terça-feira, 27 de março de 2012

Basta de indignidades

Desde séculos, se renova a todo ano a agonia, o sofrimento e o flagelo do nordestino diante da falta do precioso líquido da vida. Mais uma vez, a mídia noticia com detalhes cruéis dificuldades por que passa a população para sobreviver à procura de água. Às vezes, o sacrifício é recompensado quando a pessoa se depara, a quilômetros da sua residência, com um barreiro de água que talvez tivesse serventia apenas para a lavoura, em virtude do seu estado lamentável de impureza próxima à lama, de tão barrenta e totalmente imprópria para o consumo dos animais, muito menos do homem. Noutros casos, a água é vendida a preço elevado, absolutamente incompatível com as condições econômicas do calejado, mas bravo nordestino, que resiste, de forma inexplicável, mas com abnegação própria da inata condição da sua cultura pacata, essa trágica e maldosa situação de infortúnio, somente acometida ao povo nordestino, por capricho da natureza e principalmente dos homens ruins. Essa calamidade da seca poderia ser facilmente evitada se os governantes tivessem o mínimo de sensibilidade humana e de responsabilidade com a vida. Entretanto, já está mais do que provado que a seca e as suas consequências se tornaram verdadeira indústria por meio da qual os políticos se beneficiam desse caos social, não tendo qualquer interesse na sua definitiva solução. Por sua vez, é fato que nunca, em momento algum, o fazendeiro ou o líder político reclama da falta de água, mas o pobre, o homem humilde, desprovido da assistência oficial, está a todo instante implorando por socorro, que jamais aparece nesses momentos aflitivos da sua vida. Veja-se que o governo federal não se cansa de anunciar, de longa data, alocação de recursos públicos, gerenciados pelo Ministério da Integração Nacional - aquele que se tornou famoso por destinar maciças verbas para Pernambuco -, para investimentos em programas de abastecimento de água, porém essas “boas” ações, ao que tudo indica, somente beneficiam as propriedades dos “coronéis” da esperta política nordestina, deixando os verdadeiros interessados a ver navios, sem um pingo de água. É lamentável que esses investimentos, que são uma realidade, não mereçam devido acompanhamento, mediante fiscalização e controle para se aquilatar a efetivação do emprego dos recursos nos reais fins colimados, qual seja, assegurar o abastecimento de água de qualidade aos nordestinos, como forma de sanar em definitivo essa vergonha nacional. Esse descaso com a vida humana talvez seja explicado pelo fato de que, nos palácios e ministérios, só existe fartura, não só de água, enquanto no semiárido nordestino falta tudo, principalmente água, o bem mais importante. Esse indecente e inadmissível contraste somente ocorre em países cuja ideologia dos mandatários está arquitetada com o único propósito de se manterem no poder, sem qualquer preocupação com as causas da sociedade. Diante disso, o nordestino não pode deixar que o seu brio e a sua dignidade continuem sendo ultrajados pela incompetência governamental e pela sanha descarada dos maus políticos, eternos sanguessuga das verbas destinadas à melhoria das condições de vida desses nordestinos de incontestável bravura. Urge que o povo do Nordeste se conscientize sobre o real valor do seu voto e se mobilize com o propósito de somente eleger representante que tenha dignidade para defender as suas causas e necessidades básicas, em especial exigindo que os recursos públicos sejam efetivamente aplicados nos programas para os quais tenham sido destinados. Acorda, Brasil!   

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 27 de março de 2012

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