quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Uma vida vida de superação e amor

                                        
 “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de se arrancar o que plantou; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de amar, e tempo de aborrecer; ...” (Eclesiastes).
Portanto, nada surge ou sucede simplesmente por acaso. Tudo acontece no seu exato e devido momento, porquanto há o tempo de semear e o tempo de colher. Assim como há o tempo para nascer e outro para morrer...
Com inspiração nesses princípios bíblicos e por ter sido pessoa que os experimentou intensamente, é possível se inferir que Maria Dalila Rocha nasceu abençoada por Deus, tendo recebido do Criador dom excepcional para lançar sementes férteis, fecundar uma história bonita e maravilhosa e colher belos frutos, virtudes essas que enchem de orgulho e de felicidade os seus descendentes, pelo seu magnífico legado de exemplos de atitudes e procedimentos edificantes e extraordinários.
O seu ventre foi fonte especial da geração e fecundação de nove filhos, a saber: Canidé, Antonio, Dalivan, José, Luiz, Vandali I (falecida ainda bebê), Vandali, Cláudio e Adamilto, todos criados com muito carinho, incomparável dedicação e inexcedível amor. Além dos filhos naturais, ela criou, também  com todo amor, outra filha de nome Maria.
Na sua missão materna, ela se deparou com árduas dificuldades e outros tantos sacrifícios, porém, com habilidade, abnegação e o máximo de desprendimento, tudo foi superado, sempre envidando grandes esforços e bastante energia, ao longo de sua vida, para conseguir, juntamente com seu também dedicado esposo, José Volney Fernandes, o seu sustento e o de sua numerosa prole, nem sempre dispondo de recursos suficientes para tanto.
Pode-se creditar à sua inabalável fé, aliada à firme esperança, o sucesso no vencimento dos obstáculos que se lhe apareciam, porquanto nem mesmo os piores momentos de sua vida foram capazes de abatê-la. Ao contrário, a sua determinação renascia mais forte após a superação dos embaraços.
Algumas virtudes sobressaiam na personalidade de Maria Dalila, merecendo ênfase a bravura e a força inquebrantável que a fortaleciam com surpreendente disposição e capacidade para superar quaisquer empecilhos, surgidos amiudamente ao longo da sua existência.
Quem conviveu com essa senhora sabe perfeitamente que ela foi exemplo de coragem e intrepidez, por ter enfrentado, absolutamente destemida, toda e a mais intrincada dificuldade, não esboçando o mínimo de fraquejo no decorrer da sua extraordinária jornada.
A sua visão generosa dos acontecimentos transcendeu o seu tempo e isso foi manifestado claramente logo cedo na criação de seus filhos, ao se posicionar, com vigor e intransigência, a favor da necessidade de proporcionar-lhes boa e adequada instrução, em que pesem as adversidades de toda ordem existentes àquela época. Esse seu evidente interesse pelos estudos dos filhos foi de fundamental importância para que todos conseguissem formação educacional básica e teve contribuição essencial para a orientação de suas vidas.
Dona Dalila, como era carinhosamente conhecida, foi pródiga em compartilhar gentilezas para com as pessoas e sabia, como poucos, conquistar a amizade de todos, não importando a posição social que ocupavam. Isso não era relevante para ela, porque a todos sempre tratava com muita consideração e respeito, sendo características próprias de sua personalidade, cuja vocação para acolher bem os seus semelhantes e dispensar-lhes a devida atenção, como evidência de camaradagem espontânea, era sua marca inata, fato sempre demonstrado ao receber as pessoas na sua casa, com cortesia, satisfação, afabilidade e sorriso aberto, manifestando sempre a sua felicidade e alegria do convívio.
A excelência do seu relacionamento com as pessoas, da cidade ou da zona rural, se refletiu na extensa relação de afilhados que, prazerosamente, levou-os à pia batismal, como prova inconteste do seu vasto ciclo de amizades e admiradores que soube conquistar com o seu jeito simples e sincero, ao longo da sua vida também dedicada ao amor ao próximo.
Quando ela visitava Brasília, para rever e abraçar seus filhos, suas noras, seu genro, seus netos, demais parentes e amigos, a sua satisfação era facilmente perceptível e, como corolário disso, ela permanecia demoradamente na capital federal, o tempo suficiente para amenizar a saudade que sempre existe no coração das pessoas que se amam. De igual modo, a sua alegria era visível ao receber em sua casa os seus entes queridos, a quem dedicava muita atenção e amabilidade, propiciando-lhes farta e saborosa alimentação de sua rica e especial culinária, que dava água na boca somente ao “degustá-la” com os olhos.
Não há a menor dúvida de que, onde ela se encontre agora, com certeza estará, com muito prazer, como era do seu costume, praticando, caso seja permitido no plano eterno, o muito que gostava na terra, qual seja, fazer as suas abençoadas e gostosas receitas culinárias, sempre muito deliciosas e recheadas do toque mágico da sua marca registrada, como o acerto no tempero, no ponto do cozimento e no sabor da guloseima. Uma de suas muitas receitas, da qual se orgulhava, era o famoso pão-de-ló, sempre processado com esmero e capricho.
Uma paixão que dona Dalila não escondia de ninguém era a sua imensa predileção pelas terras onde nasceu e viveu a sua infância e até se casar. Propiciavam-lhe bastante emoção quaisquer menções ou comentários acerca dos Sítios Cajueiro e Maniçoba, por evocarem-lhe boas recordações de momentos saudáveis e felizes. A sua última visita ao Sítio Maniçoba ocorreu um mês antes do seu passamento, que consistiu num momento memorável para os presentes, apesar de ter sido a sua despedida do local que tanto amava.
A autenticidade das suas opiniões e ideias sobre determinados assuntos foi uma de suas virtudes expressivas e marcantes. Ela nunca media palavras para manifestar o seu verdadeiro e sincero pensamento, sempre fiel à mais pura tradição da família Rocha, que tinha enorme prazer em fazer parte desse grupo social de respeitada tradição regional.
Tristeza era palavra pouco pronunciada no seu restrito vocabulário. No entanto, sem dúvida alguma, alegria foi a sua companheira inseparável e isso era demonstrado no dia a dia de maneira bem peculiar, especialmente quando contava causos, se divertindo a vontade e, ao final, se satisfazia com sonoras, gostosas e demoradas gargalhadas, acompanhadas do seu sorriso cativante. Era assim como ela gostava de viver...
Certamente, Deus foi muito generoso ao lhe conceder amplas oportunidades para o plantio, na sua existência terrena, de verdadeiras sementes de bondade e de amor para o bem da sua família e do seu próximo, permitindo-lhe que colhesse resultados abundantes, conforme evidenciam os seus copiosos ensinamentos de exemplos de amizade e caridade, totalmente condizentes com os mandamentos da lei divina, comprovando ter sido uma devota e dedicada à construção do bem e à prática de puras, boas e edificantes ações, satisfazendo, de forma positiva, os desígnios do Criador.
Com absoluta certeza, a sua ausência é marcante e bastante notada, especialmente no seio da sua família, que sente infinita saudade pela irreparável perda de pessoa tão especial, querida e amada, que, além do dom divino da geração de muitos filhos, soube criá-los com dignidade, dar-lhes a necessária educação e ensinar-lhes a prática do bem e do respeito para com o seu semelhante, sendo merecedora do eterno e sincero agradecimento por sua bondade, integridade, responsabilidade e pelo seu imenso amor no coração, atributos que a elegem, seguramente, candidata ao usufruto das benesses, bênçãos e dádivas celestiais, somente concedidas às pessoas que nesta vida foram fiéis seguidoras dos ensinamentos cristãos e praticaram atos de dignidade e de verdadeiro amor, sendo, pelos seus méritos, eleitas por Deus.
Pouco importa o tempo da partida de Maria Dalila Rocha, mesmo após o fiel e satisfatório cumprimento, durante exatos 86 anos e 10 meses, da sua missão bíblica na terra, as lágrimas continuam escorrendo, mas elas se volatilizam nos eflúvios de seu legado de fibra e bravura na defesa de seus ideais e da dignidade das pessoas e na esperança de dias melhores para todos.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de março de 2010

Obs.: Este texto passa a ser histórico e estava sendo guardado para este momento, porque é o centésimo registrado neste arquivo  e homenageia uma pessoa muito especial, conforme se percebe nos seus escritos.

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