O
poeta Vandenildo Oliveira, conterrâneo da cidade de Uiraúna, Paraíba, escreveu
poesia fazendo alusão às secas ocorridas, na região nordestina, nos anos de
1971 e 1973, onde mostrou a movimentação das pessoas envolvidas e atingidas com
as agruras da estiagem, que obrigo os governos a socorrê-las com o normal
alistamento, em forma de ajuda para a subsistência das famílias.
Foi
então que eu disse ao querido poeta Vandenildo que a poesia da lavra dele tinha
a feição de maravilha, por ter tido a capacidade de resgatar em mim um dos momentos
mais deslumbrantes e marcantes da minha infância.
Era
exatamente o ano de 1958, onde ocorreu lá para as bandas de Uiraúna, e do
Nordeste em geral, uma das piores e massacrantes secas da história dessa
região, em que o governo do maior presidente brasileiro, de todos os tempos,
socorreu prontamente o povo sofrido, castigado pela inclemente seca, criando numerosas
frentes de trabalho, justamente para ajudar o povo a atravessar o infortúnio
climático que se abatia naquela região, em condições da maior dignidade jamais
propiciada aos nordestinos, pela sua dimensão.
Eu
tinha apenas 9 anos de idade, mas, mesmo assim, me tornei cassaco – nome dado a
quem se alistava -, porque a situação era realmente dramática e toda criançada
precisou ir para a frente de trabalho, como alistado.
O
trabalho dos cassacos era bastante pesado, tendo por base o carregamento de
terra em carrinhos, para a construção da estrada que ligava Uiraúna ao então
Antenor Navarro.
Lembro-me
que tinha muita gente sob o comando de um apontador, que ficava incumbido de administrar
e coordenar o trabalho dos operários, que desempenhavam a dura missão em
ambiente de incontida animação.
Eu
ficava a semana inteira sob os cuidados desse apontador, que se estabelecia em
uma grande tenda, uma espécie de barracão de lona (a nossa ficava na
proximidade dos Pocinhos) e dali ele comandava o seu pessoal, inclusive eu.
Eu
não pegava no pesado, mas tinha a obrigação de permanecer nas proximidades do
barracão, atento, sob a incumbência o fazimento de pequenos serviços de recados
e chamamento de pessoas, levando instrução ou recados.
Não
obstante, eu sempre me afastava do barracão, com minha baladeira a tiracolo, à
procura de alguma rolinha, que também ficou escassa com a seca, e não teve vez
nem para os tranquilos teús, que também sumiram do mapa.
Foi
realmente tempo de enormes dificuldades para todo pessoal, mas, em contraste à cinérea
situação, nunca vi tamanha animação do povo, diante de tantas bonança, fartura
e novidade na alimentação, porque foi graças à seca de 58 que Uiraúna passou a
conhecer, em fartura, carne jabá, feijão carioca e arroz branco, que eram
mandados pelo governo e tudo chegava com abundância.
Ou
seja, em que pesem as dificuldades decorrentes da seca propriamente dita,
jamais, em tempo algum, o nordestino viu tanta fartura à sua disposição, graças
à magnanimidade do grande estadista Juscelino Kubitschek de Oliveira, o
construtor imortal da mais linda cidade do Centro-Oeste (não vou dizer do
Brasil para não causar ciumeira nem inveja a ninguém, se bem que não tinha nada
de mais em dizê-lo, porque Brasília é a minha segunda terra natal, onde vivo há
mais de 54 anos e o meu amor por ela só se compara ao que sinto por Uiraúna,
mas por outro motivo de pura afinidade por tudo que ela representa para mim e
propiciou de felicidade à minha vida).
Fiquei
muito agradecido ao festejado poeta Vandenildo Oliveira, que é da mesma família
do famoso presidente brasileiro da época, por tão encantada poesia que muito
diz sobre vidas comuns, fazendo-me relembrar da grande seca de 1958, que foi,
indubitavelmente, o meu primeiro e maior teste de resistência e bravura, por
ter conseguido saído dela são e salvo.
Brasília, em 30 de junho de 2020
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