quinta-feira, 29 de março de 2012

Imoralidade política

Até parece brincadeira de péssimo gosto o que esses políticos brasileiros dizem, na tentativa de justificar as costumeiras práticas do fisiologismo descarado e vergonhoso, como o que teve o desplante de afirmar o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, que, em discurso inflamado, rechaçou o entendimento segundo o qual reivindicar cargos no governo federal e exigir liberação de emendas parlamentares, destinadas à realização de obras, não são "toma lá da cá". O seu desabafo tem como alvo critica da imprensa que sentencia que o Congresso vem fazendo exigências e "chantagens" para votar projetos de interesse do Planalto. Ele foi categórico ao dizer que "Emenda não é concessão de Poder nenhum. É uma previsão orçamentária. O deputado é interlocutor de suas bases, de suas comunidades. Mas fica como se fosse um toma lá da cá". No caso dos cargos, a sua explicação também foi muito clara, ou seja, a base aliada tem direito de indicar "pessoas competentes" para assumir funções no Executivo, "... por sermos sócios da gestão que queremos colocar pessoas competentes.". Ele concluiu com essa pérola: "Essa carapuça de toma lá dá cá eu não aceito", tendo sido bastante aplaudido pelos demais parlamentares. Saliente-se que, em entrevista concedida à revista Veja, a presidente da República negou, de forma infeliz, que exista crise política entre o Planalto e o Congresso, mas foi enfática e sincera ao dizer que "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá. Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo. Mas isso nada tem a ver com a troca dos líderes. Eles não saíram por essa razão". O certo é que a presidente vem se estremecendo com a sua base aliada, fruto da troca dos líderes do governo no Senado e na Câmara. Não há a menor dúvida de que se trata de mesquinha chantagem política essa imposição de somente votar as matérias prioritárias do governo se houver o atendimento das reivindicações dos parlamentares. O líder está com inteira razão, uma vez que toma lá dá cá é simplesmente eufemismo por conta da gravidade da indecência que a base aliada vem exigindo, de forma inescrupulosa, evidenciando verdadeira falta de caráter e de vergonha na cara desses péssimos políticos, que, de longa data, são useiros e vezeiros em ameaçarem o Planalto e em boicotarem a tramitação de projetos, com o exclusivo objetivo da obtenção de verbas e cargos públicos, em troca do seu apoio às votações das matérias do governo. Trata-se, indiscutivelmente, de fisiologismo pobre e desonesto, porquanto, na forma da Constituição Federal, somente o Executivo tem competência para estimar receita e fixar despesa, ou seja, o orçamento é de iniciativa exclusiva da União, cabendo ao Legislativo tão somente a sua votação, sem direito à inclusão de emendas. Essa balela de emendas de parlamentares é uma invenção dos congressistas, mera concessão que a presidente da República, se tivesse coragem e autoridade moral, que seriam normais, deveria vetá-las e acabar em definitivo essa indecência que serve unicamente para alocar recursos para currais eleitorais, sem nenhuma finalidade senão turbinar a capacidade eleitoreira dos seus autores. Do mesmo modo acontece com os cargos públicos, que são exclusivamente do Executivo, que, por lei, teria, não fosse a coalizão fisiológica, competência para nomear seus ocupantes com base na comprovada capacidade técnico-profissional. Como se pode constatar, as reivindicações dos aliados visam tão somente à satisfação dos seus interesses, sem nenhuma preocupação com as causas nacionais. A sociedade espera que haja completa renovação desses congressistas chantagistas, fisiologistas e desonestos, que não têm a dignidade de exercer seus cargos apenas como verdadeiros e fiéis representantes do povo, defendendo os interesses deste, em conformidade com os ditames da Constituição Federal. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de março de 2012

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