É
sintomático como sociedade reage ou nem sente que a corrução atinge diretamente
os seus interesses, mas esse fato nem importa mais, justamente porque até ela
já se acostumou com a continuidade da lesão ao seu patrimônio.
A recente
história brasileira mostra verdadeiro e alarmante contraste entre os escândalos,
em que, no passado, era possível se investigarem e punirem os atos de corrupção
(vindo o perdão depois).
Agora, nem
mais se apuram os fatos pertinentes à efetividade da corrução, que é esquecida com
o silêncio ensurdecedor diante da roubalheira sistemática de bilhões de reais
do Instituto Nacional do Seguro Social, que era tido como seguro reduto da
esperança de milhões de brasileiros que ainda pensava envelhecer e vier com a dignidade
advinda de muitos anos de suado trabalho, recolhendo as devidas contribuições.
Trata-se
de gigantesco rombo de R$ 6,3 bilhões nos cofres do INSS, mas, inexplicável e
injustificadamente, o governo sequer pensou em investigar, como se isso não tivesse
a menor implicação na vida dos velhinhos.
A verdade
é que a necessária régua moral com que se deve medir os escândalos e as corrupções
do passado tornou-se absolutamente peça de museu, diante da magnitude abissal das
roubalheiras recentes.
Convém ser
substituído o referencial do passado, diante da nova modalidade de desvios de
recursos, que deixaram de ser pontuais para serem monstruosas pilhagens
institucionalizadas.
Os horrorosos
escândalos do mensalão, petrolão e INSS, cada qual com as suas especificidade, são
provas cabais da monstruosidade aos cofres públicos, com a drenagem de bilhões
de reais, sob os auspícios da impunidade e do consentimento passiva da
sociedade, cujo silêncio tem o condão de “legalizar”, blindar e vernizar a pouca-vergonha
que se espraia comodamente no reino tupiniquim.
O certo é
que os brasileiros até já se acostumaram com a sua submissão à insensatez dos
atos corruptivos com o emprego do dinheiro público, em repetição incessante de
escândalos seguidos de outros, deixando de serem refratários a eles.
Diante da
contumácia dos gravíssimos atos de corrupção, sem nenhuma consequência, em
especial punitiva, é possível se intuir que eles passaram a ser a exceção da
moralidade, em lugar da saudável regra da probidade na administração pública,
ganhando estatura de norma institucionalizada pelos próprios corruptos,
evidentemente com o respaldo da sociedade, que a aceita passivamente.
Ou seja, as
irregularidades já não causam mais nenhuma indignação por parte da sociedade,
que os aceita com naturalidade, à vista da impunidade dos gravíssimos
acontecimentos.
A verdade
é que os brasileiros já sequer acreditam na eficácia da denúncia e muito menos
da punição dos envolvidos nas irregularidades, diante das suas apatia e
inexistência de indignação.
Na
realidade, trata-se de notório fenômeno com a designação de dessensibilização
moral, diante de processo que se configura pela contínua exposição de escândalos
sem a devida punição aos culpados, cuja prática contribui para destruir a
capacidade da vergonha e do julgamento ético da sociedade.
A verdade
é que esse indiscutível desinteresse pela moralização do Brasil, que pode ser denominado
de entorpecimento da consciência cívica e psíquica, vem merecendo estudos sob o
pomposo título de “fadiga de compaixão”, diante do desprezo aos princípios do
decoro e da honestidade.
Com maior
precisão, esse câncer na vida dos brasileiros deveria ser pesquisado, com a
devida propriedade, sob a “fadiga de indignação”, à vista da falta de reação da
sociedade aos monstruosos atos de corrupção, que não espantam nem indignam mais
ninguém.
Infelizmente,
o desleixo da sociedade tem o condão de se permitir o triunfo das maldades
contra a si própria, à vista da preponderância do clássico coma cívico, com a
força da clara erosão sistemática e progressiva da sua sensibilidade moral.
O certo
mesmo é que, antes, a corrupção era motivo de forte indignação da sociedade, mas,
agora, apenas surgem poucos gatos pingados que ainda se arriscam em gritar o
seu repúdio de protesto, porquanto a monstruosa e assombrosa corrupção, em forma
de máquina de desvio de dinheiro público, já não assusta nem incomoda mais os
brasileiros.
Não
precisa ser inteligente para entender que a corrupção se trata de golpe financeiro
“legalizado” contra a sociedade que precisa ser interpretado como agressão também
à legislação penal, financeira e criminal do país, que vem sendo tragicamente desprezada.
A
sociedade, cônscia da sua responsabilidade cívica e patriótica, não pode deixar
que o país continue a servir de paraíso para os políticos corruptos, desonestos,
indignos e irresponsáveis, precisando ser despertada dessa inaceitável letargia.
Urge que
os brasileiros readquiram o amor à pátria, o respeito à moralidade e o repúdio
aos políticos desonestos e improbos, de modo que isso possa servir de substancial
ingrediente para a limpeza da vida pública dos aproveitadores do dinheiro dos
contribuintes.
Brasília,
em 11 de junho de 2025