sábado, 8 de fevereiro de 2020

Respeito faz bem

As palavras do ministro foram exatamente as seguintes: “O funcionalismo teve aumento 50% acima da inflação. Além disso, tem estabilidade na carreira e aposentadoria generosa. O hospedeiro está morrendo, o cara (servidor) virou um parasita. O dinheiro não chega no povo e ele (servidor) quer reajuste automático.”.
Percebendo a repercussão desastrosa dessa declaração, o Ministério da Economia não tardou para emitir nota, na qual esclarece que as declarações do ministro tinham sido “tiradas e contexto” e que o ministro “reconhece a elevada qualidade do quadro de servidores”.
Ao mesmo tempo, a pasta esclarece que o ministro defendia a importância da reforma administrativa, que será enviada semana que vem pelo governo ao Congresso Nacional.
A nota diz que “O ministro defendeu uma reforma administrativa que corrija distorções sem tirar direitos constitucionais dos atuais servidores. O ministro lamenta profundamente que sua fala tenha sido retirada de contexto pela imprensa, desviando o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão”.
Sobre a declaração do ministro, uma servidora disse que “Ele deveria conhecer os fatos. Eu tenho 37 anos de profissão e as carências no setor são muitas. O funcionário muitas vezes ajuda o paciente com o salário dele. Generalizar é fácil, mas a realidade é outra.”.
Outra servidora, que é enfermeira do Inca, “também se disse indignidade com  declaração, mas não surpresa.”.
Segundo ela, “o clima no hospital em que trabalha é tenso por conta da desvalorização da categoria. Temos uma carga de trabalho muito pesada. Pessoas morrendo por conta da lentidão do Sistema Nacional de Regulação. A gente se dedica de verdade e cumpre a carga horária. Escutar isso é um desrespeito.”.
É evidente que, diante do petardo detonado pelo ministro contra os servidores extremamente mal pagos, à uniformidade, as justificativas vindas depois, em forma de retratação, não foram suficientes para reduzir a indignação do funcionalismo público, que, em muitos estados, principalmente no Norte e Nordeste, o nível salarial não é suficiente para se viver com a necessária dignidade de quem trabalha para servir ao público, com as devidas competência e eficiência,  notadamente no que se refere à categoria de professores, fato este que demonstra insensibilidade e total desconhecimento sobre as dificuldades enfrentadas por todas as categorias dos servidores públicos.
Ao que se tem conhecimento, a maioria das categorias dos servidores públicos do país ganha remuneração de fome, em média, R$ 2 mil mensais, muito aquém da suas responsabilidades funcionais, diante da sua importância para a sociedade.
Não há a menor dúvida de que as declarações do ministro da Economia foram absolutamente ofensivas e desnecessárias contra categorias de servidores essenciais à sociedade, que depende delas para a satisfação das suas necessidades da competência do Estado, que precisa entender que a má remuneração pode contribuir para a péssima prestação dos serviços públicos, diante da falta de estímulo, que se torna natural quando se ganha aquém dos compromissos de pai ou mãe de família.
Na verdade, a sociedade não pode prescindir do servidor público, porque ele tem importância fundamental na garantia da efetividade das políticas públicas.
O ministro foi extremamente agressivo aos servidores dos estados em crise financeira, não somente porque eles jamais são parasitas e muito menos se aposentam com proventos generosos, em razão de não ganharem tanto para a incorporação milionária na inatividade, fatos estes que revelam total indelicadeza por parte daquela autoridade, que precisa medir as palavras para os seus pronunciamentos não agredirem indevidamente ninguém, muito menos classe de trabalhadores que merecem todo respeito.
Em síntese, as críticas do ministro da Economia precisam sim ser repudiadas pelos brasileiros, principalmente porque elas são despropositadas, injustas e extremamente desrespeitosas às categorias de servidores públicos que merecem os melhores dos tratamentos e da consideração das autoridades públicas e da sociedade em geral, diante da sua relevância para a eficiência da prestação dos serviços da competência do Estado, que não consegue desincumbir-se deles sem a participação do funcionalismo, que precisa ser valorizado e respeitado quanto às suas dignidade e importância funcionais.
Brasília, em 8 de fevereiro de 2020

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