quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Verdade em vertigem


O mencionado jornalista afirmou que “deu muita risada” com o filme, por entender que a história contada no documentários é “mentirosa” e que a diretora dele é uma “menina querendo agradar a mamãe”.
Ele afirmou exatamente o seguinte: “É um filme de uma menina dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos da esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica. Foram os maus do mercado, essa gente feia, homens brancos que nos machucaram e nos tiraram do poder, porque o PT sempre foi maravilhoso e o Lula é incrível”.
Por seu turno, em momentos coincidentes, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República rebateu críticas feitas pela diretora ao governo, tendo exibido vídeo no qual afirmava que, por conta de uma entrevista dela à TV norte-americana, a cineasta seria “antibrasileira”.
Pelo Tweet, a ex-presidente da República petista fez os seguintes comentários: “Como se não bastasse a grosseria misógina e sexista de Bial contra Petra Costa, ao chamá-la de menina insegura em busca de aprovação dos pais, a candidata brasileira ao Oscar com o filme Democracia em Vertigem foi vítima de intolerável agressão oficial do governo Bolsonaro. A Secretaria de Comunicação da Presidência exibiu um vídeo, feito com dinheiro público, para ofender uma artista brasileira apenas porque exerceu o inalienável direito de criticar o governo numa rede de TV. Trata-se de censura e de brutal desrespeito à liberdade de expressão. Petra foi até serena na escolha das palavras, ao dizer uma pequena parte do que os brasileiros e o mundo já sabem: o Brasil é governado por um machista, racista, homofóbico, inimigo da cultura, apoiador de ditaduras, da tortura e da violência policial, e amigo de milicianos. Petra Costa foi chamada de mentirosa por dizer a verdade que o mundo conhece sobre a maneira como o governo trata o meio ambiente: a Amazônia está sendo devastada pela leniência de Bolsonaro com o desmatamento e com as invasões, e pelo seu profundo desrespeito pelos indígenas. O insulto mais grave da Secom a Petra Costa foi acusá-la de militante antiBrasil no exterior. Isto é não só mentira, como também uma inversão absoluta da realidade. Não há em nosso país ninguém mais anti-Brasil e mais pernicioso à nossa imagem no exterior do que Bolsonaro.”.
Embora o filme Democracia em Vertigem tivesse por cerne o impeachment da presidente de então, ele desmerece sua real finalidade, por focar em primeiro plano à figura do ex-presidente da República petista, desde a sua abertura até o seu desfecho, mostrando e tentando documentar, de forma ambiciosa e abrangente, não apenas e propriamente a queda da então presidente, mas sim a história política do caudilho petista, que aparece focada como sendo ele o personagem central do filme e verdadeiro protagonista.
          O ex-presidente é retratado e narrado desde os primeiros passos políticos como metalúrgico no ABC paulista até a sua prisão, em consequência das investigações promovidas pela Operação Lava-Jato, tendo por finalidade mostrá-lo como símbolo da ascensão da classe trabalhadora ao poder, indo até os limites da política conciliatória no cenário político nacional.
Embora o filme tenha por tema fatos históricos, ele apenas pincela situações que realmente podem até ter acontecido, conforme a narrativa, mas elas não refletem precisamente “verdade histórica”, mesmo porque a sua autora quis mandar o holofote que domina para o lado que melhor reflete a ideologia encarnada nas suas verve e sabedoria de autêntica militante que pretendia o resultado do seu documentário, sob a sua visão que certamente não seria contado de maneira diferenciada do seu pensamento, que não reflete, obviamente, a verdade dos fatos.
O diretora deixa claro, no filme, o seu verdadeiro entendimento sobre o que seja democracia, ao afirmar a sua melancolia diante do sonho da revolução política, que jamais aconteceu, impondo como principal motivo, segundo ela, a “nossa dificuldade em encontrar forças para lutar contra vozes antidemocráticas.”, dando a entender, com isso, que quem não integrar a esquerda não é democrata.
Mas, enfim, que democracia é essa em que os governos da esquerda protagonizam verdadeira esculhambação em nome da patifaria, com o emprego sistemático do desvio de recursos públicos, a exemplo do mensalão e petrolão, patrocinados por eles, conforme apontam os resultados das investigações, e ainda na forma de má gestão de orçamentos públicos, como no caso das famigeradas “pedaladas fiscais”, cujas irregularidades não foram sequer mencionadas nesse festejado documentário, nem mesmo an passant, o que bem demonstra que realmente o filme foi feito sob encomenda, para tão somente enaltecerem as qualidades dos os “heróis” da esquerda, sem necessidade de serem mostrados os fatos melancólicos e degradantes que eles protagonizaram e que são verdadeiros, inegáveis.
A diretora do documentário em causa fez questão de inserir no filme leituras poéticas sobre o ex-presidente, como a de que "Ele é um escultor cujo material é a argila humana", aproveitando para mostrar entrevistas bem-sucedidas e fatos que contribuem para elevar a imagem do líder a patamar bem elevado, de modo que o seu endeusamento tenha o condão de fazê-lo passar por ano-luz das acusações que pesam sobre os ombros de criminoso duplamente condenado à prisão pela Justiça e ainda sendo réu respondendo por seis processos penais, sob a acusação da prática de vários crimes contra a sociedade e a administração pública, por ter, possivelmente, se beneficiado de propina,  segundo as fortes denúncias constantes das ações penais, fatos que evidenciam transparente dissonância com os princípios ético e moral que os verdadeiros homens públicos são obrigados a observar, na trajetória da sua vida pública.
Todo cidadão, à luz dos princípios democráticos, tem o direito de se manifestar da melhor forma que lhe aprouver, inclusive de filmar e documentar o que bem entender, na forma que melhor lhe convier, como nesse caso, em que a história teria que ser narrada estritamente sob o prisma dos fatos relacionados à vitimização, à inverdade, à injustiça e tudo o mais que tivesse como pano de fundo o sentimento de frustração muito desconfortante da perda do poder, dando a entender assim por parte de gente que nada fez para merecer tão brutal golpe protagonizado precisamente por pessoas antidemocrática, evidentemente  na visão da cineasta, que deixou de ter condescendência com a prática do que ela chama de democracia, que simplesmente levou o Brasil ao abismo e à bancarrota, conforme mostram os fatos verdadeiros da história real.   
É preciso se reconhecer que o filme em apreço é fiel à história da esquerda que sabiamente faz tudo para enaltecer as suas qualidades, que são as mais puras e incensuráveis e que seria contrassenso se um de seus integrantes fizesse uma fita e denunciasse as próprias falcatruas e ainda as reconhecendo como deslize contra a sociedade, como no caso clássico do mensalão e petrolão, que ninguém da esquerda os reconhece como sendo obra magistral da inteligência, concepção e execução petista, embora a Justiça já sacramentou, em alto e bom som, como sendo os maiores escândalos da história republicana brasileira, que envergonhou o Brasil e o mundo.
A impressão que deixa transparecer é que o filme sintetiza tentativa de propaganda político-partidária, na visão de quem se alimenta da seiva ideológica do PT, o que vale dizer que nem poderia ser diferente, quando a diretora do documentário é militante petista de carteirinha, o que justifica a omissão de fatos históricos relevantes, onde fica muito patente a ideia de que, por exemplo, no impeachment, teria havido perseguição política, quando todos os procedimentos, além da motivação,  transcorreram estritamente sob o rito da constitucionalidade devidamente respaldado pelo Supremo Tribunal Federal, que negou todos os recursos opostos pela então presidente contra o processo pertinente, o que demonstrou o devido respeito ao ordenamento jurídico pátrio.
À toda evidência, só o fato de a diretora do filme ser conclusiva em considerar democratas somente os esquerdistas, fica patente não apenas a sua indiscutível ignorância política, mas, em especial, o seu desrespeito aos demais brasileiros que têm outra visão do que seja a verdadeira democracia, que não compactua, em hipótese alguma, com desvio de recursos públicos para, por exemplo, o financiamento de campanhas eleitorais, com a finalidade de se perpetuar no poder, porque isso se trata de desonestidade e imoralidade, contrárias aos princípios republicano e democrático.
Convém que seja dito que não se trata de absolutamente nada contra a defesa da esquerda, porque isso faz parte do jogo democrático, mas a leitura que pode ser feita do documentário é que ele não trata dos fatos históricos com a devida seriedade, por ser visível a omissão de acontecimentos e fatos importantes da vida política do próprio PT, que estão visceralmente entrelaçados com ele, a exemplo dos escândalos do mensalão e petrolão, porque isso já se incorporou aos anais da história brasileira e eles não podem ser jogados para debaixo do tapete, como ridícula tentativa de se tapar o sol com a peneira, como fazem normalmente quem sente vertigem diante da verdade.
É preciso que seja reconhecido o valor do filme intitulado “Democracia em Vertigem”, como peça estritamente artística e cinematográfica, que versa fatos da vida particular de partido político, à luz da concepção da sua diretora, que pode ter mostrado o melhor de seus conhecimentos, que são elogiados por uns e contestados por outros e isso faz parte da democracia moderna, mas ele não pode refletir a verdade histórica da política brasileira.
O que não se pode negar é que omissões propositais, na visão de especialistas políticos, expõem o lado nefasto da democracia, quando se esconde a verdade e procura somente enaltecer qualidades que nem são todas plausíveis, dando a entender o verdadeiro sentido da obra cinematográfica, fato este que contribui para jogar lama pútrida na ideologia da esquerda, pela tentativa de se negar à opinião pública, intencionalmente, fatos óbvios e relevantes, que precisam ser assumidos por quem se julgam exclusivos democratas, embora não tendo a dignidade de assumir seus erros perante a sociedade.
Brasília, em 11 de fevereiro de 2020

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