Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, os
brasileiros, no expressivo percentual de 87%, aprovam a redução da maioridade
penal, de 18 para 16 anos, cujo índice é idêntico ao apontado em outro
levantamento feito em abril último, sendo o maior percentual já registrado em
consultas sobre o assunto.
A pesquisa concluiu que, entre os que defendem a
redução em apreço, 73% são favoráveis que a redução seja aplicada para qualquer
tipo de crime e somente 27% para determinados crimes.
Apenas 11% das pessoas ouvidas são contrárias à
mudança na legislação, 1% se declarou indiferente e 1% não soube responder.
O tema em tela suscitou acalorada discussão no seio
da sociedade, tendo criado impasse entre a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal, haja vista que cada casa vem examinando textos próprios que alteram a
penalização de menores infratores.
Uma comissão especial da Câmara aprovou relatório
que reduz a maioridade penal apenas para os crimes considerados graves, mas a
matéria ainda precisa ser votada nos plenários das duas Casas legislativas, em
dois turnos em cada uma, por se tratar de proposta de emenda à Constituição
(PEC).
Na Câmara, há tramitação de 20 projetos de lei que
alteram o Estatuto da Criança e do Adolescente, com vistas ao endurecimento das
medidas socioeducativas de menores infratores e 36 propostas de emenda à
Constituição que reduzem a maioridade penal. Já no Senado, existem 10 projetos propondo
a aprovação de medidas mais rigorosas de punição de adolescentes que cometem
crimes.
Alguns projetos propõem a redução da maioridade
penal somente para crimes hediondos, enquanto outros versam sobre a alteração do
período máximo de internação para jovens infratores. Das matérias em discussão,
somente quatro ganharam destaque e têm possibilidade concreta de serem votadas
pelo Legislativo ainda este ano.
Enquanto os parlamentares se debruçam sobre discussão
de tema tão espinhoso e relevante, a eficácia da redução em referência divide
os especialistas. Por um lado, há os favoráveis à medida, por entenderem que os
adolescentes de 16 e 17 já sabem discernir suficientemente sobre seus atos e
podem responder pelos crimes como adultos, enquanto outro grupo não concorda
com a proposta, por alegarem que, nos presídios, os jovens, ainda em fase de
desenvolvimento, ficarão expostos às influências das facções criminosas.
As
leviandades e mediocridade são incapazes de perceber que as precárias condições
carcerárias são perfeitamente passíveis de saneamento, bastando a implantação de
presídios apropriados para os adolescentes, desde que haja interesse político e
competência e eficiência administrativas para se combater a eterna
criminalidade, que tem a sociedade como a parte sacrificada e ainda tem a obrigação
de pagar pela insensibilidade das autoridades incumbidas de cuidar
constitucionalmente da segurança pública e de pequena parcela de pessoas, que
preferem a impunidade, ao invés da proteção da sociedade, que vive sacrificada
e intranquila, trancada nas suas casas, com medo de ser atacada pela violência,
inclusive juvenil.
As pessoas com mentalidade atrofiada, que defendem a
impunidade de criminosos, não importando a sua idade, precisam se conscientizar
de que a redução da maioridade penal somente terá validade para parcela
reduzidíssima dos adolescentes que cometem crimes bárbaros contra a sociedade,
que anseia viver em paz, porquanto os demais menores que não cometem crime
algum vão continuar vivendo normalmente, junto com as pessoas de bem.
As pessoas que são contra a redução da maioridade
penal demonstram incrível incapacidade para a defesa de ações que evitem o
ingresso de menores no submundo do crime, além de não terem o menor sentimento
quanto à consecução das tão pretendidas paz e tranquilidade das pessoas de bem,
que trabalham honestamente e pagam extorsivos tributos, que deveriam servir
para os programas de defesa da sociedade e de combate à criminalidade,
inclusive à juvenil.
A verdade é que ninguém neste país tem tanta
segurança e conforto nas cercanias palacianas, evidentemente à custa de seus
"súditos", que apenas têm ônus para a manutenção da proteção das
autoridades, enquanto o bônus fica por conta de quem é favorável à continuidade
da impunidade, porquanto a gritante falta de segurança e de proteção, que são
ações de competência do Estado, passa a distância dos poderes da República –
salvo a Câmara dos Deputados, que ensaia a aprovação da redução da maioridade
penal -, que se fazem de eternos moucos aos clamores da sociedade.
Na realidade, o resultado dessa pesquisa mostra com irretocável
clareza que não somente o governo, mas alguns especialistas e outro tanto de
pessoas estão na contramão da real situação brasileira e dos anseios e
sentimentos da sociedade, que, na sua extrema maioria, diz com todas as letras
a sua soberana vontade, com a representatividade de quase 90% dos
entrevistados, pela redução da maioridade penal, ou seja, as opiniões das
pessoas ouvidas são a maneira mais autêntica para se dizer às autoridades
públicas, inclusive aos parlamentares, que algo concreto precisa ser feito com
urgência contra a criminalidade e que seja a alternativa de maior viabilidade,
na atualidade, sem embargo de que o governo venha, posteriormente, ser despertado
para as medidas convenientes e saneadoras da sua alçada. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de junho de 2015