa Operação Lava-Jato, orgulho e símbolo de verdadeira Justiça brasileira, por ter funcionado na sua plenitude, em benefício do Brasil e dos brasileiros.  

É preciso que os brasileiros honrados, no âmbito do seu sentimento de brasilidade e patriotismo, consigam captar o tanto de sabotagem aos interesses nacionais, com os esforços destinados ao sepultamento da Operação Lava-Jato, que certamente, ao contrário, teria o prestígio e a valorização por parte de governante de país evoluído e civilizado, em termos político, administrativo e democrático, em razão do seu efetivo trabalho de moralização do Brasil.

Brasília, em 23 de fevereiro de 2021

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

A vacina da vida

 

De acordo com minucioso levantamento realizado pelo Comprova, não é verdadeira a informação que circula nas redes sociais, dando conta de que a vacina CoronaVac, aplicada contra a Covid-19, tenha provocado a morte do pai do autor da publicação, que tinha 76 anos e morava na cidade de Guaratinguetá, São Paulo.

Segundo a certidão de óbito do idoso, a morte dele foi por decorrência de choque séptico, com suspeita de Covid-19.

O órgão de saúde pública do município confirmou as precisas datas de vacinação e falecimento do idoso.

A relação do óbito com a vacina foi descartada pela administração municipal, após os exames de diagnóstico terem confirmado que o idoso apresentava quadro de infecção da Covid-19, no dia anterior ao do óbito, posteriormente à vacina, a se confirmar que a CoronaVac é imunizante produzido com vírus inativado, que não tem poder para desencadear doença e causar morte.

Apuração junto à prefeitura de Guaratinguetá indicou que houve surto de infecção pela Covid na casa de repouso Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis, onde o idoso morava.

Com o diagnóstico da Covid-19 confirmado, a prefeitura descartou as hipóteses de evento adverso da vacina, "pois caso fosse reação vacinal não haveria presença de vírus na amostra coletada, uma vez que a vacina CoronaVac é inativada e não pode causar a doença".

Um virologista da Universidade Federal de Minas Gerais confirmou que o exame positivo de Covid-19 do idoso de fato exclui a possibilidade de efeitos adversos da vacina.

À equipe do Comprova, um virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG afirmou que a nota da prefeitura é bastante precisa, porque “ela explica que o teste RT-PCR detecta o RNA do vírus na amostra do paciente, mas o vírus inativo aplicado na vacina não contém o RNA viral. Dessa forma, a inoculação do imunizante não permitiria ao exame detectar o material do coronavírus.”.

O virologista também fez questão de esclarecer que somente a primeira dose da vacina ainda não é suficiente para conferir imunidade, tendo lembrado que, após vacinadas, as pessoas ainda precisam manter a "guarda elevada contra o vírus e seguir regras de prevenção, como o uso de máscaras e a prática do distanciamento social.”.

Por sua vez, o site do Instituto Butantan também alerta que, mesmo após a segunda aplicação, a imunidade contra o novo coronavírus não é desencadeada imediatamente, tendo esclarecido que, "Caso uma pessoa tenha covid-19 logo após se imunizar, isso não significa que a vacina não funcionou, mas que seu o sistema imunológico ainda não teve tempo para criar a resposta imune".

A página do Butantan reafirma a necessidade de se manterem as importantes medidas de segurança, como o uso de máscara e a higienização constante das mãos.

Diante da importância acerca dos casos envolvendo a aplicação, tem sido muito comum a frequência de desinformação, recheada de notícia sem fundamentação científica, mas tendo por base meras ilações, como nesse caso, em que o filho concluiu, de imediato, que o pai teria morrido por causa da vacina, quando ele foi infectado juntamente com outras pessoas, no local onde morava, uma casa de repouso de velhinhos.

As pessoas aproveitam a fase aguda de imunização justamente para pôr em dúvida a eficácia da vacina e qualquer situação serve de motivação para se tentar o torpedeamento das medidas necessárias e importantes no combate à Covid-19, fatos estes que põem em dúvida o verdadeiro objetivo da vacina, que é imunizar a população e salvar vidas.

Nessa mesma linha de possível desinformação, circulou vídeo nas redes sociais, em que um sobrinho denunciava que sua tia havia morrido por causa da vacina, inclusive sob a afirmação de que ela gozava de plena saúde, mas eu me coloquei em defesa da vacina, exatamente por ter conhecimento de fato acontecido depois da aplicação do imunizante em uma amiga minha.

Pois bem, ela tomou a vacina e tempos depois, o suficiente para chegar em casa, ela sentiu forte dor de cabeça, intensa febre, com suadeira, e fechamento da garganta, fatos estes que recomendavam a procura de hospital, mas ela teve a ideia de tomar analgésico e os sintomas foram sedando progressivamente e só ficou boa de tudo nos dois dias seguintes.

Em  conversa com uma enfermeira, ela disse que fazia tratamento da tireoide e a profissional concluiu que isso pode ter tido influência na violenta reação da vacina no organismo dela.

O Comprova esclarece que já conseguiu desmontar boato enganoso que usava vídeo de 2018, para afirmar que idosa teria morrido após tomar vacina e afirmação de que a imunogenicidade da CoronaVac apresentava riscos à saúde de pacientes, além de ter desvendado mensagem enganosa repercutida por um assessor da Presidência da República, com informações incorretas sobre a eficácia do imunizante.

Enfim, convém que as pessoas não se deixem levar por notícias veiculadas nas redes sociais, contendo informação relacionada com a vacina, quando a base do seu conteúdo pode estar usando dados imprecisos e distorcidos da realidade, com a finalidade de confundir ou até mesmo com ou sem a intenção deliberada de causar dano aos verdadeiros objetivos da imunização.

O caso em referência serve de exemplo clássico, em que o filho achava que a vacina teria sido a causa do óbito de seu pai, mas os dados científicos coletados sobre o caso asseguram que ele teria sido infectado pela Covid-19, pondo por terra, com muita propriedade, a versão dele, que tinha a intenção de cobrar caro do governo, pelo que ele vinha defendendo como situação gerada a partir da vacina.

É preciso que haja conscientização sobre a importância da imunização, que não pode ser influenciada negativamente por informações sem base científica, porque elas podem ter sido criadas com a exclusiva finalidade de prejudicar a essência da campanha que é considerada a salvação milagrosa dos brasileiros, que tanto anseiam pela volta da vida feliz interrompida há quase um ano.   

Brasília, em 22 de fevereiro de 2021

domingo, 21 de fevereiro de 2021

A razão do descontrole?

Em crônica, eu analisei a decisão da Câmara dos Deputados, que manteve preso o deputado federal que fez apologia ao AI-5 e esculhambou ministros do Supremo Tribunal Federal, tendo mostrado que não se trata de comportamento compatível com o exercício de cargo público eletivo.

Um atento cidadão, certamente discordando do meu texto, fez o seguinte comentário: “Eu apoio o AI-5 a final porque ele tá preso ????? Eu sei bem rabo preso cadê? O lula tá solto o José Dirceu entre outros vagabundos ante patriotismo STF e uma piada solta um bandido do PCC e prende um cara formador de opinião!?”.

Agradeço muitíssimo que alguém tenha sido tão lúcido em abordar dois importantíssimos temas para discussão, justamente para me oferecer oportunidade de mostrar o meu modesto pensamento sobre eles, evidentemente sem a menor intenção de querer mudar a opinião das ilustradas pessoas que têm convicção sobre as suas formidáveis ideias políticas, como as expostas acima.

Na minha humilde compreensão sobre os fatos da vida, as considero verdadeiras pérolas ideológicas, que ainda conseguem alimentar a mentalidade evoluída de muitos brasileiros, que se acharem donos da verdade e tentam impô-las como sendo o ideal para o país atual, que se encontra em completo estágio caótica, possivelmente diante dessas pessoas se satisfazem  com a truculência, ódio e a intolerância, prejudiciais ao aperfeiçoamento dos princípios democráticos.

Inicialmente, digo que a minha modéstia índole tem compromisso com a defesa da democracia e dos bons princípios de cidadania.

Assim, convém lembrar que o AI-5 foi instrumento usado em regime de exceção, ou seja, onde os direitos humanos e as liberdades democráticas passaram a ser submissas à vontade não de seus titulares, no caso o povo, mas sim do comando do regime militar que comandava o Brasil.

O regime militar entendeu que isso era necessário para o seu emprego na ocasião, precisamente para a correção do rumo que a esquerda pretendia conduzir o Brasil, em que, se fosse permitido, poderia imperar a desordem pública, imposta por minoria de grupos de antibrasileiros, que desejavam implantar, pela força bruta e violenta, o regime comunista no Brasil.

Os militares, que estavam no poder, precisavam de mecanismo de tamanha inflexibilidade para ajudar no combate às guerrilhas e aos métodos antidemocráticos e incivilizatórios de grupos baderneiros infiltrados na sociedade.

O momento atual tem a prevalência dos eflúvios da liberdade e do usufruto das ideias sadias e de respeito ao amadurecimento e ao desenvolvimento humanitário, o que são aspectos saudáveis incomparáveis com aqueles tempos, quando foi preciso funcionar a lei do chumbo contra os comunistas trogloditas, que explodiam bancos e matavam inocentes, em nome da sua luta ideológica de esquerda.

Eu respeito as pessoas que ainda se encontram com o pensamento mais atrasado possível, em termos democráticos, em apoio e defesa do AI-5, que foi instrumento de serventia para momento considerado de muita turbulência, agitação e violência no país e a edição dele se fazia necessária para o enfrentamento das dificuldades colocadas no caminho do regime militar.

Hoje, em consonância com a evolução do homem, por meio dos avanços científicos e tecnológicos, evidentemente sob o meu prisma, não passa de verdadeira distorção mental ou mesmo falta de consciência política, por parte de quem defende reiteradamente a sua adoção, dando clara e injustificável ideia do desconhecimento sobre a extrema gravidade para a normalidade democrática, embora seja isso do direito da cidadania de pensar como bem quiser, inclusive de se imaginar a implantação do regime de exceção, que é, na prática, o ressuscitamento do famigerado AI-5, sinônimo de regime de exceção ou simplesmente antidemocrático, diante da suspensão dos direitos humanos e das liberdades individuais, que somente combinam com mentes desumanas e amantes da desgraça humanitária.

É preciso se ter em conta que o sentido de repressão é algo que nem foi vivenciado por muitas pessoas que nutrem a bestial e tão nefasta ideia da volta do regime de exceção, que somente tem validade nos casos extremos do falecimento da plena democracia, porque o AI-5 é exatamente a antítese dos direitos civis e do Estado Democrático de Direito.

Os autores da defesa da implantação do regime de exceção, ainda em pleno século XXI, que tem a marca da modernidade e da evolução do Homo sapiens, talvez sob o pensamento errático de que ele seja preciso remédio para aplicação em um caso ou outro, que foge do controle da normalidade dos procedimentos democráticos, precisam saber e até se conscientizarem de que as aberrações que acontecem na vida pública, em especial a degradação própria e indiscutível das decisões judiciais devem ser enfrentadas e combatidas com os instrumentos oferecidos e existentes na própria democracia.

É preciso lembrar, para quem pensa em usar o terrível medicamento a que se refere o temível AI-5, que ainda nada foi inventado de saudável nem para melhor para o homem viver livremente, com o usufruto dos direitos humanos e das liberdades individuais do que os princípios da democracia.

Nesse contexto, entendo que seja desarrazoado alguém questionar o porquê de alguém estar preso tão somente porque é “formador de opinião”, quando potenciais criminosos, nomeados no texto, se encontram soltos, tendo em vista que faz parte do regime democrático que aberração dessa ordem ainda tenha prevalência entre a sociedade, que permite, exatamente em razão das liberdades de pensamento e ideias que algo de tão errado ainda seja possível, quando a modernidade e os instrumentos colocados à disposição das pessoas já permitiram que as deficiências humanas fossem saneadas, justamente em benefício do homem.

Exemplificando a minha modéstia assertiva, ao deputado preso em nada se aproveita a fragilidade moral das autoridades públicas que se acham donas da razão e acima da lei, quando permitem, por exemplo, que criminosos de alta periculosidade fiquem em liberdade, convivendo com as pessoas de bem, que foram prejudicadas por atos praticados por eles e, que, na verdade, em nada serve de motivação para ninguém agredir nem tentar desmoralizar o sistema que se assenta o status quo.  

À toda evidência, o parlamentar preso teve a ousadia de agredir e ofender, com palavrões, tudo desnecessariamente, autoridades do questionado poder judiciário, pensando que estaria contribuindo para, ao menos, minorar os efeitos nocivos do sistema carcomido assim entendido pela sociedade, por costumar agir em contrariedade aos seus interesses, cujo ato impensado contou e ainda conta com os insensatos aplausos de muitos brasileiros, porque a atitude dele não contribui para a solução de absolutamente nada, senão para aprofundar ainda mais o fosso que o separa do interesse público, diante das críticas que são permanentemente feitas ao seu trabalho, que é regiamente subsidiado pelos contribuintes, a quem há o dever legal da prestação de serviços do seu agrado e da sua satisfação, exatamente em cumprimento à finalidade para a qual ele foi instituído.

Na minha diminuta inteligência de pensar, em termos políticos, imagino que o parlamentar preso, se tivesse um pouquinho de criatividade política, poderia causar estrondoso estrago nos alicerces e nas estruturas do Supremo Tribunal Federal, sem necessidade de agredi-lo com único palavrão, se tivesse sabedoria para aprovar normativo constitucional específico, da sua iniciativa, no sentido de que os ministros desse órgão passassem a ficar obrigados ao controle e à fiscalização de conselho especial, composto por notáveis do mundo jurídico, escolhidos pela sociedade, sem qualquer vinculação ou submissão a qualquer poder da República, senão à própria sociedade.

A existência desse conselho especial certamente contribuiria efetiva e definitivamente para pôr freios aos abusos praticados por ministros que estão atuando muito além dos poderes atribuídos ao Supremo, o qual teria o dever de sopesar, em cada caso suspeito de abuso de poder ou da pratica de ato inconstitucional, ficando o conselho incumbido de julgar sobre a regularidade da decisão, de modo a se verificar se ela guarda conformidade com a constitucionalidade e os atos inerentes ao interesse público, cujo veredicto precisaria ser confirmado pela sociedade, que teria a soberana palavra final.

Convém que se busque o aperfeiçoamento, sem perda de tempo, das atividades do Supremo, inclusive com a criação de controle que possibilite também o afastamento de ministros, quando constatado que eles praticaram erros insanáveis.

É bem provável que eventuais abusos aconteçam, no Supremo, exatamente por falta de controle jurisdicional sobre os atos livremente concebidos e adotados pelos integrantes desse órgão, que pensam que são deuses e, na verdade, são, porque a sua soberania é incontestável e definitiva, não cabendo recurso sobre as suas celestiais decisões, podendo prender, soltar, libertar, sem nunca julgar os atos sob a sua alçada, a exemplo das ações pertinentes aos investigados da Operação Lava-Jato, que estão mofando em seus escaninhos, aguardando prescrições, na conforme do costume ali preservado de longa data.

Essa esdrúxula e inconcebível situação precisa ser revista, com urgência,  de modo que a sociedade não continue sendo prejudicada quanto à plena autonomia do Supremo, que tem gigantesco rastro de decisões polêmicas, muitas das quais prejudiciais ao interesse público.                 

Aproveito o ensejo para repudiar todos os pensamentos que estejam na contramão do desenvolvimento político e social, porque os defensores de regimes de exceção não estão interessados no bem-estar da sociedade, mas sim preocupados exclusivamente com a satisfação de doentia e retrógrada ideologia política, que é algo extremamente prejudicial aos benfazejos princípios democrático e de civilidade.

Tenho esperança de que as gigantescas nuvens de incertezas, que ainda pairam sobre as decisões do Supremo Tribunal Federal, sejam dissipadas, o mais breve possível e em definitivo, por meio de medidas legislativas, de modo que somente haja ali a prevalência dos princípios da constitucionalidade, da legalidade e da civilidade, em benefício dos brasileiros.    

Brasília, em 21 de fevereiro de 2021