terça-feira, 26 de abril de 2011

Truculência parlamentar

 Um senador da República ficou irritado depois de ser indagado sobre a sua vergonhosa aposentadoria, por ter ocupado, pasmem, o cargo de governador do Estado do Paraná, tendo arrancado o gravador das mãos do repórter e apagado o conteúdo da interlocução, além de ameaçar surrá-lo. A pergunta cingia-se apenas se sua excelência abriria mão da aludida inativação. Logo após o episódio, a dita autoridade assevera “Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa, vou deletá-lo.”. A justificativa para o inominável ato foi porque o parlamentar teria sido incomodado, simplesmente por ter sido questionado sobre o fato de se beneficiar de ato eivado de irregularidade, como se isso lhe desse o direito de estorvar e censurar, de forma estúpida, a liberdade de imprensa. Mais uma vez, um parlamentar protagoniza cenas ridículas perante a opinião pública, ao tratar de matéria seríssima, como se apoderar, de forma imoral, de dinheiros públicos, visto que está mais do que demonstrada a indecência dessas aposentadorias de ex-governadores, uma vez que os beneficiários não terem contribuído, nos termos da lei, para a previdência social, nem satisfeito o requisito temporal exigido. É lamentável que assunto, tão sério e importante como esse, seja tratado com menosprezo e como se fosse mera provocação engraçadinha, esquecendo aquela autoridade que, além da imoralidade intrínseca do ato questionado, o respectivo dispêndio afeta a vida financeira do contribuinte, que o paga compulsoriamente.  A atitude indelicada e truculenta em foco não condiz com a postura que se exige de um lídimo representante do povo, que também é compelido a pagar os régios vencimentos desse parlamentar, para defender os interesses da sociedade, aprovando leis e fiscalizando a boa e regular aplicação dos recursos públicos. Como o procedimento do político não corresponde aos anseios da sociedade, a exemplo do retratado aqui, a culpa não é dele, mas sim do próprio eleitor, que o escolheu para representa-lo. Na verdade, cabe ao cidadão escolher corretamente as pessoas de bem para representá-lo com dignidade e excluir da vida pública os verdadeiros aproveitadores dos recursos públicos, inclusive aqueles que se beneficiam de aposentadorias, de forma indevida.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 26 de abril de 2011

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