Surge nova notícia sobre essa história de golpe de Estado, por meio da defesa
do ex-presidente do país, que passou a discorrer sobre a tese do "golpe
do golpe", em que militares de alta patente e assessores diretos do
mandatário teriam usado a trama golpista, no fim de 2022, para derrubar o então
presidente e assumir o poder e não para mantê-lo no cargo.
À primeira vista, trata-se de ardilosa e inteligente estratégia destinada
a afastar o ex-presidente para bem distante do que estão chamando de enredo
golpista, mas sim colocar no olho do furacão os dois importantes generais ligados
ao mandatário, que seriam os principais beneficiados por consequência da ruptura
institucional.
Aliados dos dois militares afirmaram que a divulgação dessa relevante linha
de defesa causou quebra de confiança, porque a estratégia é interpretada como puro
oportunismo do ex-presidente, usando-a como tentativa de se livrar das
acusações, como álibi de que ele desconhecia os planos golpistas.
Um documento elaborado por um general da reserva, considerado um dos
principais suspeitos de arquitetar a trama golpista, segundo a Polícia Federal,
serviu de base para essa maquiavélica tese.
Vejam-se que o texto desse documento previa a criação de Gabinete
Institucional de Gestão de Crise, comandado por militares, logo após o golpe de
Estado.
Essa linha de defesa do ex-presidente, em afirmar que ele não se beneficiaria
com o golpe causou reações em forma de repúdio por militares.
O advogado do ex-presidente disse o seguinte: "Quem seria o
grande beneficiado? Segundo o plano do general (omiti o nome), seria uma
junta que seria criada após a ação do 'Plano Punhal Verde e Amarelo' e, nessa
junta, não estava incluído o presidente (omiti o nome)".
O citado advogado disse que o ex-presidente não tinha conhecimento do
plano que definia estratégias para matar o presidente e o vice-presidente eleitos e o juiz da corte maior do país.
Ele disse que "Não tem o nome dele lá, ele não seria
beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado
ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na
Venezuela chegaria a acontecer, não seria o (omiti o nome), seria aquele
grupo".
Enquanto isso, um dos generais criticou, com veemência, a ideia do
advogado, dizendo que se trata de "tese fantasiosa e absurda de 'golpe
dentro do golpe'".
A defesa desse general lembra "(...), que durante o governo
passado, foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao
presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém
até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis".
Os generais disseram que os militares responsabilizam mais os advogados
do que o ex-presidente do país por essas afirmações desrespeitosas e
inverídicas.
Conforme o documento revelado pela Polícia Federal, um general seria o
chefe do grupo e outro era o coordenador-geral.
Um dos generais era uma das pessoas mais próximas do ex-presidente, que
o tinha como o seu principal conselheiro, além de ele ser também um dos
generais mais respeitados no Exército.
O certo é que os dois generais que são acusados de liderarem o golpe de
Estado faziam parte do círculo mais íntimo do ex-presidente do país.
A presente notícia constitui mais uma versão mirabolante acerca de golpe
de Estado, dando como certo que tivessem acontecidos os planos com essa finalidade,
ou seja, sob o prisma do advogado do ex-presidente tudo pode ter acontecido,
mas sem a participação do mandatário.
Ou seja, nessa nova versão importa menos que houvesse planejamento para
golpe, desde que fique claro que o ex-presidente dele não participou, posto que
nem seria interessado como beneficiário.
Cada vez mais os fatos ganham contornos de pura suspensão, em que cada
qual procura brechas para se livrar das investigações, por meio de versões
tendo por base as argumentações constantes do suposto documento original que
serviu de instrumento para o indiciamento dos envolvidos.
Enfim, os brasileiros esperam que os fatos sejam realmente investigados,
de modo que as apurações possam apontar as responsabilidades por possíveis
pretensões golpistas, cujas condenações, se necessárias e legais, se atenham
apenas aos fatos preparatórios, uma vez que não houve qualquer execução de
golpe e muito menos prejuízo às instituições democráticas nem às estruturas
republicanas, não justificando exageradas condenações, por crimes que nem
existiram, porque intenção não causa consequência criminal alguma.
Brasília, em 30 de novembro de 2024
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