sábado, 24 de março de 2012

Obrigado, Chico Anysio

Há quem prefira dizer que o humor está de luto e ficou mais sem graça, com a lamentável despedida do palco brasileiro do maior, genial e consagrado humorista da história deste país, que, como ninguém, foi privilegiado com inteligência refinada e qualificada, bastante superior à permitida aos homens da sua época. Na verdade, o humor encontra-se, neste momento de pausa para as merecidas honrarias ao mestre-mor, repleto de felicidade, por ter sido tão bem enaltecido, tratado, burilado e potencializado com muito brilhantismo por quem recebeu a incumbência dos deuses do humorismo para ser inimitável, incomparável, inigualável e insuperável, tendo sido o felizardo pela inacreditável criação de nada mais nada menos do que 209 personagens de qualidade destacada e venerada por todos, que marcaram época na televisão e no cotidiano dos brasileiros. Somente o maravilhoso talento de Chico Anysio foi capaz de satirizar, no auge do regime militar, a corrupção e os trambiques de então, que, à época, eram apenas minúsculos embriões se comparados à monstruosidade que se apoderou do atual governo. As criações de Chico Anysio são fantásticas, memoráveis e inesquecíveis, com destaque para o professor Raimundo, que soube criticar com requinte o baixíssimo nível da educação brasileira, inclusive a desvalorização do trabalho do mestre; o Popó, representando a velhice razinza e insuportável; o Bozó, que fazia do uso do crachá para se passar por famoso funcionário da TV Globo; o Haroldo, famoso homem “másculo”; o Azambuja, verdadeiro malandro carioca; o Justo Veríssimo, figura patética do mau e retrógrado político tupiniquim; o Pantaleão, engraçado contador de causos satíricos da vida dos brasileiros, de onde se tornou célebre o chavão “É mentira, Terta?; o Painho, sem dúvida, o pai de santo mais famoso da televisão; o Alberto Roberto, galã canastrão; o Coalhada, o perna de pau do futebol; entre tantos personagens famosos e não menos importantes, cada qual com vozes, gestos, bordões, trejeitos e estilos próprios e inconfundíveis, cômicos e cheios de criatividade inatos de um gênio soberano da arte do humorismo de nível superior, que merece as melhores honras e homenagens, pelo reconhecimento ao talento, à inteligência e à genialidade desse extraordinário artista, cujo legado é imensurável, porque ninguém foi capaz de alegrar e divertir tão gostosamente e por tanto tempo o povo brasileiro, com suas criaturas e seu humor fino, espontâneo e satírico. Não fosse a necessidade do fiel cumprimento da ordem natural do universo, haveria de se lamentar que pessoa tão generosa em dar vida a centenas de personagens, com tanto carinho e amor, seja incapaz de evitar que sua vida se encerre sem chance de ser revivida e poder contribuir para a alegria e o divertimento dos seus eternos admiradores. A sua vasta obra será, por certo, eternizada, como foi a dos grandes artistas geniais, como Charles Chaplin e muitos outros consagrados por sua inteligência e o seu apurado senso criativo, e continuará na nobre missão de divertir gerações. Embora sentido e abatido pelo infausto acontecimento, o povo brasileiro tem milhões de motivos para agradecer ao grande herói nacional, augurando que o seu belo trabalho realizado entre nós continue com o mesmo brilhantismo no plano celestial, para encantar e alegrar ainda mais a maravilhosa vida dos anjos e santos. Amém!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de março de 2012

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