quarta-feira, 21 de março de 2012

Ausência de racionalidade

Tão combatido, ultimamente, pela sociedade e pelos meios de comunicação, o pagamento aos senadores dos vergonhosos e inadmissíveis 14º e 15º Salários, instituídos pela Constituição de 1946, permanecendo intatos desde então, pode ter seu fim decretado caso esses cidadãos tenham a dignidade e se sensibilizem com a clara e firme demonstração de repúdio a essa excrescência, que vem sendo denunciada como imoralidade e verdadeira farra com dinheiros dos contribuintes, que não recebem benesses semelhantes, ficando difícil de ser explicada tamanha aberração, quanto mais que se trata de mordomias pagas anualmente sem o devido desconto do Imposto de Renda. A propósito da discussão, um senador ressalta que “... este é o momento de buscar austeridade mesmo e procurar estar mais próximo do sentimento da população”. Entretanto, outros parlamentares, contrários à extinção dessa falta de decoro, alegam desculpas as mais esfarrapadas possíveis e sem a menor plausibilidade com a situação econômica do país, como a de que os senadores ganham muito pouco. Outro disse, irritado, que “A imprensa faz muito barulho e joga nas costas do Senado tudo de ruim que acontece no país”. Teve ainda um parlamentar mais radical, afirmando que “Isoladamente, eu sou contra a extinção dos dois salários. Devemos acabar com verba indenizatória, com financiamentos e partir para um salário que um grane executivo recebe. Existe uma grande hipocrisia no Brasil.”. É bastante lamentável que a mentalidade de alguns senadores se restrinja a pensar na sua situação pessoal em primeiro plano, esquecendo-se que a sua primacial função é representar o povo, com a maior e melhor dignidade possível, inclusive defendendo austeridade e parcimônia nos gastos públicos, a começar pelos seus vencimentos, que não são maus, como forma de dar exemplo de parlamentar decente e probo com a res publica, eliminando um pouco a fartura de mordomias incompatíveis com o trabalho que eles realizam e com as gritantes carências da grande maioria dos brasileiros. A alegação de que os parlamentares ganham pouco não pode ser aceita como verdade, ante a existência de tantos salários que eles recebem, mais uma infinidade de ajudas, auxílios, verbas disso e daquilo, emendas parlamentares etc. e em compensação nada fazem para justificar exagerados e absurdos dispêndios. Por sua vez, pretender comparar as atividades desempenhadas pelos senadores com as dos grandes executivos, a ponto de, por isso, se exigir a equiparação de salários, só pode ser brincadeira de mau gosto e achar que os demais brasileiros não têm o mínimo senso e de critério de avaliação sobre o que eles fazem em benefício da sociedade, tendo em conta ainda o fato de que os grandes executivos trabalham duro a semana inteira, 24 horas por dia, e os parlamentares chegam a Brasília na terça-feira, tomam os cafezinhos de praxe e, na quinta-feira, estão retornando rapidinhos às “suas bases eleitorais”, ou seja, fica muito fácil aquilatar o grau de responsabilidade dos ocupantes dos referidos cargos. Agora, dizer que há hipocrisia no Brasil, somente porque se questiona o pagamento de salários indevidos, isso fere os sentimentos e os brios dos brasileiros, principalmente por ter sido sentenciado por alguém que deveria se envergonhar em defender publicamente tremenda imoralidade. Urge que os congressistas sejam conscientizados quanto aos justos vencimentos que realmente devem fazer jus, tendo em conta exatamente o tamanho e a extensão do seu desempenho como representante do povo e a produção em benefício da sociedade e do país. Acorda, Brasil!     

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de março de 2012

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