O
ex-presidente da República petista se reuniu com o papa, no Vaticano, em audiência
privada, cuja reunião, que não constou na agenda pontifícia, aconteceu na casa
de hóspedes Santa Marta, dentro da cidade onde mora o argentino.
Segundo
a assessoria do ex-presidente, o principal tema discutido foi o combate à
pobreza, que tem sido assunto que integra a agenda permanente do papa.
A
reunião entre o brasileiro e o argentino foi intermediado pelo presidente da
Argentina, que visitou o conterrâneo, no Vaticano, no dia 31 de janeiro último.
Segundo
o presidente da Argentina, “O Lula me pediu para ver o Papa. E eu pedi
(ao papa) se ele podia receber o Lula. E ele (o papa) me disse que
‘claro’ e que (o petista) lhe escrevesse porque ele (o papa), com
todo prazer, o receberá”.
Trata-se
da primeira viagem internacional do ex-presidente após ele ter deixado a
prisão, em novembro.
O
papa é a maior autoridade da Igreja Católica e possui a plenitude do poder para
o governo dela, o que vale dizer que as suas decisões são inquestionáveis, sob
o ponto de vista da administração dos assuntos da igreja, inclusive pesa sobre
a sua responsabilidade o dever de cumprir e fazer os princípios da ética e da moralidade,
tanto na estipulação das regras e normas da instituição como na sua aplicação,
exigindo o seu cumprimento.
É
sabido que o papa goza do supremo poder em questões espirituais e sob este aspecto
ele não pode ser julgado por ninguém na Terra, ante a exclusividade do julgamento
por Deus, mas ele, repita-se, em matéria espiritual, tem o direito exclusivo de
julgar as supremas autoridades do Estado e as eclesiásticas.
Afora
isso, nada impede que o papa possa ser censurado se deixar de observar a cartilha
que orienta e sustenta os pilares da ética e da moralidade que servem de alicerces
para a caminhada da madre Igreja Católica.
Na
verdade, a liturgia da Igreja Católica segue o padrão ditado pelo papa, que
serve de luz para os cristãos, tornando-se, ao longo da história da igreja, modelo
e padrão de moralidade para a formação da evangelização segundo os princípios
de moralidade pretendido por Jesus Cristo.
É
da competência do papa a adoção de medidas destinadas à preservação tanto da fé
como da moral, que se expõem no âmbito da Igreja Católica, o que significa
dizer que as suas atitudes podem fortalecer ou fragilizar a estrutura da igreja
que comanda.
Em
princípio, vê-se que o tema alegado como possível objeto de discussão, no caso,
o combate à pobreza, não diz coisa com nada, considerando, em especial, que o
político está absolutamente afastado da gestão pública, bem distante de se
candidatar a cargo com competência para cuidar de assunto dessa natureza, o que
bem demonstra a falta de objetividade para justificar encontro visivelmente desnecessário,
que somente contribuiu para contrariar os interesses da Igreja Católica, diante
do absurdo de o papa se encontrar com pessoa totalmente estranha ao pensamento
dessa instituição.
Agora,
não há negar que, à vista da esperteza do político, o encontro dele com o papa
será, certamente, empregado em forma de marketing pessoal, na melhor estratégica política possível, para mostrar seu prestígio perante o mandatário da Igreja Católica,
como se isso tivesse algum proveito aos processos penais em tramitação na
Justiça, que estão à espera das justificativas, dos esclarecimentos e das
contraprovas sobre as pletoras e espantosas denúncias que pesam sobre os ombros
dele.
É
sabido que o papa tem como costume religioso a defesa dos princípios e das
crenças católicas, diante da implicação do dever de se espargir pela igreja os sentimentos
da moralidade, como forma da disseminação da conduta por meio da qual se fundam
as mensagens e os ensinamentos do cristianismo, como, por exemplo, a paz entre
os povos, a fraternidade, a caridade, a harmonia e o respeito, entre outros, que
são instrumentos e discursos que se opõem às desavenças, às guerras, às violências,
às situações de imoralidades, que não condizem com a pregação e as práticas do
cristianismo defendido pela instituição.
Sob
essa compreensão quanto à sustentação da moralidade, é de toda visibilidade que
não faz o menor sentido que o papa se digne receber, em audiência, líder
político que se encontra na condição de condenado à prisão pela prática dos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e ainda respondendo a seis
processos penais, também com o indicativo de outros tantos crimes cuja autoria
é atribuída a ele, estando em precária situação que em nada se recomendaria o
seu encontro com alguém que deveria se conscientizar de que a Igreja Católica
não ganha nada em se solidarizar-se com pessoa que se encontra com a ficha
muito suja, em estado deplorável ante os princípios religiosos.
À
toda evidência, a presença do petista na sede da Igreja Católica somente
contribui para denegrir a imagem da instituição e mostrar a patente insensibilidade
do seu comandante, que não atinou para o perigo que isso representa em desrespeito
aos ensinamentos de moralidade difundidos por ela, quando criminoso é acolhido
e recebido de braços abertos por ele, dando a entender que político é pessoa
cumpridora de seus deveres como cidadão que tem a ficha imaculada perante a
sociedade e o mundo.
Trata-se,
na verdade, de pessoa que, por insustentável representação moral, há de
contribuir por inevitável divisão dentro da Igreja Católica, porque é muito provável
que surjam religiosos de alta atribuição na Cúria Romana, para alerta o Santo
Pontífice de que a audiência em causa contrariou frontalmente os dogmas, os
princípios e os manuais de boas condutas pelos quais precisam seguir as
autoridades eclesiásticas dessa instituição, em especial quanto ao reconhecimento
de que a moralidade é princípio que não pode ser ignorado no âmbito da igreja,
como o fez, nesse caso, o papa, ao receber, com sorriso aberto, pessoa
enquadrada e condenada por atos contrários à moralidade, nos termos dos
veredictos exarados pela Justiça brasileira.
Não
há a menor dúvida de que fica a lamentável lição de que o papa poderia ter
evitado a questionável audiência, tendo em conta que não há absolutamente nada
que sirva como justificativa para que ele pudesse se reunir com cidadão que encontra
com a moral fragilizada, em razão das condenações e dos processos penais que correm
na Justiça brasileira contra a pessoa dele, fatos que somente conspiram contra
o seu recebimento pelo líder máximo da Igreja Católica, que perde respeito
perante seu rebanho, que não pode abonar atitude incompatível com os princípios
e ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo, que primam pela preservação intransigente
da moralidade sobre quaisquer interesses estranhos à instituição católica
milenar.
Brasília,
em 13 de fevereiro de 2020
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