quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O presidente americano

O candidato republicano acaba de conquistar o direito de regressar à Casa Branca, depois de ter sido eleito para o cargo de 47.º presidente dos Estados Unidos da América.

Não obstante, ele se encontra envolvido em escabrosos casos judiciais, por responder a vários processos criminais, que em nada impediram que se candidatasse, fizesse campanha eleitoral e poderá tomar posse normalmente, sob o amparo constitucional, que permite, pasmem, o entendimento segundo o qual os processos e as condenações fiquem suspensos, exatamente durante os quatro anos de mandato presidencial.

O republicano foi o primeiro ex-chefe de Estado a enfrentar acusações criminais, sendo obrigado a responder a acusações em quatro processos em simultâneo, tendo sido inclusivamente condenado pela falsificação de registros de pagamento a uma estrela pornográfica, durante a sua campanha presidencial de 2016.

Na campanha eleitoral, o político republicano prometeu demitir o procurador-geral que foi responsável pela investigação ao ataque ao Capitólio e à posse ilegal de documentos confidenciais, retidos na residência dele, na Florida, evidentemente depois de ele ter saída da Casa Branca.

Como não poderia ser diferente, o presidente norte-americano que acaba de ser eleito declarou-se inocente e considerou que as acusações tinham motivações políticas.

Ainda que, como chefe de Estado, tenha autoridade para dispensar o mencionado procurador-geral e colocar ponto final nos processos federais contra ele, o republicano não poderá exercer o mesmo tipo de controle no caso da estrela pornográfica nem nas acusações de que é alvo na tentativa de anular a vitória do atual presidente do país, em 2020.

Não obstante, o regresso dele à Casa Branca, como presidente dos americanos, garante que o republicano possa enfrentar consequências legais em qualquer um dos casos durante o seu mandato, sem sofrer qualquer ameaça ao exercício do mandato para o qual ele foi eleito.

Não deixa de causar perplexidade a legislação eleitoral dos Estados Unidos permitir que pessoa envolvida com processos judiciais possa se candidatar a cargo público eletivo, inclusive o mais relevante do país, que, em princípio, precisaria comprovar a sua condição de imaculabilidade, em especial na vida privada, como forma de provar a sua conduta exemplar compatível com a grandeza da administração pública.

À toda evidência, é completamente incompreensível que pessoa envolvida em investigação criminal, sob suspeita de fraude, vale dizer, em contrariedade com os ditames jurídicos, possa participar de atividades políticas, principalmente na nação considerada a mais democrática do mundo, mas se permite tamanha aberração como essa de se permitir que réu em processo criminal possa exercer cargo público eletivo.

Aliás, a bem da legitimidade, essa clara deformidade jurídica, não tem cabimento nem mesmo nas piores republiquetas, onde nem sempre se respeitam as normas legais e muito menos os sagrados princípios da moralidade e da dignidade.

Em se tratando de país que tem sido modelo para o mundo, seria aconselhável, como forma de lisura, que o político antes provasse a sua inocência nos processos nos quais ele responde pelos fatos acusados de irregulares e somente depois disso pudesse concorrer à disputa por cargo público, no caso, da maior relevância, mas isso independe da conveniência e do interesse de cada país. 

Enfim, o novo presidente dos Estados Unidos da América foi eleito democraticamente pelo voto popular, o que vale se intuir que o povo tem o seu representante político que bem merece, como nesse caso, em que os americanos sabiam que o presidente eleito responde a vários processos criminais, na Justiça, mas mesmo assim o escolheu para representá-los politicamente.

            Brasília, em  de novembro de 2024 

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