sábado, 30 de novembro de 2024

Golpe sobre golpe

 

Surge nova notícia sobre essa história de golpe de Estado, por meio da defesa do ex-presidente do país, que passou a discorrer sobre a tese do "golpe do golpe", em que militares de alta patente e assessores diretos do mandatário teriam usado a trama golpista, no fim de 2022, para derrubar o então presidente e assumir o poder e não para mantê-lo no cargo.

À primeira vista, trata-se de ardilosa e inteligente estratégia destinada a afastar o ex-presidente para bem distante do que estão chamando de enredo golpista, mas sim colocar no olho do furacão os dois importantes generais ligados ao mandatário, que seriam os principais beneficiados por consequência da ruptura institucional.

Aliados dos dois militares afirmaram que a divulgação dessa relevante linha de defesa causou quebra de confiança, porque a estratégia é interpretada como puro oportunismo do ex-presidente, usando-a como tentativa de se livrar das acusações, como álibi de que ele desconhecia os planos golpistas.

Um documento elaborado por um general da reserva, considerado um dos principais suspeitos de arquitetar a trama golpista, segundo a Polícia Federal, serviu de base para essa maquiavélica tese.

Vejam-se que o texto desse documento previa a criação de Gabinete Institucional de Gestão de Crise, comandado por militares, logo após o golpe de Estado.

Essa linha de defesa do ex-presidente, em afirmar que ele não se beneficiaria com o golpe causou reações em forma de repúdio por militares.

O advogado do ex-presidente disse o seguinte: "Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general (omiti o nome), seria uma junta que seria criada após a ação do 'Plano Punhal Verde e Amarelo' e, nessa junta, não estava incluído o presidente (omiti o nome)".

O citado advogado disse que o ex-presidente não tinha conhecimento do plano que definia estratégias para matar o presidente e o vice-presidente  eleitos e o juiz da corte maior do país.

Ele disse que "Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o (omiti o nome), seria aquele grupo".

Enquanto isso, um dos generais criticou, com veemência, a ideia do advogado, dizendo que se trata de "tese fantasiosa e absurda de 'golpe dentro do golpe'".

A defesa desse general lembra "(...), que durante o governo passado, foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis".

Os generais disseram que os militares responsabilizam mais os advogados do que o ex-presidente do país por essas afirmações desrespeitosas e inverídicas.

Conforme o documento revelado pela Polícia Federal, um general seria o chefe do grupo e outro era o coordenador-geral.

Um dos generais era uma das pessoas mais próximas do ex-presidente, que o tinha como o seu principal conselheiro, além de ele ser também um dos generais mais respeitados no Exército.

O certo é que os dois generais que são acusados de liderarem o golpe de Estado faziam parte do círculo mais íntimo do ex-presidente do país.

A presente notícia constitui mais uma versão mirabolante acerca de golpe de Estado, dando como certo que tivessem acontecidos os planos com essa finalidade, ou seja, sob o prisma do advogado do ex-presidente tudo pode ter acontecido, mas sem a participação do mandatário.

Ou seja, nessa nova versão importa menos que houvesse planejamento para golpe, desde que fique claro que o ex-presidente dele não participou, posto que nem seria interessado como beneficiário.

Cada vez mais os fatos ganham contornos de pura suspensão, em que cada qual procura brechas para se livrar das investigações, por meio de versões tendo por base as argumentações constantes do suposto documento original que serviu de instrumento para o indiciamento dos envolvidos.

Enfim, os brasileiros esperam que os fatos sejam realmente investigados, de modo que as apurações possam apontar as responsabilidades por possíveis pretensões golpistas, cujas condenações, se necessárias e legais, se atenham apenas aos fatos preparatórios, uma vez que não houve qualquer execução de golpe e muito menos prejuízo às instituições democráticas nem às estruturas republicanas, não justificando exageradas condenações, por crimes que nem existiram, porque intenção não causa consequência criminal alguma.

Brasília, em 30 de novembro de 2024

Nenhum comentário:

Postar um comentário